Minha Família

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Irene On:
Eu nunca pretendia dizer a Antônio sobre as ameaças de Damião. E agora, estou diante do maior medo que tive todo esse tempo, que ele soubesse de tudo e que estivesse em risco. Eu conheço o homem com quem fui casada por mais de 30 anos. Sei que ele não vai deixar barato nenhuma dessas ameaças. Principalmente pela filha, que também corre risco, estando dentro de mim. Mal pude acreditar quando vi que Luigi tinha deixado escapar o único segredo que eu ainda escondia do mundo. O perdôo, porque sei que nada disso foi por maldade. Mas, não pude deixar de pedir que ele e Petra nos deixassem sozinhos. Agora que Antônio já sabe das ameaças, eu preciso contar toda a verdade. Eu sei que é isso que ele espera de mim.

- Eu te fiz uma pergunta, Irene. Se aproximou da mulher, assustado. Quando você pretendia me contar que está sendo ameaçada?
- Eu não ia te contar. Quase gritou. Eu não queria que você soubesse de nada disso. Socou o sofá, chorosa. Imagina, já é pesado demais uma única pessoa lidando com isso... Andou pela sala, inconformada.
- Como é que é? Quer dizer que você e a minha filha estão correndo risco na mão de um bandido e você não ia me dizer nada. Gritou.
- Eu não quis te envolver. Tentou explicar. Quis te proteger Antônio.
- Eu não preciso que você me esconda debaixo das suas saias, Irene. Gritou. Eu quero saber agora quem foi que fez isso e por que. Exigiu. Andaaaa. O que foi que você fez?
- O que eu fiz? Reagiu, incrédula. O que eu fiz não, Antônio. O que você fez. O que você decidiu fazer, sem me avisar, quando achou que a melhor solução pra se livrar do Damião era mandar mata-lo. Deu de ombros.
- Quer dizer que aquele verme tá vivo? Onde é que ele tá?
- Eu não sei onde ele tá, Antônio. Eu só sei que ele não quer dinheiro e nem qualquer outra coisa. Ele não quer você, ele não quer a nossa filha, ele quer a mim. Revelou.
- Aquele desgraçado sempre foi louco por você. Lembrou. Tive que mandar dar um sumiço nele. Pensei que tivessem um caso e ...
- Você pensou o que? Se levantou rapidamente do sofá. Muito bem... O encarou. Quanta confiança. Admirou. Você mandou matar um cara que pensou ser meu amante, e agora ele tá na minha cola. Gritou. Ele vai me matar.
- Eu vi quando vocês estavam conversando no lado norte da plantação. Pareciam íntimos.

[• Nova Primavera (MS), 2012 •]
- Damião?! O Antônio pediu que você me acompanhasse até a cidade. Vou sacar um valor significativo no banco e preciso de proteção. Ordenou. Saio em vinte minutos.
- Claro, sinhazinha. A olhou de cima a baixo. Acompanhar a madame vai ser uma delícia. A encarou, arrepiando sua espinha.
- Bom, o recado tá dado. Fugiu, quando viu que o homem não tinha qualquer respeito na fala.
- Perai, Perai... Tocou seu braço. Por que tão cedo? Nós ainda temos vinte minutos. Cheirou sua pele, enquanto era ousado em seus toques. Em vinte minutos dá pra fazer muita coisa madame.
- Damião?! Você está passando dos limites. Lembrou, enquanto se desvencilhava dele. O Antônio não ia gostar nada de saber que você...
- Que eu te como com os olhos? Revelou. Que eu quero parar em cima do lombo da mulher dele? Que a mulher dele é uma gostosa? Quem manda ele te deixar solta assim? Qualquer dia eu te jogo nessas máquinas e te pego aqui mesmo. Ameaçou. Garanto que você nunca mais vai esquecer a minha pegada.
- Me solta. Gritou. Recolha esse seu atrevimento. Eu sou uma mulher casada. Me respeite. Entrou no carro, e fugiu, amedrontada.

[• Nova Primavera (MS), 2023 •]
- Aquele homem me dava arrepios. Revelou. Sempre ousado. Vivia me puxando pelo braço. E caso você não se lembre, a força é um gatilho pra mim.
- Eu não sabia que...
- Mas é claro que você não sabia, Antônio. Eu sabia que você mandaria matar aquele homem se soubesse o quanto ele me cercava. E além disso, pra você eu sempre fui a mesma garota de programa que trabalhava no bar da Cândida. Eu nunca fui a santa imaculada que a Ágatha foi.
- Quando foi que ele foi atrás de você?
- Em Corumbá. Revelou. Eu não estaria viva, se não fosse por ela. Tocou a barriga, enquanto enxugava os olhos.
- Como assim?
- O Damião foi até lá pra me matar Antônio. Mas, descobriu que eu estava grávida. Então eu pedi. Pedi não, eu implorei pra que ele só viesse atrás de mim quando ela nascesse. Ele me deu esse tempo e foi então que eu chamei o Luigi e contei tudo. Contei porque... Porque precisava que alguém criasse a minha filha.
- Nunca te passou pela cabeça que ela tinha um pai? Deixou algumas lágrimas escorrerem de seus olhos.
- Eu sabia que ela tinha. Mas, o que você queria que eu fizesse? Gritou, novamente. Você me abandonou Antônio. Eu quase tirei a minha vida por sua causa. Tava completamente perdida, tentando seguir a minha vida quando aquele bandido foi até lá pra me matar. E agora, você já sabe que eu vou morrer e... Já sabe que precisa cuidar dela. Lembrou. Ainda é muito duro saber que eu não vou ver a minha filha crescer mas... Pelo menos ela vai viver. Demonstrou-se forte, enquanto o homem se aproximou, desesperado.
- Você não vai morrer. Gritou ao pegar em seus braços, a trazendo para si. Você não vai morrer, nem ela. Eu vou proteger você. Vou proteger a minha família, nem que tenha que voltar a matar pra isso. Prometeu. Se você morrer, eu não vou ter mais motivos pra continuar existindo. Declarou, antes de toma-la com um beijo. Um beijo desesperado, quente, cheio de saudade e paixão. Um beijo que tirou Irene do eixo e fez com que ela desejasse muitos outros. Um beijo que arrebatou ambos para o céu, antes que voltassem novamente ao inferno. Um beijo. Um único beijo. Um beijo que jamais deveria ter acontecido, e que foi o responsável por acender a chama adormecida entre eles.
- Isso não podia ter acontecido. Encarou o homem, enquanto se afastava dele, tocando a própria boca.
- Irene?! Chamou.
- Não. Pediu. Não vem atrás de mim, por favor. Eu preciso ficar sozinha. Subiu as escadas, desesperada.
- Drogaaaa. Quebrou os objetos de vidro da sala. Que droga. Chorou. Eu não posso perder essa mulher. Eu não posso.

Antorene: The After Onde histórias criam vida. Descubra agora