Perola Hernandes
O salão teve um movimento muito bom hoje, mas amanhã não irei; até porque amanhã já é sexta e preciso arrumar o cabelo e fazer as coisinhas de noiva.
— Não acredito até agora que a Maria Eduarda vai casar!!! E com a minha melhor amiga. Estou sonhando ainda — estávamos fechando a porta do salão.
— Eu também não, inclusive você já viu o seu vestido?
— AAAA — ela saltitou e dava gritinhos — SIM, é verde como pediu, quer ver a foto?
— Lógico!
O vestido verde escuro, com corset e alça fina, e a abertura na coxa, caiu lindamente em sua pele escura.
— Você está uma deusa! — A abracei. — Muito obrigada, Lena, por nos apoiar.
— Que isso, amiga, achou mesmo que eu iria perder esse acontecimento? É claro que não. — Ela me beijou na bochecha. — Amanhã às sete da manhã no spa, né?
— Isso! — Esperamos cada uma o seu Uber, o dela chegou primeiro, mas não demorou muito para que o meu viesse também. Paguei o motorista e entrei em casa, que estava quieta comparado aos outros dias. — Pai??? — encostei a porta. — Bernardo!!! Tem alguém aí?
A porta do escritório abriu e de lá saíram meu pai, Bernardo e logo atrás, Carolyne, a mãe do ano.
— Posso saber o que é isso?
— Acho que você e a sua mãe precisam ficar sozinhas, vem, Bernardo. — Meu pai subiu com meu irmão e ficamos só nós duas.
— Vocês são muito inteligentes, nunca imaginei que descobririam.
— Não somos mais crianças, é difícil nos enganar. Mas fala aí, o que quer? — me sentei no sofá e ela se sentou na poltrona à minha frente.
— Eu vim dar tchau pra vocês. Semana que vem vou voltar pra cadeia. Minha condicional acabou, só vim me despedir — um nó se formou na minha garganta, apesar de ser tudo que eu queria ouvir dela; a verdade doía no fundo do meu coração.
— Que pena — minhas palavras eram verdadeiras, sentia pena dela. — Vou ir te visitar.
— Não!! Lá não é lugar nem pra você nem pro Bernardo. Só queria ver vocês antes de ir, é só mais 6 meses, já já acaba. — Ela suspirou e se levantou, indicando que iria embora. — Eu amo você, sabe disso, né? — Apenas fiz um sinal com a cabeça, afirmando. — Que bom!
Não sei o que me deu, mas eu a abracei mais forte do que podia; talvez esse seria meu último abraço nela, e eu precisava disso; para ir mais leve me casar daqui dois dias, para ter certeza de que nada me deixaria culpada no altar; então as lágrimas começaram a rolar.
— Eu amo você, mãe, te amo muito. — A abracei mais forte, iria sentir a sua falta e duas vezes mais, por todo o tempo que perdemos. Ela se afastou delicadamente, deu um beijo em minha bochecha e disse:
— Não precisa chorar, mamãe volta logo. — Eu não conseguia odiá-la, apesar de tudo, ela era minha mãe. E eu tinha que aceitar isso de qualquer jeito. Mas abraçá-la e poder vê-la era um alívio.
— Preciso ir, tá bom? — Ela se afastou, sorriu antes de ir e cruzou a porta, logo depois a bateu, sem olhar para trás e sem dizer um "tchau". Ela não sabia demonstrar seus sentimentos e isso poderia destruir qualquer pessoa.