Perto

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- Eu não tenho nem como te agradecer por ter me acompanhado, filha. Largou as sacolas em cima da cama, antes de tirar os sapatos e se sentar na poltrona do quarto, tentando relaxar os pés. Eu estava tão destreinada de ir em Campo Grande que iria me perder se estivesse sozinha.
- Imagina mãe. Sorriu. Foi muito bom passar o dia todo com você. Declarou ao se sentar do lado da mãe. Eu tô muito feliz por finalmente ter uma irmã. Foi sincera. A Aruna foi tão sonhada por mim, desde criança, que eu nem imaginei que ela viria agora.
- Nem eu, minha filha... Se levantou, acelerada. Nem eu. Sorriu. Será que nós compramos tudo que ela vai precisar? Checou as sacolas. Será que não esquecemos de nada?
- Com licença... Interrompeu. Não quero atrapalhar esse papo de mãe e filhas não. Explicou. Só vim ver se tá tudo bem, vocês demoraram tanto que eu já tava ficando preocupado.
- Tá tudo bem, Antônio. Encarou. Eu e Petra fomos fazer o enxoval da Aruna lá em Campo Grande. Acabamos demorando porque algumas coisas precisavam ser bordadas no nome dela. Explicou. Enfim, acho que conseguimos tudo.
- Uma coisa mais linda do que a outra, pai. Você tem que ver o tamanho dos vestidinhos. Apertou a própria bochecha. Tudo muito fofo.
- É... A sua mãe sempre teve muito bom gosto. Continuou encarando a mulher, enquanto a filha notava o clima evidente entre eles. Eu passo aqui depois pra ver tudo com calma. Justificou. Tô indo na cidade com o Silvério. Revirou os olhos. Preciso ir lá me apresentar pro delegado. Eu não demoro. Tchau filha. Se despediu.
- Tchau pai. Mandou um beijo, orgulhosa. Tão bom ver meu pai assim, tão... Mudado né?! Encarou a mãe, que parecia habitar outro planeta.

Irene On:
Eu tenho muita saudade de estar casada com Antônio. De ser, de fato, sua mulher. Tenho saudade do seu cheiro no nosso quarto, das roupas espalhadas pelo banheiro, da nossa combinação de looks, de escovar os dentes enquanto tinha sua companhia na pia ao lado, de assistir tv enquanto me aconchego em seu peito num raro dia frio. Sinto falta de tomar banho de banheira enquanto ele tomava banho no chuveiro, e de pegar seu roupão emprestado depois de fazermos amor pela manhã. Eu tenho saudade de acordar do seu lado e de me sentir segura o bastante para enfrentar tudo. Eu sinto saudades dele. Muitas. Todos os dias.

- Mãe?! Chamou. Hellôo... Estalou os dedos. Você tá ai? Tô te chamando há um tempo e você não responde... Tá tudo bem? Se aproximou.
- Oi filha. Despertou. Tá, tá sim...
- Não tá não. Encarou a mãe, solidária. O que tá acontecendo em? É o papai? Vocês não estão se dando bem, é isso?
- Não. Negou. Nós temos nos dado super bem. Andou pelo quarto. Acho que o problema é justamente esse, sabe? Desabafou.
- Você ainda ama ele né?
- Amo. Admitiu. Muito. Fechou os olhos. Cada dia eu amo mais. Mas, eu não posso. Eu não posso voltar a ser...
- A Irene La Selva. Lembrou. E é isso que você quer? Não ser a Irene La Selva? Mãe?! Não dá. Não tem mais como... Não importa onde você vá. Ou quem encontre. Nada pode apagar a história que vocês tiveram juntos. São trinta anos. Ressaltou. São três filhos. Tocou o rosto da mais velha. Mãe?! Eu, Daniel e Aruna somos a maior prova de que vocês sempre serão família um do outro.
- Eu tenho tanto medo, Petra. Tanto medo de voltar a ser quem eu era... Cega. Vingativa. Capaz de tudo pelo amor do Antônio...
- Pelo jeito que ele olha pra você, eu acho que as coisas mudaram muito. Mãe, não acredito que você vá precisar fazer nada pra ter o amor dele porque você já tem. Sorriu. Faz o que o seu coração mandar, e vai ser feliz. Pediu. Por favor. Abraçou a mãe, parceira. Agora eu já vou, o Luigi tá me esperando. Nós vamos a um show. Se despediu da mãe, a deixando pensativa.

Irene On:
Eu não vi o tempo passar. Estive no futuro quarto de Aruna durante o restante da tarde e nem vi quando Antônio chegou. Encantada com cada vestido e laço da minha filha, mal conseguia disfarçar a alegria de esperar por ela. Ajeitei todas as roupas no armário, depois de retirar as etiquetas e separá-las para lavar nas próximas semanas. Ajeitava os laços, quando notei a presença de Antônio no quarto.

- Isso aqui tá ficando lindo demais. Encarou o tom salmão com borboletas na parede, enquanto se voltava para Irene. Você e esse seu bom gosto pra tudo.
- Eu confesso que acabei deixando esse quarto de lado por um tempo. Afirmou, enquanto continuava o árduo trabalho de ajeitar tudo. Mas, agora vou morar aqui, se for preciso, para que tudo fique pronto a tempo. Olha isso. Mostrou. Olha o tamanho desse vestido, Antônio?
- Quase cabe na palma da minha mão. Segurou. Meu Deus do céu, que ansiedade que dá de ver logo essa menina, botar no braço e...
- Alô?! Atendeu o celular, logo após o primeiro toque, enquanto ainda sorria para o pai de Aruna, antes de permanecer estática.
- Que foi? Quem é Irene? Soltou o vestido sobre a cama.

📞 Passeios no jardim. Risadas. Jantares. Eu consigo ouvir a voz dele. Ele tá aí com você, não tá? Vocês estão juntos, não é? Vai ser ainda mais prazeroso matar você, depois de saber que Antônio La Selva é novamente seu marido. Eu te observo Irene La Selva. Eu te observo o tempo todo. E eu vou te pegar. Vou te pegar nem que seja no quinto dos infernos.

- Quem tá falando aí Irene? Se aproximou, irritado. Quem é?
- Desligou. Permaneceu estática, enquanto deslizava o celular sobre o rosto. Era o Damião. Revelou, assustada. Ele sabe tudo o que nós fazemos. Ele está por perto.

Antorene: The After Onde histórias criam vida. Descubra agora