O Primeiro Dia De Aula

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Cidade de Saint Louis, Ilha Dourada
Dia 16 de Fevereiro, Segunda-feira
Manhã

Mudar de cidade nunca foi uma decisão fácil, quanto mais mudar de país, principalmente quando você é um adolescente, menor de idade e dependente dos pais, você é obrigado a seguir o barco onde quer que vá. Ter que se desfazer da rotina habitual e abrir mão de uma vida toda repleta de grandes amizades conquistadas é bastante doloroso, principalmente quando uma dessas amizades deixadas se trata do amor da sua vida. Se dependesse de mim, obviamente eu optaria por ficar em San Francisco, perto de tudo aquilo que eu conheço e amo, como por exemplo o Kelvin e todos os meus amigos, porém, ao mesmo tempo eu não posso pensar só em mim, esse emprego é uma oportunidade imperdível para o meu pai, ser reconhecido como um perfumista renomado, vendo sua marca de perfume vendendo no mundo todo sempre foi o maior sonho dele e a perfumaria Avallon é uma das mais importantes do segmento e pode proporcionar essa possibilidade pra ele, fazê-lo perder uma oportunidade dessa magnitude só por causa dos meus problemas seria muito egoísmo de minha parte, sem contar que eu estaria sendo um mau filho. Meu pai sempre me deu muita força a vida toda e sempre apoiou todas as minhas decisões, então o máximo que eu poderia fazer por ele nesse momento era apoiá-lo também.

— Está tudo bem amigão? — meu pai me perguntou, me analisando atentamente enquanto tentava manter o controle no volante do carro, me despertando dos meus devaneios.

— Sim, não se preocupe. Estou de boa. — respondi seriamente, tentei passar firmeza nas palavras, mas nem eu mesmo acreditava naquela resposta e me conhecendo da forma como meu pai me conhecia, tenho certeza que ele também percebeu.

Por mais que eu tentasse esconder minha dor e tristeza interior para não fazer o meu pai se sentir mal por ter me forçado a fazer essa viagem e ficar longe do meu namorado e dos meus amigos, estava sendo difícil me controlar e o pior é que o meu percebia isso.

— Tem certeza? — ele insistiu, alternando o olhar entre a estrada e em mim enquanto dirigia.

Eu poderia jurar que naquele momento ele esperava que eu me abrisse e confessasse o quanto eu estava infeliz, mas fazendo isso eu acabaria com o sonho da vida dele, porque tenho absoluta certeza que ele faria a gente regressar aos Estados Unidos no mesmo instante e isso é tudo que eu menos quero. Doía muito ver nele aquele olhar de culpa toda vez que ele olhava pra mim, por ter que me ver sofrer por algo que ele sonhou a vida inteira.

— Absoluta pai, pode ficar tranquilo. — respondi esboçando um sorriso forçado, para mostrar pra ele que estava tudo bem, após apoiar a cabeça nos vidros e manter um olhar perdido na vista das casas e aquilo pareceu não convencer o meu pai nem um pouco.

Estávamos a caminho da escola nova. Hoje é o meu primeiro dia de aula numa escola particular chamada Collinwood, uma instituição de elite que só é frequentado por mauricinhos e patricinhas, aposto. Para falar a verdade, eu não tinha muita paciência pra encarar essa nova fase, e o pior de tudo é o fato de ter que repetir o segundo ano do secundário do princípio, sendo que nos Estados Unidos eu já estava quase na metade do primeiro semestre. Essa ilha segue um sistema de ensino bem diferente, aqui as aulas começam de Fevereiro à Outubro do mesmo ano. A América do Sul é bastante diferente dos Estados Unidos, principalmente essa ilha, não digo apenas pelas estações do ano, aqui está um verão ensolarado e nos Estados Unidos deixamos um inverno de rachar, o que eu quero dizer é que, aqui era tudo esquisito para mim, embora tivesse a praia que se assemelhava de San Francisco e tudo mais, mas ainda assim era estranho estar aqui porque na realidade, essa cidade não é o meu lar.

O silêncio no carro durante todo o trajeto foi incômodo, eu não queria por hipótese alguma ficar mal com meu pai por causa disso, visto que a nossa relação sempre foi bastante próxima, mas a essa altura já não tinha muito o que fazer, então preferi deixar quieto, até que finalmente chegamos ao dito cujo colégio Collinwood. Foi só eu e o meu pai colocarmos nossos pés para fora do carro que todos os olhares voltaram-se para nós, foi algo assim, quase que surreal, era como se todos soubessem que éramos estrangeiros, não sei se era a forma de vestir ou se eles eram só estranhos mesmo. Fomos até a diretoria, meu pai tratou dos últimos trâmites que faltavam para minha transferência total à Collinwood, fazia parte do contrato dele estudar nessa escola, uma regalia que o dono da perfumaria oferecia aos funcionários. Com tudo tratado, o meu pai seguiu para o trabalho e o diretor fez questão de mostra-me pessoalmente a minha turma. Estava um professor na sala de aula, o diretor teve que interrompê-lo para anunciar minha chegada.

Bem Me Quer Mal Me QuerOnde histórias criam vida. Descubra agora