Manual

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Antônio On:
Eu não vi Irene durante todo o dia. Não sei bem o por que mas, ela decidiu que faria todas as refeições no quarto e não desceria. Não acho que ela esteja passando mal. Mas, sei o quanto ela tem se empenhado em me evitar durante todos esses dias. Apesar de tudo, têm sido maravilhoso morar com ela. Olhar pra ela de novo. E não, não como antes. Não como um objeto decorativo, como já pensei que ela fosse. Mas, como a mulher que eu amo e por quem tenho sim, uma profunda admiração.

Irene On:
Eu e Antônio nos encaixamos perfeitamente. E dentro de mim, eu sempre soube que nosso encontro naquele bar, há mais de trinta anos, não foi um mero acaso. Eu posso não ser o amor da vida dele. Mas, ele é o meu. De todos os homens com quem já me relacionei, aquele homem, é o meu ponto fraco. O único a quem eu não consigo resistir. Sempre que estamos perto um do outro meu corpo queima. Queima como se estivesse em chamas. Eu tenho que fazer muita força pra não cair nos seus braços e ser novamente sua. Principalmente agora, que parte dele vive dentro de mim. E é por isso que eu tenho evitado tanto sair do quarto, depois de ter chamado por ele, desesperadamente no meio de um pesadelo.

- Aiii, que droga. Tentou se concentrar novamente, enquanto o homem a encarava pela greta da porta. Cadê o manual? Procurou por toda a cama.

Antônio On:
Ela é linda. Sempre foi. Mas, quando ela está com todas as atenções voltadas e concentradas em um objetivo específico, como agora, eu sou tomado por um sentimento maior que tudo. Algo que me faz apaixonar ainda mais por ela. Seus olhos, fixados. Sua boca, sempre bem desenhada e contornada. Seus cabelos, sempre perfeitos e alinhados. Sua barriga, que abriga mais uma vez um filho meu. Seu estilo, sempre impecável, como se fosse uma boneca. Sua postura de madame. Suas mãos, repletos pelos anéis de borboleta que eu sempre achei um charme. Irene me envolve. Me faz refém. É tudo. Tudo pra mim.

- Irene?! Chamou, enquanto batia na porta. Eu trouxe um lanche pra você. Tentou sorrir. Posso entrar?
- Ah, entra Antônio. Continuou concentrada. Obrigada. Agradeceu.
- O que cê tá fazendo, Irene? Tem papel por toda a parte. Encarou o quarto ao redor, enquanto lhe entregava a bandeja.
- Eu comprei um aparelho para ouvir os batimentos da bebê. Acho muito pouco ouvir o coração dela uma vez por mês, lá na clínica. Fico com saudade. Revelou, enquanto mordia o sanduíche natural. Mas, não consigo fazer funcionar de jeito nenhum. Demonstrou frustração. Acha que tá quebrado? Encarou o homem, que tentava fazer com que o aparelho se encaixasse e fizesse sentido.
- Não sei. Olhou. Perai que eu vou montar isso pra você. Ofereceu. Pode me passar o manual, por favor?
- Você? Montar? Encarou, com deboche, enquanto entregava as folhas. Cê nunca montou nada, Antônio... Desacreditou. Sempre pediu que alguém montasse tudo pra você. Tomou um pouco do suco de laranja.
- Não, senhora. Continuou concentrado. Você esqueceu que eu sou Agrônomo? Já montei tantas máquinas lá na empresa, muito mais complicadas que essa. Lembrou. Você vai ver como eu consigo fazer essa joça funcionar.
- Hummm... Essa eu quero ver. Se aproximou, curiosa, enquanto deixava o homem desconcertado. Tá conseguindo? O encarou, diretamente nos olhos, ansiosa.

Antônio On:
Ela quer me enlouquecer, se aproximando assim. Será que ela não sabe que o perfume que ela usa, combinado com a textura da pele dela, me deixa louco? Será que ela não sabe que estar assim, tão perto da boca dela me deixa com vontade de beijá-la? Ou, será que ela também quer, e por isso me provoca tanto? Continuo tentando me concentrar mas o que a sua presença me causa é forte demais. Meu corpo anseia por ela. E isso é muito mais incontrolável que qualquer coisa que eu já tenha sentido antes. Como eu poderia adivinhar que amava tanto assim essa mulher?

Irene On:
Eu admiro os esforços do Antônio. Ele parece realmente estar conseguindo montar o meu aparelho. E ver que ele se encontra assim, tão envolvido em algo pra mim, ou pra filha, me deixa feliz. Eu sei que se não estivesse em uma prisão domiciliar, jamais teria tanto tempo assim pra mim. Também sei que a correria do dia-a-dia sempre foi seu maior alimento. Sei o quanto ele deve estar entediado, dentro dessa casa, a qual ele quase não ficava há alguns meses. Mas, ainda assim, estou feliz por... Não notei que a nossa proximidade fosse tanta. Estamos a centímetros um do outro. Minha boca já pode quase tocar a dele. Nossas respirações descompensadas. Ó céus, dessa vez eu vou permitir que aconteça, não dá pra fugir. Estou tão envolvida que nem mesmo uma tempestade me tiraria daqui. Sua mão, no meu rosto. Fecho os olhos, buscando com sede esse beijo e me entrego.

- Mãe?! Pai?! A moça, interrompe o momento, encarando os pais. Eu tô atrapalhando alguma coisa? Fez com que se afastassem, bruscamente.

Antorene: The After Onde histórias criam vida. Descubra agora