A Aposta

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Terça-feira, 17 de Fevereiro

O dia amanheceu quente como o inferno, fora dos limites da casa claro, porque dentro era só na base do ar condicionado, se não seria a morte por desidratação na certa, eu não sei por quanto tempo mais eu aguentaria com tanto calor que essa cidade faz. Após preparar-me, desci as escadas às pressas, não havia tempo nem pra tomar o café da manhã porque para além de ainda ser quase de madrugada, meu pai precisava me deixar na escola antes dele seguir para o trabalho, portanto, quanto mais cedo partíssemos melhor seria para ele. Tá, na realidade era apenas seis da manhã, mas eu tive que me levantar as cinco.

A viagem da casa para escola foi rápida sem muito trânsito e eu havia chegado mais cedo do que a maioria dos alunos. Me despedi do meu pai e fiquei por momentos ali parado, passando os dedos polegares entre as alça da mochila, olhando para o estacionamento praticamente vazio, essa rotina se continuar desse jeito irá acabar comigo, sério. Com meu novo cartão eletrônico de estudante que chegou ontem em casa, destravei o portão de entrada do estacionamento, para maior segurança dos alunos o senhor Collinwood optou por usar esse tipo de serviço tecnológico, claro que havia também seguranças que mantinham a ordem funcional. Caminhei pelo vasto pátio completamente vazio aquela hora e me dirigi  até minha nova sala, onde me sentei na carteira e aproveitei para tirar um pequeno cochilo, já que normalmente as aulas só começariam as oito horas.

Despertei com o toque das mãos de alguém que afagava meus cabelos encaracolados e bagunçados. Ainda sonolento ergui meu rosto para encarar a pessoa que estava na carteira de frente porém virada para trás, me encarando com um sorriso simpático, com uma cabeleira encaracolada bem longa e farta, com aqueles olhos verdes inconfundíveis que mais pareciam o florescer da primavera.

— Bom dia dorminhoco. — ela me saúda, enquanto passa a mão no meu cabelo carinhosamente e olha para mim com um largo sorriso.

A sala já estava cheia de alunos, é, pelos vistos dormi bastante.

— Bom dia. — respondi retribuindo o sorriso, com uma voz meio grogue, apoiando o queixo por cima das mãos para encará-la, sob a mochila que servia como travesseiro.

— O que faz na escola tão cedo? — Aria perguntou, também imitando minha posição, me encarando fixamente nos olhos.

— É o preço que tenho que pagar por aproveitar a carona com o meu pai. — respondi, ainda com a voz meio grogue, esfregando os olhos com as mãos lentamente em seguida, soltando um bocejo coberto com a mão.

— Que chato isso.

— É, bastante chato mesmo. Mas pelo vistos é o único jeito de conseguir chegar a escola a tempo e poupar algum dinheiro com transporte público, então, estou aceitando de boa. — acrescentei ainda na mesma posição olhando nos olhos verdes de Aria, que estava apoiada na mesma posição também e na mesma carteira, bem próxima do meu rosto.

— Você é um garoto incrível, sabia?

— Ah, para vai. — eu sorri bastante envergonhado, eu não sei lidar muito bem com elogios.

Ficamos conversando ali sentados por um bom tempo sobre coisas bem aleatórias, até o sinal tocar e começar a primeira aula.

Na hora do intervalo maior, Aria e eu saímos juntos, aproveitamos para ir ao refeitório comer alguma coisinha gostosa, eu estava realmente morrendo de fome. Sentamos na mesma mesa afastada do dia anterior e comemos tranquilamente. Assim que terminamos chegou o tal Carlos, aquele amigo de infância da Aria, o neguinho bonitão de olhos azuis, ele chamou-a para conversarem sobre algo que eu não fazia ideia e logo se afastaram, mas não tanto. Eu queria aproveitar aquele momento para checar as redes sociais ou fazer uma selfie para enviar ao Kelvin, quando do nada senta alguém na mesa, e adivinhem só de quem se tratava o sujeito? Pois é, acertou quem disse Sirilo carrapato Avallon, que garoto chato.

Bem Me Quer Mal Me QuerOnde histórias criam vida. Descubra agora