Helena Alves
Voltamos para casa, minha mãe estava cansada e eu e Duda precisávamos dormir; o caminho todo foi um silêncio terrível. Assim que chegamos em casa, fui direto tomar banho, e depois desci para comer algo; Eduarda fez o mesmo, mas ao invés de dormir, ela pegou as chaves do carro.
-Você já vai voltar, meu amor? - minha mãe gritou da cozinha, estava fazendo o café da manhã.
-Já sim, mãe.
-Espera o café.
-Como no hospital, ligo qualquer coisa.- Ela bateu a porta e saiu, minha mãe veio até o balcão e, com os olhos preocupados, suspirou e, em lágrimas, disse:
-Ela me chamou de mãe, você ouviu também?
-Eu ouvi. - Seu olhar era tão doce, o seu sonho era que Duda dissesse essa palavra mágica.
Maria Eduarda Alves
Estar no hospital era péssimo; e a comida de lá também. Mas a fome não chegava, Pérola já estava no quarto e lá estava ela, tia Larissa, dormindo na poltrona; não foi embora desde ontem. Minha pretinha estava com o cabelo raspado, uma fita sobre a cabeça, estava linda; peguei a sua mão e percebi que ela estava sem aliança; foi ali que meu mundo acabou, me apoiei no seu peito e comecei a chorar, e entre soluços precisava desabafar porque sabia que ela ouviria.
-Eu amo você, eu estava com medo, fala sério, a gente morando juntas. Mas nada justifica o que eu fiz, mas eu te prometo, assim que sairmos daqui, a gente se casa. Eu te prometo. - Beijei a sua testa e chorei mais, foi aí que uma mão veio até minhas costas e quando olhei para trás era tia Larissa.
-Não se culpe, meu amor, ela sabe que não foi sua culpa. Está tudo bem, okay? Não se culpe. - Ela me abraçou e eu chorei mais. Na real, acho que apenas precisava disso, um abraço.
Pedi para que ela fosse descansar, que eu ficaria aqui sem problemas; e ela foi, todos estavam descansando, mas eu estava aqui. Aproximei a poltrona da cama, segurei sua mão e então tudo começou a desaparecer ao meu redor, como se estivesse sendo sugado para dentro de um vórtice. Capotei, ainda segurando sua mão, enquanto o mundo ao meu redor se transformava em um borrão de cores e formas distorcidas.
Quando finalmente acordei, ela estava lá, deitada com os olhos abertos, seu olhar fixo em mim. Estranhei o silêncio do quarto e a tensão no ar. Então, de repente, ela começou a chorar e gritar, acusando-me de algo que não entendia.
-Saia daqui! Você que me colocou nessa situação, saia daqui" - Ela gritava, sua voz ecoando como um eco distante.
Confusa e assustada, comecei a correr, mas não importava para onde eu fosse, as ruas pareciam se transformar diante dos meus olhos, distorcendo-se e mudando de forma a cada passo que eu dava.
E então, quando pensei que finalmente havia escapado, um caminhão surgiu do nada e me atropelou. O impacto foi como um golpe de realidade, mas quando olhei para cima, vi o rosto dela olhando para mim, sua risada ecoando no ar como um eco sombrio.
E foi então que eu soube, enquanto a escuridão me envolvia, que tudo isso não passava de um sonho, um pesadelo terrível do qual eu finalmente estava acordando, e a voz de Helena foi o meu despertador.