Capítulo Trinta e sete. - Os dois?

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— Eu não acredito nisso! — Eva disse eufórica.

Estamos sentadas em uma área isolada da quadra. Resolvi contar tudo a ela, afinal, ela sempre me ouvia falar de Brad quando Dylan não estava por perto, por isso achei justo que ela soubesse.

— Nem eu consigo acreditar em tudo isso, nem parece ser real.

— Eu não imaginava que ele sempre gostou de você.

— Nem eu.

— Bom, agora podemos te considerar uma garota comprometida!

— Não, não podemos.

Ela franziu as sombrancelhas, provavelmente sem entender o que eu queria dizer.

— Tem uma coisa que eu não te contei. Preciso que prometa guardar segredo.

— Eu prometo.

Era difícil falar aquilo em voz alta. Nunca se passou pela minha cabeça que algum dia isso aconteceria, que um dia eu ficaria em dúvida sobre os meus sentimentos por conta de Dylan. E além de tudo, Eva tinha razão, eu realmente sentia algo a mais por ele, e eu não gostava de quando ela estava certa. Suspirei antes de prosseguir.

— A um tempo atrás descobri que Dylan sempre foi apaixonado por mim, e por isso ele se afastou.

— Isso era meio óbvio, gatinha.

Parece que realmente eu era a única que não enxergava.

— Mas você gosta dele? — ela pareceu receosa ao perguntar. — Não falo por mal.

— Aí que está o problema. Pensei a minha vida inteira que seria impossível gostar de duas pessoas. Que não era provável duas pessoas dividirem um espaço em um só coração. Mas olhe pra mim... estou prestes a adimitir a mim mesma que estava enganada, que é possível gostar de duas pessoas ao mesmo tempo. Que é possível não saber com quem eu quero ficar.

Ela acariciou o meu braço, me apoiando.

— Eu sempre fui obcecada pelo Brad, porque sempre tive o Dylan ao meu lado, mas depois que ele foi embora... fiquei sem rumo. E quando ele voltou, foi horrível o fato de ele não me querer por perto, fiquei devastada. E sem perceber, comecei a sentir coisas estranhas por ele. Comecei a me sentir atraída...

— Porque você gosta dele!

— Com o Brad tudo fica mais leve. Toda vez que ele sorri, tenho vontade de sorrir também. Toda vez que ele me elogia sinto o meu corpo entrar em erupção. É algo mágico estar perto dele. Eu poderia ficar perto dele pra sempre.

— E o que você pretende fazer?

— Não sei o que fazer, acho que gosto dos dois...

— Fica com os dois, bobinha!

Não contive uma risada.

— Não pode ser assim, Eva!

— Séria tão mais fácil se pudesse...

— A minha irmã me aconselhou a conversar com o Brad, explicar a situação e pedir um tempo para descobrir o que sinto por Dylan.

— Fez isso?

— Não exatamente. Não tive coragem.

— Te entendo.

— Sou uma pessoa horrível, não sou?

— Você é uma pessoa indecisa, isso sim!

A nossa conversa foi interrompida pelo som do sinal da escola, e entendemos que já estava na hora de voltar pra sala.

— Esses intervalos voam como o vento!
— minha amiga disse emburrada.

— Faltam quatro dias para as férias, não se preocupe.

Ela levantou as mãos para o céu, em agradecimento, e ri de seu exagero.

Os professores não estão dando muitos assuntos nessa semana que antecede as férias. Todos já estão exaustos dessa rotina escolar, por isso precisamos de um descanso.

Nos largaram uma aula mais cedo, o professor de biologia ficou doente e não pode comparecer na escola. Sei que parece errado, mas fico feliz por chegar mais cedo em casa.

Vou ter que ir sozinha, já que Brad não está aqui para me acompanhar. Dylan sempre some depois da aula, e além disso, ele não me acompanharia e eu não o julgo por isso.

Quando estava prestes a atravessar a rua senti alguém cutucar o meu ombro, me virei, percebendo que era Thalita.

O que ela quer comigo? Não é possível que ela vá me chamar para outra festa. Quem dá duas festas na mesma semana?!

— Oi, Hannah, posso falar com você um segundo?

— Claro.

Ela pediu para que eu a acompanhasse até a praça alí perto, lugar onde não seríamos interrompidas.

O que ela quer comigo?

Nunca fomos amigas, e ela nunca foi de puxar conversa comigo. Estou completamente perdida.

— Sobre o que quer conversar? — falei assim que chegamos no local.

— Não quero parecer indelicada, mas não vejo outra forma de iniciar está conversa.

— Ok...

— Eu gosto do Dylan, gosto muito. Mas temo que não seja algo recíproco por sua causa.

— O que quer dizer?

— Ele nutre sentimentos por você, e por isso não consegue se abrir para mais ninguém. Me desculpe a expressão, mas ele age como se fosse o seu cachorrinho. Não importa quantas vezes você o machuque, ele sempre estará lá por você, mesmo que ele tente evitar. Não quero ser grosseira, mas peço que se afaste dele. Ele não vai conseguir seguir em frente até que liberte-o.

Ri sem humor.

— Como pode me pedir uma coisa dessas?!

— Você não percebe que o machuca? Ele se destrói cada vez mais quando fala com você. Todos sabem que o que ele sente não é recíproco, então, pra quê insiste nisso? Gosta de o estraçalhar?!

— Eu o amo, sempre amei. E nas vezes em que o machuquei não foi proposital. Eu nunca machucaria o Dylan, não de propósito!

— Se você realmente o ama, como diz, então liberte-o. Liberte-o para amar e ser amado na mesma intensidade, porque é isso o que ele merece. Ele não merece que uma garota indecisa brinque com o seu coração!

— É isso o que você pensa de mim, que estou brincando com os sentimentos dele?

— Não é isso o que você fez a vida toda?

— Vai à merda, Thalita!

Me virei e saí andando rapidamente, nunca estive tão indignada.

— Ele é bom demais pra você! — ela gritou antes que eu saísse do seu campo de visão.

Talvez ela realmente esteja certa, ele é bom demais pra mim.


NÃO ERA VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora