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Capítulo cento e dezessete: Não sei viver sem você.

Por: Andrew DeLuca.

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Por que nosso corpo nos pesa tanto e nos consome em dor aguda, enquanto todas as outras coisas descansam desse cansaço? Todas as coisas descansam; por que nos esforçaríamos? Por que daríamos um choro perpétuo, doloroso ou imprudente?

(Canção dos comedores de lótus - II estrofe)

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"Há aqui uma doce música, suavizando a queda das pétalas de rosa na relva, ou o orvalho da noite que brilha na água parada entre as escuras paredes de granito; É uma música que torna mais doce o que está no espírito, mais suave as pálpebras cansadas sobre os olhos cansados; uma música que nos traz o doce sonho que vem dos céus abençoados. Há aqui um musgo frio e profundo e, entre o musgo, a hera crepita; e nos riachos as flores com longas pétalas choram e na borda íngreme da rocha a papoula fica adormecida..."

O que seria categorizado como tortura psicológica? É pior torturar alguém ou se torturar? Ouvia Meredith recitando a canção dos comedores de lótus, ela sempre falava que eu sabia muitos poemas e frases de livros, mas ela sabia recitar aquilo sem errar nada, ouvi sua voz atrás da porta a abri devagar e vi Meredith deitada na cama, estava de olhos fechados, as roupinhas que comprei estavam espalhadas ao seu lado, caminhei devagar deixando os meus sapatos no caminho, e deitei atrás dela abraçando seu corpo, só então ela me notou, ouvi o seu suspiro de alívio, abracei mais seu corpo e senti ela relaxar aos poucos.

- senti sua falta.

- eu também - ela sussurrou - como foi seu dia?

- horrível, não teve nada pra fazer na editora, fui reler rascunhos.

- que pena.

- já comeu?

- não, tô sem fome...

- o que achar de irmos até a cidade? Comer no seu restaurante favorito?

- outro dia.

Respira fundo Andrew, respira e não fala merda.

- já conseguiu alguém pra ajudar?

- Aurora disse que dá conta - Meredith virou na cama e deitou a cabeça em meu peito.

- conversaram?

- não, ela perguntou algo, falei que precisaria de alguém pra ajudar, ela disse que não precisava, a cirurgia não foi tão complicada, é só descanso e evitar carregar peso, evitar escadas, então é só ficar no quarto e pronto - aquela deve ter sido a frase mais longa que ela pronunciou nos últimos dias.

- escreveu? - perguntei mesmo sabendo a resposta.

- não, eu apaguei o que tinha pronto - Meredith falou aquilo como se não fosse nada de mais.

- por que faria isso?

- porque tava uma merda, não vou insistir em algo que não está bom...

Me afastei devagar para a olhar nos olhos, Meredith estava se deixando ser consumida pela dor, ela não estava nem tentando lutar.

- Meredith?

- não quero conversar sobre isso.

- você não quer conversar sobre nada - me afastei mais e levantei da cama - não fala do acidente, não fala do bebê, não fala do livro... Não sei como ajudar - não queria estar gritando com ela, mas não conseguia evitar, tentei ignorar, tentei ser compreensivo, estava tentando.

Love story IIOnde histórias criam vida. Descubra agora