um novo coração /49/

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Estou enlouquecendo?

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Estou enlouquecendo?

Eu tenho medo deste lugar; isso não é nenhuma novidade e, passando a maior parte do dia sozinha, esse medo tende a consumir meus pensamentos. Não é por menos, a arquitetura sombria é predominantemente gótica.

Está mais que decidido, esse lugar me causa arrepios!

Nos corredores com pé direito alto, vejo pinturas excêntricas, assustadoras como natureza morta, sorrisos tristonhos, faces frias e contorcidas; não há nada remotamente alegre ao ponto de me empolgar. Meu maior medo é perder o controle de novo; meus cabelos curtos são uma lembrança constante de que eu não posso cometer novamente esse erro, seria meu fim! Entretanto, este forte, até mesmo esta ampla biblioteca escura onde estou agora, repleta de estantes pretas que vão do chão de carvalho escuro até o teto abobadado, os grandes candelabros góticos que iluminam as alas, me fazem ter essa sensação de que o tempo está se esgotando.

Outro dia, conversando com Dale, perguntei por que esse lugar se difere dos demais castelos que ele possui; ele apenas respondeu que nesse local os Macay desfrutavam de momentos diferentes, e as Motas, estruturas defensivas também conhecidas como torres fortificadas, eram onde sua família zelava por seus objetivos.

Não entendi muito bem, mas depois refletindo sobre o assunto e relendo aquele diário, certas coisas começaram a se encaixar. O medo surge outra vez, e balanço a cabeça querendo dispersar tal sensação.

Me espreguiço na poltrona de espaldar alto, que está em frente à escrivaninha no centro da biblioteca, da qual tenho certeza ser local de estudos do meu marido, pois há um belo retrato dele olhando para o horizonte cinzento em uma das muralhas altas da fortaleza. O estandarte real da Escócia parece tremulante ao vento na foto. Pois é, até a bandeira amarela de bordas vermelhas e um leão rampante da mesma cor me faz pensar nele. Vez ou outra, pego-me encarando-o ali; alto é imponente, e penso novamente no diário daquela criança.

É... Não quero pensar nisso. Não vá por aí, Poppy!

Tento não me distrair, volto para meus croquis, e são muitos. Meus dedos estão doloridos de tanto desenhar Kilts para meu leão. Pensei em fazer alguns inspirados em Appa e Samchon, mas ao lembrar que Dale poderia reconhecê-los, me fez desistir rapidamente da ideia. Gostaria de voltar ao tempo, ao menos quando trabalhava nos meus vestidos com Isla. Bebo um gole do chocolate quente que uma criada havia me servido, e a única coisa audível além das minhas doses homeopáticas de açúcar são o ruído do lápis no papel.

Afastar... Meus pensamentos... Para... Não... Enlouquecer...

Mais um golezinho do chocolate quente, glup glup, mais um ruído no papel... E até mesmo esse ruído traz lembranças que nem sempre são tão boas.

Lembranças que eu nem sequer pensava ter perdido, e agora quase sempre surgem na minha cabeça acompanhadas por déjà vu! Esses dias, depois de um banho, Dale me vestiu com um lindo vestido rosa salmão, recordei de uma peça de roupa do mesmo tom que ganhei no meu aniversário de 15 anos! Era um kimono, bem diferente, mas foi o suficiente para essa lembrança ressurgir. Sim, eu me lembro do meu aniversário; appa queria fazer uma festa, uma grande celebração, mas eu não estava preparada, então Samchon deu a ideia de comemorarmos entre nós três, em casa, com direito a cinema e tudo.

LAST of DARKNESS  |  ÚLTIMA DAS TREVAS 🔞Onde histórias criam vida. Descubra agora