Perola Hernandes
— Dona Ana caprichou. — Estávamos comendo macarrão ao alho e óleo; uma comida simples, porém Dona Ana tinha mãos de fada e isso parecia comida de um salão muito chique.
— Caprichou mesmo, fala sério.
— Vou buscar uma coisa para a gente poder comemorar. — Ele se levantou e foi até o escritório dele, voltou com uma garrafa de vinho. — Essa safra é de mil novecentos e oitenta.
— Pra que isso?
— Minha menina está virando uma mulher, amanhã terá seu próprio negócio e sua empresa. Estou muito orgulhoso de você. — Ele se serviu, e depois colocou no meu copo; não tanto quanto o dele, mas um tanto bom.
— Eu sou de menor ainda, senhor Nelson.
— Vai me prender?
— Talvez. — Ele sorria, fazia tempo que não jantávamos juntos; em paz, em amor.
— Um brinde a você. — Ele levantou nossos copos e brindamos; senti que a partir daquele momento, outro ciclo se abriria; com novas oportunidades e novos caminhos para seguir.
Depois de comermos, lavamos a louça; a secamos, meu pai subiu primeiro, e eu fiquei lá embaixo no meio de duas caixas de roupa de Caroline e na estante da sala uma foto de quando ela ainda estava grávida de mim; Bernardo sorria muito com o seu carrinho vermelho, meu pai tinha o mesmo sorriso. Minha mãe não sorria tanto quanto eles, mas a sua felicidade era evidente.
Depois de tudo que houve a anos atrás, meu pai nunca tirou essa foto da estante; dizia que era a foto do dia mais feliz da sua vida; quando descobriu que era uma menina que viria. E que esse foi a maior bênção que ele já pôde receber na vida.
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Maria Eduarda Alves
Acordei às cinco da manhã, cedo pra caramba; mas tinha que ir até o ceasa buscar legumes para minha mãe, fazia isso todos os dias. Então não era nada fora da rotina, quando cheguei em casa duas horas depois, minha mãe estava tomando café e Helena estava pronta; o que era novidade, ela não estava atrasada.
— Bom dia, lindezas, mãe o corretor vai no restaurante para você assinar os papéis da casa.
— Tudo bem, meu amor.
— Vou subir para tomar banho.
— Vá logo, não posso me atrasar. — Sim, minha mãe comprou a casa nova delas e sim, é no mesmo bairro que Perola, se eu não me engano na mesma rua; a casa foi bem cara, mas sinceramente vale o preço.
Tomei banho rapidinho, coloquei uma roupa mais larguinha, prendi o cabelo, coloquei um boné que combinasse e desci, comi uns pães de queijo e tomei um suco de laranja.
— Vamos, Maria. — Helena já estava na porta, que inferno.
— Vamos, até mais mãe.
— Até meninas.
Fomos até o carro, entramos e fomos direto para o salão, Helena foi calada o tempo todo o que me preocupou de certa forma; ela não calava a boca para nada e em nenhum lugar.
— Você está bem?
— Sim! Apenas nervosa.
— Vai dar tudo bem. — Peguei na sua mão e a beijei, nem dei conta mas já estávamos na frente do salão; Helena suspirou mas saiu do carro. Eu fiz o mesmo, Perola e Bernardo já estavam lá. Ela estava fabulosa, seu cabelo finalizado, sua maquiagem leve mais marcante, seu conjunto rosa combinando com o ambiente mais marcando todo o seu corpo; suas argolas e seu tênis estavam em sincronia; ela estava perfeita.
— Fala sério, você está linda. — Dei um selinho em sua boca, e depois a abracei. — Você é meu orgulho, meu amor eu a amo muito, você é tudo pra mim.
— Eu te amo mais, pode acreditar. — Ela selou nossos lábios, e só paramos pois Ber nos chamou a atenção "coçando" a garganta.
— Abrimos em uma hora, estou surtando. — Helena andava observando tudo, nenhum detalhe passava por ela.
— Está tudo perfeito. — Perola me olhou e depositou um beijo na minha bochecha; saiu do meu lado, mas não pude deixar de notar que Bernardo estava nervoso; estava fora do normal como se algo fosse explodir a qualquer momento, ele também estava estranho.