Antônio On:
Eu sei que deixei a Irene triste. Sei que talvez eu devesse ter ficado no quarto, ao lado dela, oferecendo meu ombro e a minha proteção. Eu sei que ela está sofrendo mais que eu. Sei que pra ela é muito mais difícil. Mas, eu não consigo entender. Não consigo aceitar a tranquilidade com que ela reafirma que vai morrer em alguns meses. Eu não consigo engolir o fato de que ela prepara tudo o que precisa, com a maior dedicação do mundo, com a plena certeza de que não estará aqui amanhã. E dói. Dói como nunca doeu antes. A ideia de perder Irene é insuportável pra mim.- Droga. Se levantou da cadeira do escritório, depois de pensar por um longo tempo. Eu não devia ter deixado ela sozinha. Se assustou. Eu vou lá. Decidiu. Vou lá cuidar dela e me desculpar por tudo. Correu até o quarto de Petra, para abraça-la e prometer que tudo ficaria bem. Não pôde dizer, já que encontrou um terreno totalmente bagunçado, e uma mãe que dormia exausta sobre a cama.
- Ahhh Irene, se você soubesse o quanto eu amo você e a forma como seria capaz de qualquer coisa pra te proteger... Se aproximou, alinhando vagarosamente seus cabelos, enquanto tentava não acordá-la.
Antônio On:
Ela dormia serena. Seus olhos ainda molhados, pelo choro do começo da noite entregavam sua exaustão. Sabia que era culpado de boa parte de suas lágrimas. Mas, não pude evitar dizer finalmente o que pensava. Externalizando meus sentimentos, em um momento de completa dor. Sinto meu corpo instável cada vez que estou tão perto dela. Ela é tão linda... Não me canso de olhar pra ela. Não me importo com o quanto ela me despreze ou como não é capaz de se entregar pra mim outra vez. Não me importo com a distância que impõe aos meus toques de desejo ou minha insistência nesse amor. Mesmo diferente, ela ainda é a Irene. A minha Irene. E eu não pude evitar me deitar ao seu lado por alguns minutos e velar seu sono tranquilo, tentando não acordá-la enquanto a cortejo. Ela se aconchegou nos meus braços e eu pude experimentar finalmente um pouco do céu e da sorte que foi ter dividido a mesma cama que ela por trinta anos. Pena eu não tenha sabido dar valor, e ser agora, muito consciente disso. De foi culpa exclusiva minha, tê-la perdido.[• Nova Primavera (MS), 2023 - Meses Antes •]
- Há quanto tempo a gente não fica assim, só nós dois, aproveitando essa cama maravilhosa... Se aproximou, sedutora, enquanto engatinhava sobre a cama.
- Irene, por favor, hoje não, tô muito cansado. Reagiu, prudente, não tendo coragem de transar com a esposa, por estar pensando em Ágatha.
- Que isso Antônio? Cê nunca me rejeitou na cama... O que que tá acontecendo? Em? Eu tenho direito de saber, não tenho? Encarou, furiosa.
- Por favor, Irene, eu te peço, por favor, eu preciso dormir. Se virou, sem coragem alguma de encarar o rosto da mulher e mentir mais uma vez.[• Nova Primavera (MS), 2023 - Dias Atuais •]
- Agora eu sei como você se sentia. Cochichou, enquanto alisava os cabelos macios da mulher. Agora eu sei. Reafirmou. Como dói, desejar tanto e não poder tocar quem a gente ama. Refletiu. Me perdoa ter feito você pensar que não era boa o bastante pra mim, quando na verdade, eu é quem nunca te mereci. Me perdoa. O jogo virou e, agora que eu quero tanto você, não posso mais te ter. É uma droga eu ter perdido a vez. Depositou um beijo zeloso na testa da mulher e a cobriu, antes de fechar as janelas do quarto de Petra e apagar as luzes, se dirigindo à suíte master, último lugar em que queria estar, sozinho.
Não conseguiu se deitar na cama, porque tudo o fazia lembrar das noites ao lado da mulher que ainda o tira do sossego. Respirava profundamente o seu cheiro e fechava os olhos, tentando imaginar que ela estivesse lá, ao alcance de suas mãos. Como há algum tempo atrás. Pouco tempo atrás, quando tinha tudo o que quer agora mas não sabia dar valor.Irene On:
Eu acordei na cama de Petra, e me assustei ao constatar que ainda era noite. Procurei por Antônio no quarto mas não o encontrei, mesmo sabendo que ele estava ali. Pude sentir a presença dele mais cedo e ao constatar seu perfume no ar, entendi que não estava enganada. Ele realmente esteve aqui. Andei pelo quarto, inquieta, e tentei não pensar nas ameças de Damião e o completo inferno que ele tinha conseguido instaurar sobre nossas vidas. Pensei em Antônio e nos meus prováveis poucos dias. Pensei em suas declarações, e no quanto senti sinceridade em cada uma de suas palavras. Pensei nas nossas últimas noites, jantares, conversas e beijos. Me vi perdendo tempo. Algo que eu pouco tenho ainda pra ser feliz. Encarei, impaciente, tudo ao redor e me senti sozinha. Abri a porta, apressada e segui seu aroma pelo corredor. Senti meu corpo queimar, sedento pelo homem que amo. Tentei controlar, antes que abrisse a porta do quarto principal, mas não consegui. Talvez me arrependa amanhã. Mas, agora, eu preciso que ele me tome como sua e me ensine o verdadeiro caminho da calma. O caminho que eu só posso encontrar nos braços dele.- Antônio?! O encarou, assim que entrou apressadamente em seu antigo quarto e o encarou, enquanto o agrônomo estava deitado no sofá ao lado da cama, pensativo.
- Irene?! Se levantou, assustado. Pensei que estivesse dormindo. A cama da Petra está desconfortável? Se preocupou, quer trocar novamente de quarto? Sugeriu. Eu posso...
- Eu quero que você me ame. Foi direta, enquanto encarava o fundo de seus olhos, esperando, inquieta, que ele se aproximasse.
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Antorene: The After
FanfictionE se Irene decidisse fugir da polícia? E se fosse obrigada a deixar Antônio para trás? E se Antônio fosse condenado a pagar por todos os crimes que cometeu, preso dentro de seu próprio império? Sozinho, como sempre temeu estar, até mesmo durante as...