[• Nova Primavera (MS), 2023 •]
- A coruja piou muitas vezes diante de um absurdo desses. Quase arremessou a xícara de café. Eu não vou pra delegacia nenhuma não senhor. Ir pra delegacia? Ir pra delegacia pra que? Indagou, furioso. Fazer o que naquela delegacia Silvério? Eu já recebi minha sentença. Já estou pagando a pena, conforme essa porcaria de lei. É o que? Esse povo tá entediado? Tão precisando ver a minha cara lá pra quê? Andou de um lado a outro, como se estivesse procurando algo.
- Sim, doutor Antônio. Confirmou. Sim. É verdade. O senhor está mesmo pagando por tudo quanto deve. Mas, mesmo o detento que está cumprindo pena em regime domiciliar precisa comparecer na delegacia algumas vezes. Foi uma convocação. Não é nada fora do comum. Pelo contrário, é muito natural que o delegado queira vê-lo.
- Detento... Detento... Debochou. Era só o que me faltava mesmo. Olha o título. Olha o título que eu ganhei agora. Depois de tudo o que eu fiz e do tanto que eu lutei para ter o que eu tenho, não adiantou nada... Eu virei um "detento". Um bandidinho qualquer. Reclamou. Olha aqui Silvério, eu vou nessa porcaria de delegacia, vou lá. Se levantou, irritado. Vou lá ver o que esse delegado quer comigo. Mas, eu não vou demorar. Avisou. É ir num pé, e voltar no mesmo pé, acabou.[• Corumbá (MS), 2023 •]
- E então mãe? Vai voltar comigo para Nova Primavera e se entregar ou vai continuar vivendo essa vida incerta aqui? Pressionou.
- Eu não sei Petra. Andou de um lado a outro. Eu não sei se eu devo fazer isso. Remexeu os cabelos, um pouco desesperada. Se eu for até lá, vou ser presa. Lembrou. Minha filha vai nascer na prisão e eu terei que entregá-la a alguém, assim que ela nascer. Refletiu. Petra, eu não quero que ela nasça dentro de uma cela. A encarou. E eu também não quero passar os meus dias presa naquele lugar... Balançou a cabeça, em total negação.
- Mãe, você cometeu crimes muito crueis. Matou pessoas... Lembrou. Como é que você vai continuar colocando a sua cabeça no travesseiro, e dormir tranquilamente com todos esses crimes nas costas? Questionou.
- Eu não vou me entregar pra polícia. Quase gritou. Eu não vou. Eu não posso fazer isso. Negou. Não posso. Isso não minha filha, isso não. Por favor... Pediu.
- Eu sabia que não devia ter vindo até aqui. Pegou a bolsa, enquanto se dirigia até a porta. Você não mudou nada com tudo o que vem sofrendo mãe. Continua a mesma egoísta de sempre. Acusou.
- Petra, por favor, eu...
- Não se preocupe. A parou, com as mãos. Eu não vou entregar você. Avisou. Não vou te denunciar na delegacia porque você merece essa vida aqui. Encarou ao redor. Essa vida triste, essa vida de ameaças, essa vida de solidão, vazia...
- Filha eu... Chorou.
- Não me chama de filha. Negou. Eu não reconheço você mãe. Nunca pensei que você fosse tão covarde. Desabafou. Principalmente em um momento como esses. A encarou de cima a baixo. E faz um favor pra mim, não continua envolvendo o meu marido nessa sua história suja. Pediu. O Luigi não merece ser prejudicado por sua causa. Nem o Luigi e nem ninguém. Foi embora, e preocupou Irene, por estar muito alterada. Ela, que já havia visto isso antes, encarou tudo ao redor e percebeu que não queria perder mais um de seus filhos por causa de seus próprios atos. Chega. Havia chegado o momento de pagar por seus erros, encarando as consequências, sejam elas quais forem. Petra tinha razão, não era justo que ela ficasse em pune. Não era.
- Petra?! Se jogou na frente do carro, rapidamente. Espera. Eu vou. Confirmou. Eu vou com você. Decidiu. Você promete que vai ficar do meu lado, mesmo que eu fique anos na prisão? Promete? Encarou a filha emocionada, enquanto a menina abria a porta do carro e a puxasse para um abraço apertado.
- Você vai se entregar? A encarou, enquanto sentia seu amor.
- Vou. Eu vou minha filha. Alisou seus cabelos. Eu não posso deixar que você pegue a estrada desse jeito. Chorou. Não posso nem pensar em perder você, como perdi o Daniel. Lembrou. Eu te amo minha filha. Eu te amo muito. Faria qualquer coisa por você, sempre. Declarou.
- Essa é a minha mãe. Sorriu, finalmente. Eu tô do teu lado. Confirmou. Você é muito corajosa e acabou de provar seu amor por mim. Beijou seu rosto. Seu amor por mim, pelo Daniel, e por ela. Lembrou. Por essa bebezinha que está vindo aí e que nós vamos receber, com todo amor do mundo. Fez a mãe respirar aliviada. Agora vem, vem mãe, entra no carro, a ajudou.
- Eu não posso negar que eu tô com medo. A encarou enquanto colocava o cinto de segurança. Mas, eu sei que me entregar é o melhor a se fazer. Decidiu.
- Você tomou a decisão mais justa da sua vida e eu tô muito orgulhosa de você. Declarou. Muito orgulhosa, mãe.
Fez a mais velha sentir paz. Pela primeira vez, nos últimos dias.
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Antorene: The After
FanfictionE se Irene decidisse fugir da polícia? E se fosse obrigada a deixar Antônio para trás? E se Antônio fosse condenado a pagar por todos os crimes que cometeu, preso dentro de seu próprio império? Sozinho, como sempre temeu estar, até mesmo durante as...