O Caos

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Em meio ao caos em que se encontrava, as dores do parto começaram a se intensificar, como ondas violentas que sacudiam seu corpo. Irene tentou se concentrar no que realmente importava e suplicava aos céus, que esse não fosse o momento ao qual pagaria por tudo que já havia feito, a tanta gente no passado. Cada contração era uma batalha e uma aflição maior. Não queria e não acreditava que Aruna viria ao mundo ali. Mas, sabia que a vida de sua filha dependia dela e, por isso, se recusava a desistir.
- Você tem que me encontrar, Antônio. Por favor. Eu te imploro. Você tem que nos salvar. Segurou firmemente a barriga dura.
Em meio à escuridão e ao desespero, ela buscava por luz e força. A força interior que já experimentou outras duas vezes. Cada momento de dor era controlado por mordidas. Ela não queria que Damião soubesse que sua filha nasceria. Tinha medo. Muito medo. Mas, cada contração era um lembrete de que estava prestes a trazer uma nova vida ao mundo. E ela sabia que isso era divino.
- Eu não vou conseguir. Sussurrou. Eu não vou conseguir filha. Suou. Se eu ao menos estivesse desamarrada. Quase gritou. Aí que dor. Agonizou. Que dor, meu Deus. Mordeu mais uma vez o próprio braço para afagar a agonia de seu corpo.
- Amor?! Eu voltei. A encarou de forma debochada. Você sentiu saudades? Apertou seu rosto, antes de perceber o chão molhado. Que isso? Que molhaceiro é esse aqui? Ahhh meu amor, creio que você não tenha mais idade para esse tipo de traquinagem. Encarou a loira, que suava. Não posso acreditar que alguém tão perfeito tenha mijado nas próprias roupas. Se aproximou um pouco mais, enquanto a mulher tentava disfarçar mais uma contração, que dessa vez doeu demais.
- Ahhhhhhh. Gritou.
- A menos que você... A menina vai nascer é? Alisou seus cabelos de forma assustadora. Eu não poderia estar mais feliz com essa notícia, meu amor.
- Damião, é sério. Me tira daqui. Implorou. Por favor, você... Você pode me deixar em um hospital qualquer ou na beira de uma estrada. Eu não vou te denunciar. Eu não vou falar nada. Eu só quero ter a minha filha em segurança. Damião, eu te imploro.
- Eu tô aqui. Eu tô aqui te ajudando. O que você quer. Que eu segure a sua mãozinha? Hum? Eu seguro. Se aproximou mais uma vez.
- Damião?! Chamou. Você não acha que está indo longe demais? Intrometeu. Essa mulher vai morrer. Vai morrer tentando ter a filha. Alertou. Isso é loucura. Você vai colocar o plano a perder.
- Cala a boca Lima. Cala a boca. Você não é pago para dar palpites. Gritou. Vá lá fora e olhe novamente se está tudo limpo. A essa altura, aquele merdinha do Antônio já deve estar procurando por essa vadia, como um cão farejador.
Enquanto os sequestradores discutiam e ameaçavam, ela se concentrou na respiração, buscando o mínimo de paz interior para enfrentar aquele momento tão desafiador. Seu corpo estava em agonia, mas sua mente estava focada no objetivo final: proteger e trazer a sua cria ao mundo com qualquer segurança, que conseguisse.

CAIO LA SELVA ON:
A noite já estava fria quando me dei conta de todas as notícias do dia. Soube a pouco, que Irene, minha madrasta, havia sido sequestrada por um dos antigos capangas de meu pai. Na verdade, achava um absurdo que estivessem procurando por ela. Talvez ela nem tenha sido sequestrada, realmente. Com uma vida cercada por tantas mentiras, eu não me surpreenderia caso ela tenha decidido fugir com Damião.
Bom, o fato é que eu preciso respirar um pouco. Mesmo sabendo de tudo o que já fizeram, inclusive contra mim, minha mulher e meus filhos, não consigo achar normalidade em um ambiente tão pesado. Andar pelas fazendas do meu pai, ainda era algo que me relaxava profundamente. Eu adoro essas terras, nasci aqui. Sou parte disso. Eu também ajudei tudo isso a florescer. Sempre adorei o silêncio desse lugar, me permitia pensar. Mas, enquanto vagava entre as árvores, um som abafado chamou minha atenção. Não poderia imaginar o que seria, mas decidi me aproximar cautelosamente, seguindo o som até encontrar uma pequena cabana escondida entre a folhagem densa. Uma cabana que eu e meus irmãos conhecíamos bem. Somente nós. Não sabia quem mais poderia conhecer aquele lugar, até reconhecer uma voz que clamava por socorro.
- Irene. Reconheci.

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⏰ Última atualização: Jun 03 ⏰

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