Pérola Hernandes
Uma hora antes
Estava quase pegando no sono, mas um som altíssimo de caminhão me fez acordar. Caminhei até a janela e percebi que ele estava na frente de casa. Meu pai e a querida mamãe estavam descarregando algumas coisas, não eram muitas, e Bernardo cantarolava no seu quarto. Queria entender o que estava acontecendo, então bati no seu quarto algumas vezes, e ele, com um sorriso lindo no rosto, começou a entender.
-O que está acontecendo?
-Mamãe vai morar aqui
-O que? Quem decidiu isso?
-Papai.
-E uma pegadinha? - Olhei no fundo dos seus olhos castanhos escuros, e ali percebi que aquilo era tudo menos uma pegadinha ou mentira. - E ninguém pensou em me comunicar? Eu moro aqui de enfeite?
-Papai resolveu isso à tarde, fui avisado pouco tempo depois.
-Mas pelo menos você foi. - Fiquei refletindo para ver se tinha realmente entendido o que estava acontecendo. E tudo piorou quando eles entraram pela porta. Ber saiu correndo nas escadas. E a voz irritante de Caroline começou a aparecer.
-Nossa mãe, estamos muito felizes que veio morar aqui.
-Obrigada, meu amor. Fico feliz dos meus filhos estarem felizes. - Virei todo o meu corpo até a escada, pois só tinha três pessoas felizes aqui, e eu definitivamente não era uma delas.
-Seu filho está feliz, eu não estou nem um pouco. Se tivesse sido comunicada sobre isso, talvez fingiria melhor.
-Não precisa disso, meu amor. - Meu pai vinha até mim, cautelosamente subindo os degraus que ainda faltavam, que eram poucos. Tinha descido mais que a metade.
-Fala sério, vocês são uma piada ambulante; uma mãe fugitiva e um pai e um filho carentes. Sinceramente, eu preferiria que você nunca tivesse voltado. - Eu olhava no fundo dos seus olhos, não queria nunca cortar contato.
-JÁ CHEGA! - Meu pai, como não era de costume, explodiu e virou um pimentão. - AGORA QUE SOMOS UMA FAMÍLIA, VOCÊ FAZ ESSE SHOW?
-SHOW?? - Disse no mesmo tom de voz e desci os últimos degraus ficando muito perto dele. - Pra mim, tia Larissa sempre completava essa família, nunca precisei dessa mulher, e nunca vou precisar. Por mim, ela sumida ou não, dá na mesma merda.
-Você é uma ingrata mesmo. - Agora era vez do bebê chorão. - Sempre quer atenção pra você, vai se fuder. - Ele subiu as escadas, pisando forte. Mas antes que ele subisse por completo, gritei para que todos ouvissem.
-Já que eu sou uma ingrata, eu quero que todos vocês se fodam. Principalmente você, sua ratasana. - Já estava perto o suficiente para sentir sua respiração, então disse em alto e bom tom. - Eu quero que você se foda, sua cretina do caralho. - Minha pele ardia; ela tinha me dado um tapa, e apesar de ter doído pra caramba, me mantive forte. - Vou ser o seu pesadelo enquanto morar aqui, eu te odeio. - Saí de casa e bati a porta forte. Sentei na viga da calçada e liguei para a gatinha, que veio rápido. E acho que assim que me viu naquele estado se arrependeu de ter vindo de moto.
Maria Eduarda Alves
O seu estado era de cortar o coração. Ela soluçava de chorar, seu corpo todo tremia e sua bochecha tinha um vermelho aparente; ela não falava nada, só se agarrava cada vez mais em mim.
-Vamos para minha casa, pode ser? Quando amanhecer, vemos o que fazemos. - Ela apenas concordou com a cabeça. Ela foi bem na moto, mas me segurava forte e ainda chorava.
-Eu não quero atrapalhar,posso ligar pra tia Larissa.
-Vou cuidar da minha namorada agora,pode ser?amanhã a gente da um jeito. Quer aguá?-Ela fez que sim com a cabeça.-Amor, pode subir. Melhor descançar,jaja subo. -Coloquei poucas gotas de calmante; ela estava tão agitada e estava com tanto medo de sua mãe que não tinha outro jeito, ela precisava dormir. E funcionou, mas eu não consegui. Meu celular começou a tocar; Bernardo.
"Fala aí, Dudinha. Tá suave?"
Sua voz estava cansada e rouca, sinal que ele estava chorando.
''Tudo sim, e você?"
"Suave, na moral; Pérola está com você?"
"Está sim."
"Graças a Deus."
"Ela não avisou vocês?"
"Não, história longa; pede pra ela te contar, mas que bom que está tudo bem. Até mais, Mariazinha."
Minha cabeça a milhão, minha namorada apagada de calmante do meu lado. Mas não podia fumar no mesmo cômodo que ela; então saí de casa e fui para a calçada, o vento gelado e a fumaça quente da maconha se complementavam. Minha mente, que antes não parava de pensar, agora estava anestesiada, e podia pensar melhor sobre a situação; que não era nada boa.