revolta | part I /53/

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"Suas cicatrizes não é sua vergonha, elas são sua história."

Num lampejo amargo, pensando na possível rejeição de Poppy, e na nossa foda no box

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Num lampejo amargo, pensando na possível rejeição de Poppy, e na nossa foda no box. Penso que o sentimento predominante no momento foi o desejo ligado à energia do ritual junto com a abstinência de sexo. Minha esposa não está em processo de aceitação, muito pelo contrário, o medo erradia da sua pele. Mesmo tendo ciência do que ela passou, eu sei que o passado dela não anula os erros cometidos.

Desço da cama e saio do quarto pisando firme, a respiração curta, sou enforcado com a insegurança. Isso mesmo, estou inseguro. Em algum dia já me senti assim? Posso afirmar que não lembro de uma época em quê o desconforto e a fraqueza fizeram morada em minha mente. Acredito que essa misturada de injustiça e nojo só me dominou há muito tempo atrás, quando Edwin estava vivo e soberano, mas nada chega perto dessa miserável consternação.

Levo a adaga manchada com o nosso sangue de volta para o armário do meu quarto, visto uma blusa e uma calça jeans, depois saio trancando a porta e desço as escadas para o primeiro andar, entro na sala de estar escura com portas de mogno segurando em mãos o laptop e o smartphone, marcho em direção a grande mesa de Carvalho central.

A luz clara e acinzentada do meio da tarde está encoberta pelas grossas cortinas. As luminárias, fixadas nas estantes e na parede apainelada, são a única fonte de luz iluminando os sofás de couro preto da espaçosa sala. 
Agora sentado em frente a grande mesa, observo com tensão as estantes, tapeçarias, e a lareira apagada que fica abaixo do enorme espelho vitoriano. Tudo ao redor tem o peso do passado sombrio, e como sempre, vejo-me sobrecarregado com tudo que aconteceu desde que a conheci.

Inquieto, coloco o laptop sobre a mesa, e levanto da cadeira indo em direção ao pequeno bar anexo ao cômodo. Angustiado, passo os dedos várias vezes entre os meus fios desgrenhados e sento no banco giratório, querendo engolir esse bolo de fúria que cresce na minha garganta.

Parece que a nossa briga de mais cedo aconteceu há semanas atrás. Tudo ficou inclinado e deturpado após tantas revelações.

O peso sobre meus ombros já aliviou bastante, mesmo sentindo meu peito comprimido e meus lábios tensos, decido enfrentar o caos e a dor maligna de rever os vídeos. As imagens que recebi são poderosamente destruidoras para qualquer senso de sanidade.
Sirvo-me de uma garrafa de wisky, e com as pernas pesadas volto a mesa, enfrentado a dor excruciante.

Abro meu MacBook e entro nos arquivos de vídeos, aperto o play, e deixo a tortura rolar. Sei que meu objetivo é procurar por uma pista, um vestígio sequer que me leve a esse maldito Fargus. Porém, não importa o quão frio, intransigente e cruel eu seja, não tem como manter o muro de insensibilidade que forjei em meu interior por muito tempo, tudo desmorona já nos primeiros segundos do vídeo. Por mais que eu queira futuramente esquecer, sei que ficará gravado e imortalizado na minha memória.

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