Um mês depois
Perola Hernandes.
Esses últimos finais de semana foram incríveis. Eu e Duda sempre saindo, nos vendo, e é incrível a nossa conexão - até engraçada. O aniversário do meu pai está chegando e estamos planejando tudo. Ficamos mais próximos da Carol, mas não o suficiente para sermos íntimas. Ela é como alguém em reintegração; vem almoçar às vezes aqui. Tia Vera se aproximou muito; inclusive, neste final de semana, teremos um almoço no quintal.
-Aí, fala sério né, Bernardo, cuida da sua vida pelo amor de Deus.- Desci as escadas tentando fugir do meu irmão.
-Estou falando sério, olha, muita tesoura rasga a pele, você está até mais branca.
-Se toca, garoto. Mas enfim, o que você vai dar de presente pro papai?- Fomos nos sentar à mesa para tomar café, que, inclusive, estava uma delícia.
-Ele tem tudo, não sei o que dar.Estou pagando um cruzeiro pra gente, em dezembro, na semana do Natal e do Ano Novo.
-Eu te ajudo a pagar, paga a sua parte e a minha; e eu pago a da mãe e a do pai.- Ele disse com tanta normalidade que eu até concordei por um segundo, mas voltei para minha sanidade.
-Quem disse que ela vai? É uma viagem entre família.
-Depois de 13 anos, por favor, eu sei que a sua convivência com ela melhorou. Vamos, vai ser bom pra todos.-Eu preferi ficar em silêncio, não era um sim nem um não. Havia pedido pro meu pai separar meus documentos pra poder levar pra escola, vou me formar e eles pediram fotos e alguns documentos pra rescisão do contrato depois de seus longos quinze anos. Meu pai sempre foi um homem muito organizado, seu escritório e seu quarto eram a prova viva disso. Seu escritório tinha pastas, com nomes e tudo, achei a minha e a peguei. Tinha ultrassons, meu cordão umbilical, exame do pezinho e minhas fotos. Ele passava muito tempo aqui, bem provável que ficava horas vendo nossas fotos. Tinham muitas fotos espalhadas pelo escritório, retratando diferentes momentos da vida da família. Eu não resisti e comecei a folhear as fotos, revivendo memórias antigas. Havia fotos de viagens, festas de aniversário, eventos familiares e até mesmo aquelas fotos constrangedoras da infância.
Enquanto folheava, encontrei uma em que eu segurava um troféu, provavelmente de alguma competição escolar. Meu pai ficou orgulhoso quando ganhei esse troféu que ele ainda guardava mas na sala.