Luísa sempre foi uma pessoa dos bastidores. Além de trabalhar por trás das câmeras envolvida em entrevistas, coletivas de imprensa e zonas mistas, também é alguém invisível.
Acostumada a não ser vista, a garota desconta todas as suas frustrações em...
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——— 📚🪄 NARRAÇÃO : LUÍSA LIMA 🏟️~× ALLIANZ PARQUE, SP ——— 29 de junho de 2023.
Porque eu nunca consigo dizer não?
Principalmente se for para o Denis, se ele me pedisse pra dar um jeito no buraco da camada de ozônio eu não conseguiria dizer não, e ainda faria de tudo pra resolver o problema. E é óbvio que ele sabe, é exatamente por isso que fica me pedindo pra tapar buraco das outras funcionárias.
Não que eu não goste do meu trabalho. Na maioria das vezes eu me divirto organizando salas de imprensa e lendo perguntas idiotas pensadas por setoristas, mas fazer isso fora da minha zona de conforto é o que me pega.
É minha primeira vez num estádio em São Paulo. Quer dizer, eu estive aqui antes numa partida contra o Botafogo algum tempo atrás, mas é diferente agora. É jogo de Libertadores e o time precisava vencer.
Pelas conversas soltas que escutei nos corredores que dão acesso ao campo, os jogadores do Palmeiras tinham encarado esse duelo como um jogo de ida e volta. Eles perderam o primeiro jogo para o Bolivar e ganharam esse de 4 a 0. Saíram vencedores.
Agora eu tô aqui, me misturando no meio de um monte de gente, num corredor amontoado de homens, tentando passar despercebida até chegar em Carina, a gerente responsável que vai me dizer o que fazer.
—Finalmente! — Carina grita assim que me encontra, me arrastando até um local mais vazio — Deus, quanta testosterona num único lugar. — Respira fundo.
Eu pisco algumas vezes, sem saber o que comentar. Ela se abana com as mãos quando um dos jogadores passa, sem camisa e com um sorriso de orelha a orelha. Os dois trocam um olhar.
—Era o Raphael Veiga? — Franzi o cenho.
—Eu espero que essa olhada signifique que ele vai me comer mais tarde — Carina solta uma risada enquanto eu pisco os olhos sentindo minhas bochechas esquentarem — Vai ter zona mista no final, você já analisou todas as perguntas? Qual eu te entreguei? A do Veiga? Se foi, vamos trocar.
—Não. Você me entregou... — Abri a pasta e ajeitei o óculos sobre o nariz — Piquerez.
—Perfeito. Só preciso que você não deixe nenhum engraçadinho fazer perguntas pessoais, parece que ele e o Veiga saíram em sites de fofoca esses dias e a equipe deles pediram pra gente se atentar nisso. Tranquilo pra você?
Meu Deus. Não.
Eles querem que eu fique fazendo a segurança do cara na área mista, o que significa ter um monte de câmeras mostrando meu rosto em todos os canais de esportes possíveis. Isso me apavora. Não gosto de atenção e câmeras significavam exatamente isso.
—Claro — Murmurei como resposta, assistindo ela me mostrar um sorriso e se afastar.
