Capitulo 87

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Perola Hernandes


O silêncio no elevador era horrível. Bernardo estava furioso; eu não sentia nada além de vergonha e até mesmo medo, pois para mim, ela seria muito capaz de tudo isso.

-Quando paramos no seu andar, o 15º, para ser mais exata, que era a cobertura, batemos na porta e ela, sem perguntar quem era, abriu.

-Sabia que você viria, Nel,-disse ela, ao olhar nos nossos olhos e perceber quem realmente éramos, sua expressão mudou.

-Esperava nosso pai? Depois de tudo que fez?-Bernardo a encarava de cima a baixo, ele não tinha mais um olhar de admiração, que sempre nutriu por ela. Ela engoliu em seco, mas ainda surpresa, deu passagem para que passássemos. E assim fizemos.

-Estou surpresa com vocês aqui, houve algo?- Ela fechou a porta e virou-se para nós; Bernardo estava agitado e chorando muito também.

-A gente sabe de tudo," tomei voz, já que meu irmão apenas chorava. -Sabemos que estava presa e por quê. Eu só queria entender o porquê você e papai nos esconderam isso?

-É complicado. -ela colocou a mão na cabeça e a outra na barriga, estava nervosa.

-Não adianta fazer showzinho; não somos mais crianças, não tem como nos enganar.

-Menos, Bernardo. Mãe, nós só queremos a verdade; você provavelmente teve seus motivos e está tudo bem; nós só queremos saber a verdade.- Nesse ponto, a mulher em minha frente estava chorando e meu irmão não falava nada, o que já estava me incomodando.

-EU FUI INCONSEQUENTE, E EU SEI DISSO,-ela parecia soltar todo o seu ódio, rancor ou até mesmo medo com sua postura. -Os doze anos sem ver vocês foram os piores. Nelson me mandava fotos de vocês e trabalhos escolares.

-O NOSSO PAI TAMBÉM SABIA DESSA MERDA?-Bernardo arrancou as palavras da minha boca.

-QUEM VOCÊS ACHAM QUE FOI MEU ADVOGADO?"

-VOCÊS SÃO NOJENTOS, ESSES ANOS TODOS; NOS ENGANANDO. VOCÊ É UMA VAGABUND...-O estalo forte, minha mãe encheu a mão e deu um tapa na cara do meu irmão antes mesmo que ele pudesse terminar a frase.

-EU SOU A SUA MÃE, E VOCÊ NUNCA MAIS VAI ME CHAMAR ASSIM. ME OUVIU?-O dedo na cara de Bernardo o fez se irritar mais, ele foi saindo, mas antes de bater a porta forte, gritou:

-VAI SE FUDER, SUA VELHA ASSASSINA!!!-Caroline correu e o alcançou, a cena era Bernardo apanhando, como nunca tinha antes; ele aguentou calado, e quando ela parou, ele se levantou e saiu. Logo depois, ela se virou e me olhou.

-E você? Também me acha uma assassina?

-Teve seus motivos, não há condeno por isso; quem nunca errou? Quem não tem pecados? Não te julgo por isso.- Ela se aproximou e, sem motivos, me abraçou. Eu tinha todos os motivos para me afastar, mas retribuí; apesar de tudo, ela era minha mãe, e eu não podia odiá-la para sempre; na verdade, nunca a odiei. -Eu preciso ir, tchau. Peguei o elevador e desci. Ber estava na frente do carro me esperando, quando me viu, entrou no mesmo.

Fomos quietos o caminho todo, mas chegamos logo na casa da tia Vera; Eduarda estava fumando na frente; fui até ela e a beijei. O gosto da sua boca era amargo mas relaxante, a mão na minha cintura; a maneira como o beijo foi acabando e o selinho no final foram, sem dúvidas, a cereja do bolo.Peguei o beck dela e dei um trago, dei um gole em sua bebida. Peguei na sua mão e disse.

-A noite vai ser longa.

-Seu pai chegou, está lá dentro.Ele estava na reunião da empresa, por isso atrasou.

-Quando?

-Assim que saíram. Alias, aonde foram?

-A história é imensa. Podemos falar disso depois?"

-Podemos!- Ela me deu um selinho e, com as mãos entrelaçadas, entramos na casa da minha tia; meu pai com um de seus maiores sorrisos, e meu irmão com a pior cara que ele poderia ter; essa noite seria um terror.

vicianteOnde histórias criam vida. Descubra agora