LONG NIGHT ☾ [Dick Grayson • Nightwing]

00. Prólogo

Não fazia o menor sentido.
Bruno me explicou pela quinta vez e eu me recusava a acreditar. Isso não pode ser real. Não podia.

— Agora você entende o porquê da carta do papai? — A expressão dele suplicava para que eu o olhasse nos olhos e dissesse que sim, que compreendia todas aquelas informações que foram jogadas na minha cara nas últimas 24 horas.

Não, eu não entendia. Parecia que a minha vida inteira foi uma grande mentira. 24 anos de pura farsa. Minha família havia escondido muitos segredos de mim pelo simples fato de eu ter escolhido meu próprio caminho bem longe deles.

Realmente, não éramos uma família com a relação mais saudável do mundo. Meus pais tinham o próprio mundo fechado desde que se conheceram. Dois grandes cientistas que possuíam um sonho em comum: tornar o mundo um lugar melhor. Eles cuidavam tanto do mundo inteiro que muitas vezes esqueciam de cuidar da própria casa, dos próprios filhos. Então, desde criança, eu nunca entendi muito bem que mundo melhor era esse. Ou talvez, quando o mundo estivesse nesse melhor, prestariam atenção em nós.

— Jenni? — Meu irmão balançava meus ombros ainda aguardando uma resposta.

— Eu odeio tudo isso. E quero mais é que se foda toda essa merda! — Tirei as suas mãos mim e me levantei tão rápido que Bruno desequilibrou um pouco para trás.

Com certeza eu estava vermelha de raiva, podia sentir o sangue subindo pelo meu pescoço. Poderia ser o cansaço, a decepção, as 24 horas acordada, o aperto no peito, o nó na garganta. Poderia ser uma combinação de tudo, mas quando me dei conta, já tinha feito.

Com uma rapidez e força tão inesperada, derrubei todos os computadores, tablets, dispositivos e tudo o que mais estivesse na mesa à nossa frente. Só queria que aquilo fosse um grande pesadelo ou uma grande mentira e, se eu destruísse tudo, nada seria real.

Bruno ficou imóvel, ainda sentado, olhando para o chão e o estrago que eu tinha acabado de fazer. Em seus olhos havia angústia e muita frustação.

— Eu sinto muito. — Foi tudo o que ele conseguiu dizer em meio a voz embargada.

— Eu sinto mais ainda. Muito mais. Você não ficou de fora dos planos deles. Sabia de tudo e mesmo assim nunca me contou. — Minhas mãos tremiam, pareciam totalmente sem forças, mas a minha vontade era de destruir aquela sala inteira. — Isso já faz um ano. Faz um ano que eles se foram, Bruno. Eu tinha o direito de saber.

— Você tem razão, não vou dizer o contrário — Bruno se levantou ficando de frente para mim e me olhando nos olhos. Éramos tão parecidos e tão diferentes ao mesmo tempo. — Mas você merecia ter o que nós três nunca tivemos, uma vida normal. Você era e é a esperança deles, Jenni. Você é a minha esperança.

Não aguentava mais aquilo, precisava sair e tomar um ar. Talvez nunca mais olhar na cara do meu irmão e tentar esquecer tudo. E mesmo assim, por que isso parecia tão egoísta da minha parte? Por que eu sentia que deveria ceder e ajudá-lo no pedido mais absurdo que já ouvi em toda a minha vida?

— Bruno, isso é loucura. Eu não consigo entender. — Olhava para baixo, fitando as minhas mãos trêmulas. – Como eu conseguiria salvar o mundo?

— Eu ainda não sei, mas se você confiar em mim, tenho certeza de que acharemos um jeito. – Ele pegou as minhas mãos na tentativa falha de acalmá-las. — Acredito que nossos pais não deixaram essas instruções em vão, eles sabiam o que ia acontecer.

Levantei o olhar para ver o rosto de Bruno, mas não conseguia olhar diretamente em seus olhos com a raiva e tristeza que eu ainda estava sentindo. Minha visão logo foi desviada para a tela de um dos dispositivos que se encontrava no chão graças ao meu surto, mostrando a hora, o dia e o local onde estávamos.

18h34.
3 de agosto.
Washington D.C. – NASA
Terra 00.

Havia outras versões de mim, da minha família, dos meus amigos, em outro universo completamente diferente do meu. Meus pais poderiam estar vivos em alguma outra realidade distante da minha.

Isso é loucura. Parece mentira. O multiverso realmente existe.