Socorro

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§ 2 MESES DEPOIS §

[• Corumbá (MS), 2023 •]
Irene não pensou que os meses passassem tão rápido por aqui. Prestes a entrar no 4° mês de gestação, ainda se perguntava todas as noites, porque cargas d'água ainda pensava tanto em Antônio. E isso vinha com a lucidez de quem entendia a verdade mais cruel de todas: Jamais poderia voltar a Nova Primavera outra vez. Aquela vida, já não era mais a sua.
A vida em Corumbá não era ruim. Não depois que ela havia entrado de cabeça como sócia de uma agência de publicidades. Sim, Irene não era só Irene La Selva. Ela tinha uma formação. Quando se casou com Antônio, sabia que ele precisaria de alguém para fazer contato com clientes por todo o mundo e tornar sua marca grande. O homem era inteligente e visionário, mas, não era tão antenado nas tecnologias de comunicação e por isso, apoiou a esposa, que decidiu se formar em comunicação e marketing, fazendo do grupo La Selva, uma grande empresa de importação e exportação.
Na cidade onde nasceu, Irene jamais quis ficar atoa e viver do dinheiro que juntou ao longo dos anos. É que ficar parada, a fazia pensar em como sua vida havia virado de cabeça pra baixo de uma hora para outra. E isso a deixava triste.
A antiga casa de seus pais, agora era a casa mais bonita da rua. Deixou os tons de verde para assumir um tom mais claro de branco gelo e detalhes em azul. Com o jardim vivo de novo, Irene sonhava com o dia em que seu filho brincaria no quintal, enquanto poderia desfrutar da infância que jamais permitiria que tirassem dele. A barriga não era grande, mas, notável na maioria das roupas que usava. Gostava de se expor ao sol, assim que acordava. Gostava de ver a sombra de seu corpo tomando forma e principalmente, gostava da sensação de não estar sozinha. Mas, ainda pensava no filho correndo pelas plantações de soja e ajudando o pai na fazenda. Mas, logo retornava seus pensamentos ao presente e encarava com coragem seu destino. Essa criança só teria a ela como família. E quando se tratava de amor, ela era mais que o suficiente.
- Irene?! Chamou. Eu já estou indo. Tem certeza que ainda quer ficar? Nossas propagandas já estão prontas e engatilhadas para amanhã. Podemos descansar. Anunciou.
- Eu sei. Sorriu para a sócia. Mas, eu ainda quero ficar Marcela. Acho que respirar um pouco de trabalho, vai me fazer bem. Vou rever as propagandas e conferir as escalas. Decidiu.
- Tudo bem, como quiser. Até amanhã. Se despediu.
A mulher se distraiu por algum tempo. Realmente gostava de se sentir útil. Gostava de exercitar novamente a posse sobre sua própria vida. Tinha coragem suficiente para recomeçar e se sentia forte para isso. Ou, talvez se sentisse, até que o duro passado voltasse a atormenta-la, tirando completamente sua paz.
- Irene La Selva. Adentrou sem cerimônia. Achou mesmo que eu não te encontraria? Encarou.
- Damião?! Reagiu boquiaberta, enquanto se levantava rapidamente.
- Pode sentar imperatriz. Se acomode que a nossa prosa vai ser longa.
- Eu não tenho nada para falar com você. Fugiu, pela sala, enquanto era seguida pelo homem alto de pele morena e olhos claros, que trabalhava a anos para Antônio.
- Ahhh tem. Tem sim. Achou que teu marido ia me ferrar, me deixando com uma mão na frente e outra atrás e ia sair ilesa disso?
- Eu não sou mais casada com o Antônio. Revelou. Não sei sobre os negócios dele. Não o vejo a meses. Porque você veio atrás de mim?
- Porque se eu tiver você, consigo atrair a atenção dele. Apontou a arma para a mulher, que rapidamente segurou sua barriga.
- Não faz isso Damião. Por favor. Você não percebe que me matar não mudaria nada? Eu não sou mais a mulher que você conheceu. Antônio nem sequer se preocupa se eu ainda existo. Eu não sou o alvo certo pra você.
- É sim... É claro que é. Não se preocupe. Encostou a arma um pouco mais. Se eu matar você, vou dar um jeito dele saber que você existe. Ou... Existia.
- Não faz isso. Quase gritou. Por favor. Implorou. Não por mim, nem pelo Antônio. Mas, pelo filho que eu estou esperando. Eu te imploro. Quanto? Quanto você quer?
- Eu não quero mais dinheiro, Irene. Eu quero o seu sangue.
- Por que eu? Por que a mim? Voltou a gritar, enquanto encarava o homem.
- Porque você é um sonho inalcançável. Revelou. Porque foi por sua causa que o Antônio mandou me matar.
- Por minha causa? Reagiu surpresa.
- Por acaso não foi você que disse a ele o quanto se sentia incomodada com a minha presença? Segurou firmemente seu braço. Não foi você que revelou a ele o quanto eu te desejava?
- Não. Negou, desesperada. Não fui eu. Eu nem sabia disso... Eu juro.
- Jurar não vai mudar nada agora. Irene La Selva, eu quero o seu sangue. Eu voltei pra te matar. E eu vou fazer isso agora.
- Não. Gritou. 5 meses. Encarou o homem. 5 meses e você pode fazer o que quiser comigo. Mas, por favor, deixe o meu filho nascer. É só isso que eu te peço. Essa criança não tem culpa dos meus erros. Convenceu. E muito menos, dos erros do pai.
- 5 meses. Concordou. 5 meses e eu volto pra te arrastar pro inferno. Prometeu. E nem pense em fugir. Não vai adiantar. Ameaçou.
A mulher que estava totalmente nervosa com todo o ocorrido, só pôde pensar em uma pessoa para encontrá-la. Alguém que a tinha salvado algumas vezes e por isso, ainda sabia os dígitos de seu contato. De có e salteado.
- Alô?! Luigi?! Sim sou eu, por favor, eu preciso muito da sua ajuda. Implorou.

Antorene: The After Onde histórias criam vida. Descubra agora