Visita Inesperada

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[• Nova Primavera (MS), 2007 •]
- Ahhh fala sério Petra, pegou de novo o último pedaço do bolo de chocolate? Reclamou. Eu sou o mais velho, o bolo deveria ser meu. Protestou.
- Eu sou a mais nova. Fui eu que pedi para a Angelina fazer o bolo. Então, ele tinha que ser meu. Encarou Caio, com desdenho.
- Tudo bem gente, não precisa brigar. Olha, você pode ficar com o meu pedaço irmão. Eu nem gosto tanto de bolo de chocolate mesmo. Deu de ombros. Prefiro bolo de coco. Sorriu, o do meio.
- Bom dia, bom dia, bom dia. Sorriu para os filhos. Podem me dizer qual é o motivo da briga dessa vez? Encarou o jornal enquanto já tomava seu café preto.
- Bolo de chocolate. Os três responderam em coro total. Fazendo com que Antônio e Irene, gargalhassem.
- Mas eu já não disse que não pode faltar nunca um bolo de chocolate aqui nessa casa? Fingiu estar bravo, enquanto os filhos se deliciavam. Ô Angelina, prepare mais dois bolos de chocolate por favor. Gritou.
- Pronto. Agora vocês vão para a escola e depois do almoço, terão bolo de chocolate de novo. Sorriu, enquanto ajeitava os cabelos da mais nova. O pai de vocês sempre faz questão de mimar todo mundo mesmo. O encarou, feliz.
- Ô Daniel?! Passa aí meu filho. Passa a mortadela pra mim por favor. Fez todos gargalharem novamente.
- O pai não come sem mortadela de jeito nenhum. Encarou o mais velho.
- Ao invés de plantar soja, ele devia ter uma fazenda inteirinha só de mortadela. Brincou a mais nova.
- Mas esses meninos tão com a corda toda hoje. Encarou a esposa, que tomava um sucinto suco de laranja. Olha aí, como herdaram meu humor. A fez sorrir. Herdaram sim, herdaram mesmo. Encarou a mesa cheia e se sentiu completo.

[• Nova Primavera (MS), 2023 •]
O homem encarava a mesa agora, vazia. Em completa solidão. Um duro reflexo do que essa enorme casa já foi e hoje não é mais. E ele sabia. Sabia perfeitamente que esse era o seu maior castigo. A mais pura e completa solidão. Algo que ele sempre temeu sentir.
- Que saudade dessa mesa cheia. Largou o jornal, sobre a mesa. Enquanto não obtinha respostas. Irene ao meu lado, sempre tentando equilibrar tudo. Suspirou. Onde será que essa mulher está em? Encarou a aliança, ainda cravada em seu dedo anelar. Ahhh Irene, como eu lamento não ter tido mais filhos com você. Como eu lamento. Fechou os olhos, antes de perder completamente o apetite.

[• Corumbá (MS), 2023 •]
Irene se preparava para mais um dia de trabalho, quando se deu conta do seu atraso. Corria pela casa, enquanto tentava não esquecer de absolutamente nada. Segurava a dura e notável barriga, como se ela fosse cair no chão. Detestava atrasos. Era sempre muito pontual. Mas, entendia a importância de estar com a alimentação em dia, principalmente agora, por causa da gestação.
- Calma filha. Sentiu a barriga roncar, como forma de protesto. A mamãe já vai te alimentar. Sorriu. Humm?! Nós estamos um pouco atrasadas mas... Acho que ainda podemos tomar um bom suco de laranja e comer algumas torradas com requeijão. Salivou, enquanto encarava as comidas sobre a mesa. Vamos lá, a mamãe esqueceu de pegar o copo. Lembrou, mas não pôde seguir até a cozinha, já que ouviu a campainha tocar insistente e precisou correr para atender.
- Deve ser o carteiro. Que bom que hoje ele conseguiu me pegar em casa. Falou a si mesma. Acredito que sejam as encomendas que eu fiz para o seu enxoval. Lembrou. Acho que já vem chegando as roupas e... Petra?! Se surpreendeu ao encontrar a filha, depois de três meses sem vê-la.
- Como vai mãe?! Encarou a mãe, enquanto desviava o olhar para sua barriga. Você está... Grávida? Reagiu, chocada, enquanto a mais velha tocava o cordão, espantada com a visita Inesperada da filha. Pensava no quanto queria matar Luigi por tê-la contado sobre o seu paradeiro e ao mesmo tempo, o quanto queria abraça-lo por lhe dar a chance de vê-la de novo.
- Filha... Tentou se aproximar.
- Por que você fugiu mãe? Em? Por que? Questionou. Sentindo-se injustiçada.

Antorene: The After Onde histórias criam vida. Descubra agora