P.O.V Lucas
Estacionei o carro de frente a mansão. Sirilo, que estava no lado do passageiro, desceu do carro, visivelmente irritado, batendo a porta com bastante força. Ele pouco havia falado durante todo o trajeto. Parece que ele estava perturbando os Spencer e para não ser detido, o Benjamin Spencer decidiu ligar para mim, e sem que o Jonathan desconfiasse fui pegá-lo, quanto menos problemas melhor para sobrevivência dessa família. Desci igualmente e fui atrás dele. Ele quase derrubou a porta do próprio quarto e chutou algumas coisas que estavam no chão. Parecia como se todo o progresso que ele havia feito até agora com a internação e a terapia se tivessem desvanecido por completo.
— Quer conversar sobre o que aconteceu? — perguntei gentilmente assim que entrei no quarto dele, cruzando os braços e o encarando atentamente.
— Eu simplesmente não consigo aceitar isso, Lucas! Como o Oliver pôde me fazer isso? Eu sou visivelmente muito mais merecedor de ficar com ele do que o Kelvin, isso é óbvio. Você sabe o que eu sinto por ele. — andando de um lado para o outro ele argumentou.
— Sim, eu sei. Mas talvez eles realmente tenham resolvido suas diferenças. Veja, Sirilo, eu entendo que você esteja chateado por Oliver ter decidido voltar com o Kelvin, mas você sabe que isso era o mais provável de acontecer dadas as circunstâncias, você precisa se acalmar, e focar na tua recuperação.
— Você não entende, Lucas! — passando a mão no rosto ele me interrompeu — Eu e o Oliver fomos destinados a estar juntos. Eu sou muito melhor para ele do que qualquer outra pessoa, ainda mais aquele idiota sem graça do Kelvin.
— Sirilo, não é direito falar assim de alguém. Além disso, não cabe a nós decidir quem merece ficar com Oliver. Você precisa se acalmar. Não é saudável ficar assim tão obcecado pelo Oliver.
— Obcecado? Eu?
— Sim. Acho que já deu essa história, não acha?
— Não Lucas, estou apenas sendo realista. Sou muito mais merecedor do amor do Oliver que esse tal de Kelvin. Já olhou para mim? Eu sou o efeito furacão mais irresistível dessa ilha inteira, nenhum garoto consegue viver sem mim, eu sou como o ar pra todos eles, e o Oliver não é diferente, só não consegue enxergar agora por conta da raiva, mas acabará por se dar conta. O que aquele balofo tem de especial, me diz?
— Isso é realmente importante? O amor não é uma competição, Sirilo. Oliver tem o direito de escolher com quem ele quer ficar.
— Mas é o que eu estou dizendo, eu sou a única escolha certa que ele pode escolher! Eu fiz tanto por ele! Me sacrifiquei tanto por ele! Abri mão de muita coisa por ele! O meu próprio pai não fala comigo por causa dele! Era o mínimo que eu merecia, depois de tudo. — ele disse com tanta naturalidade e uma convicção absurda, como se realmente cresse em cada palavra, e confesso que fiquei um pouco assustado.
— Sirilo, talvez seja melhor procurarmos alguém para conversar sobre isso. Um psicoterapeuta talvez...
— Eu não preciso disso agora, Lucas. Do que realmente preciso é fazer o Oliver enxergar a verdade que ele se nega a enxergar. Eu fiz um favor a ele separando-o daquele idiota! Ele deveria estar me agradecendo por livrá-lo de alguém tão insignificante, que nunca chegou aos pés dele, e apreciar o fato de ser amado por alguém como eu – bonito, gostoso, irresistível e o melhor de tudo, famoso mundialmente! Portanto, preciso pensar, se você não se importa, quero ficar sozinho agora.
Ele me pediu, ainda caminhando de um lado para o outro, totalmente transtornado. Eu fiquei o observando por alguns segundos. Ele estava tão deslocado e tão fora da realidade em seus argumentos que me deixou seriamente preocupado. Eu pude enxergar pela primeira vez o quanto realmente esse menino estava perturbado e precisava de algum tipo de ajuda psíquica com urgência. Sem dizer absolutamente nada, apenas assenti e deixei o sozinho, saindo do quarto. Dirigi meus passos até ao escritório, de lá, me sentei de frente ao computador, liguei para a terapeuta dele. Após descrever detalhadamente a situação, ela me deu uma avaliação prévia do que realmente estava acontecendo com Sirilo.
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Bem Me Quer Mal Me Quer
Teen FictionOliver Spencer é um adolescente estadunidense de dezesseis anos, abertamente gay, que muda-se com os pais para uma ilha fictícia na América do Sul chamada Ilha Dourada. Relutante, Oliver foi obrigado a deixar seus amigos, sua vida e principalmente s...