Pérola Hernandes
Tentei vir o mais simples possível, e Bernardo também, mas isso é impossível quando seu irmão tem uma Porsche. Cada pessoa que a gente passava na rua olhava o carro, e quando estacionamos no endereço que Vera me mandou, foi pior. Todas as pessoas da festa olharam.
— Mas que porra, eu disse para você vir com o carro do papai.
— Olha, eu que não ia andar em um carro popular — ele fez uma voz de pessoa esnobe. Eu confesso que achei engraçado.
— Sinceramente, Bernardo, não fode. Fala com todo mundo, seja gentil.
— Eu sempre sou, vamos? — ele abriu a sua porta e saiu, e depois eu fiz o mesmo. Entramos e logo os olhares vieram, e os cochichos também, mas graças a Deus Vera veio até nós.
— Que bom que vieram — ela me abraçou e depois Bernardo. — Estão lindos, vem, vamos levar o seu presente, carro muito bonito, sobrinho.
— Muito obrigada, tia. Quando quiser dar uma volta.
— Eu com certeza vou querer, vem, venham falar com a avó de vocês. — Ela nos levou até uma senhora que estava rodeada de pessoas, e sorria para todos. Quando nos viu, sua expressão não mudou e ela veio até nós.
— Vocês estão lindos, Vera disse que viriam, mas eu não acreditei. Meu Deus, como cresceram — ela nos abraçou em conjunto. — Só Deus sabe o quanto pedi por esse momento. Deus seja louvado. — Confesso que me emocionei. Não tenho muitas lembranças daqui, mas dá para sentir quando as pessoas gostam de você. — Vocês já almoçaram?
— Ainda não, vó — Bernardo respondeu.
— Que lindo, vocês me chamando assim. Venham comer a comida da vovó.
Bernardo Hernandes
Confesso que tentei interagir, mas o pessoal daqui é bem mais fechado. Conheci o Tiago; disse que andava de skate, e ele se amarrou, confesso que ele e bem bonito um preto retinto, sabe? não e mais bonito que eu, mas da pro gasto o mais legal dos meus primos pelo visto.
— Mas você é um playboy, não é?
— Não diria playboy, meu pai que tem dinheiro.
— Todo mundo que é playba fala isso — eu ri sem graça. Odiava quando me chamavam assim, mas relevei.
— Mas e você, irmão, trabalha? — ele pegou um baseado do bolso e acendeu, no meio do quintal mesmo, as pessoas pareciam não se importar. Ai se meu pai estivesse aqui.
— Trabalho, mas em coisas ilegais. — Já saquei as coisas ilegais. — Mas e você?
— Eu quero ser advogado, igual meu pai.
— Seu pai é advogado e vocês têm essa vida?
— Ele tem uma companhia, tem vários advogados que trabalham para ele — o cheiro começou a me seduzir. Não usava há um tempinho, mas meu corpo amava um trago.
— Quer tragar?
— Não, tô dirigindo, mas valeu. Quem sabe da próxima.
— Você pilota uma nave, mas por que seu pai te deu uma Porsche? — ele parecia curioso; era engraçado.
— Fiz 22 anos recentemente, e queria um presente foda, e ele me deu o carro.
— Caralho, seu pai é um santo. — Soltei um riso de canto; era engraçado o jeito que ele falava, era muito verdadeiro.
— Passe seu contato para mim, precisamos de um rolê. — Ele passou o contato e de quebra o Insta. Comecei a segui-lo e adicionei seu contato.
{....}
— Viva a dona Ana!!! — Tia Vera era de uma luz incrível, e sua mãe também. Cortaram o bolo, e já eram quase dez da noite. Tia Vera fez questão de cortar um pedaço para o meu pai; achei muito fofo.
— Certeza que já vão? Tá cedo ainda.
— Meu irmão vai trabalhar cedo amanhã, mas aparecemos qualquer dia, não se preocupe.
— Eu vou esperar vocês. — Saímos de lá, cumprimentando geral. Quando saímos, estava Tiago e o resto dos primos. Um me chamou atenção: "Marcos". Ele me olhava com deboche e ironia. Pelo que percebi, ele era filho da Vera. Pérola entrou, e eu bati a porta, dei a volta, e aí o idiota fez questão de berrar.
— Papai compra a sua Porsche nova. — E um bando de retardado rindo junto. Eu juro que não ia retrucar, mas a minha masculinidade falou mais alto.
— Eu sou advogado, seu idiota. Se você quiser, te tiro da condicional e te ajudo a tirar essa pulseira do pé. — Ele sorriu debochado, mas não dei a mínima; entrei no meu carro.
— Eles são legais, né? — Pérola dizia animada. As meninas gostaram dela.
— Muito.