P.O.V. Oliver
O som do toque soou alto, anunciando finalmente a hora de saída. Aria e eu saímos da sala juntos, como velhos amigos de infância, nos demos tão bem, a cumplicidade entre a gente foi tão surreal que acabamos trocando números para WhatsApp, sem falar que nos adicionamos e nos seguimos em todas as redes sociais que tínhamos em comum e prometemos nos manter em contato até fora da sala de aula. É eu sei, minha pose de durão antissocial fajuta não durou nem um minuto, mas fazer o quê? Para quem não queria ter envolvimento com ninguém, muito menos ter amigos, a Aria acabou se revelando uma surpresa boa até de mais.
Assim que saímos do colégio, um carro de luxo com direito a motorista estava esperando por Aria, na verdade a maioria dos alunos aqui eram uns frescos, ou tinham o seu próprio carro ou tinham um motorista particular pra levá-los de regresso a casa, ao contrário de mim, que precisava regressar de ônibus, debaixo de um sol ardente do meio dia e um calor dos infernos. Meu pai era o único que tinha um carro aqui e ele não tinha como vir me buscar na escola todos os dias por causa do trabalho dele, a distância e tal, então, não tinha outra opção mesmo a não ser voltar a casa de ônibus.
Me despedi da Aria e segui para o ponto de ônibus. Meu pai havia feito um pequeno mapa pra mim com todos os pontos de referencia que eu precisava saber até chegar a minha paragem, para que eu não me perdesse. Sim, ele se preocupa muito comigo e acaba exagerando as vezes, mas eu não ligo, até que gosto disso. Segui o mapa do meu pai a risca e por mais louco que pudesse parecer eu consegui chegar até a casa sem problemas. O bairro não era dos mais nobres da cidade mas também não era nenhum subúrbio. Era simplesmente um bairro de classe média. Do ponto de ônibus eu precisei caminhar alguns quarteirões debaixo de sol ardente até chegar a casa.
— Ursinho na toca! — gritei para minha mãe assim que entrei em casa, para ela saber que cheguei, depositando minhas chaves num cômodo.
É uma espécie de ritual meio louco de família que os meus pais adotaram desde que eu era um moleque, sempre que um de nós retornasse a casa deveria gritar "urso na toca", avisando, assim saberíamos que estava tudo bem com a pessoa.
— Estou na cozinha bebê! — gritou dona Stephanie Spencer, vulgo minha mãe, da cozinha.
Ainda com a minha mochila nas costas, caminhei até a cozinha e avistei minha mãe toda atrapalhada com as panelas no fogão preparando o almoço.
— Oi Sra. Stephanie. — cumprimentei-a, aproximando-me dela e dando-lhe um beijinho no rosto.
— Oi meu bebê ursinho. Chegou cedo. — ela observou enquanto mexia numa panela a ferver.
— Talvez por ser princípio do ano. Nossa, que cheirinho bom. — eu argumentei tentando xeretar as panelas, o cheiro estava tão gostoso que deu vontade de provar e assim eu quis fazer.
— Tire essas mãos delicadas e fofinhas da minha panela meu menino! — repreendeu-me ela severamente batendo na minha mão.
— Ai! Que maldade. Fique sabendo que agressão física contra menor é crime aqui também! — eu reclamei me fazendo de vítima, me afastando do balcão da cozinha — A senhora vai convidar o quarteirão inteiro por acaso? Tem noção de que somos apenas os dois no almoço certo?
— O fato de estarmos só os dois não nos impede de comer bem, você não acha? — disse ela em resposta enquanto terminava de misturar alguns temperos a panela — Mas conta pra mamãe. Como foi teu primeiro dia de aula na escola nova?
— Foi diferente. — respondi sem muito entusiasmo, me apoiando do lado da pia de braços cruzados ainda com a mochila nas costas.
— Diferente como? Do tipo legal ou do modo esquisito? — ela perguntou enquanto picava a cebola.
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Bem Me Quer Mal Me Quer
Teen FictionOliver Spencer é um adolescente estadunidense de dezesseis anos, abertamente gay, que muda-se com os pais para uma ilha fictícia na América do Sul chamada Ilha Dourada. Relutante, Oliver foi obrigado a deixar seus amigos, sua vida e principalmente s...