Coração

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[• Nova Primavera (MS), 2023 •]
- Dona Irene La Selva, a senhora confirma que matou Sidney dos Santos e mandou esconder o seu corpo?
- Sim. Confirma, enquanto começa a explicar o que houve. Naquela noite eu não consegui dormir. Lembrou. Chovia muito e eu não pude deixar de me lembrar do Daniel. Tentou sorrir. Ele sempre teve muito medo dessas tempestades e eu sempre tive que protegê-lo até passar. Enfim, decidi ir para a sala, ler um livro, e ficar por lá, até a tempestade passar.
- E depois? Apressou. Como encontrou Sidney?
- Bom, eu não sei quanto tempo passou desde que eu fui para a sala mas... Eu acabei dormindo no sofá. Acordei com o Sidney, apontando uma arma para mim, e dizendo que iria me matar. Recordou. Eu agi em legítima defesa, delegado Ayres. Era eu ou ele. Bom, o fato é que eu o esfaquiei. Confessou.
- Além de mandar sabotar os freios do carro que acabou acidentando e matando seu filho, Daniel. A senhora também confirma que mandou que o próprio Sidney desse um fim no mecânico, sua esposa, no próprio Caio e no seu cunhado e pai de Daniel, Ademir?
- Sim. Confirmou, enquanto encarava tudo ao redor. Na verdade, eu não mandei matar Caio e Ademir, não da última vez. Reformulou. Só pedi que Sidney fizesse o que fosse preciso para que eles não descobrissem sobre o acidente.
- Ok. Anotou. Além disso, a senhora confirma que matou Ágatha Moreira La Selva, em sua antiga residência, com um tiro no coração?
- Quando eu e Ramiro chegamos na mansão, naquela noite, eu tinha o objetivo de sequestrar a Agatha. Relatou. Tinha medo do que ela poderia fazer com o Antônio, já que eu havia acabado de descobrir que ela o envenenava. E também tinha medo do que ela seria capaz de fazer a Petra, minha filha. O fato é que, quando entramos, ela estava agonizando na escada que dá acesso aos quartos. Pedia por ajuda. Recordou. Pedi que Ramiro atirasse, mas ele não teve coragem. Lembrou. Então, eu atirei. Confirmou.
- A senhora tem alguma coisa a ver com a morte de Berenice Almeida da Conceição?
- Não. Isso não. Negou. Eu confirmo que a ameacei sim, algumas vezes, e também dei dinheiro para que ela fizesse alguns serviços pra mim. Um deles, contra a própria Ágatha. Mas, a morte de Nice foi uma surpresa infeliz, até pra mim.
- Bom... Encarou a mulher. Você ainda será levada a julgamento por alguns desses crimes. Anunciou. Por outros, no entanto, a senhora foi beneficiada com o sistema de legítima defesa e as demais regalias de uma confissão. Por hora, não será detida. Vai poder aguardar o julgamento em liberdade. Mas, é importante ressaltar que não pode deixar mais a cidade. Lembrou, enquanto a fazia assinar alguns papéis.
A mulher, decidida, assina todos eles e se sente tonta ao tentar se levantar, voltando a sentar-se em seguida.
- Eu não pude deixar de notar que você está grávida Irene. Observou. Parece estar passando mal, precisa de alguma coisa? Ofereceu amparo.
- Não eu... Eu só preciso ficar aqui, mais um pouco. Pediu. Acho que o dia foi muito movimentado. Justificou. Tô um pouco tonta.
- Fique o tempo que precisar. Cedeu. Vou pedir que alguém te traga um copo d'água. Se levantou, gentil.
- Obrigada. Agradeceu.
A mulher, que agora respira aliviada por não ter nada mais a esconder, só encara as próprias mãos e remexe a aliança que havia voltado a usar quando foi morar em Corumbá, parte de seu disfarce. E mais, um objeto importante que a fazia sentir segura. Algo que ela sempre gostou de usar. Mesmo que seu casamento fosse uma farsa.
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- Eu já disse Silvério. Não vou ficar morfando, nessa recepção o dia inteiro. Andou de um lado a outro. Que que é? Esse delegadozinho, me mandou vir até aqui e agora eu preciso esperar pra ser atendido? Encarou o advogado, incrédulo.
- Se acalme, doutor Antônio, por favor. Eu não entendi muito bem o que aconteceu, mas parece que o delegado precisou colher um depoimento urgente. Alertou. Ele já vai te atender.
- Eu não vou ficar aqui esperando ele enfiar outro depoimento urgente na minha frente Silvério. Reagiu. Eu vou entrar na sala dele, me sentar naquela maldita cadeira, e exigir que ele diga logo o que quer comigo. Se levantou, visivelmente alterado.
Antônio adentra na sala do delegado, como se estivesse em cima de um cavalo. Destemido, não consegue ser impedido por Silvério e assusta Irene, que ainda remexendo a aliança, encara Antônio, chocada. Como reação imediata, a mulher permanece sentada e puxa a bolsa para o próprio colo, escondendo a barriga aparente de sua gravidez, enquanto lutava para disfarçar o quanto sentia saudades daquele homem a quem tanto amava.
- Irene?! Reagiu imediatamente, enquanto tentava controlar as batidas aceleradas do próprio coração, ao ver a mulher que amava e por quem procurava ansiosamente há meses. Você voltou? A encara, como se o tempo não tivesse passado.

Antorene: The After Onde histórias criam vida. Descubra agora