Arrependido

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- Como assim, não está aqui? Eu vi no noticiário que ela foi trazida pra cá. Bateu no balcão da recepção do hospital, com extremo ódio. Eu quero ver a minha mulher agora. AGORA. Exigiu.
- Dottor Antônio?! Se aproximou, curioso.
- Ô Italiano, o que cê tá fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa com a Petra? Desde que eu fui condenado a viver preso dentro da minha própria casa, nunca mais tive notícias dela. Refletiu.
- No, dottor Antônio, con Petra va tutto bene. Sono vim all'ospedale perché ho visto que Irene estava qui. Ho decido di venire a visita-la depois de lavourare. Sabe que io gosto muito dela.
- Eu sei. Quase sorriu, agora, um pouco mais calmo. Eu também vim ver a Irene. Soube do acidente. Fiquei preocupado. Ô Italiano, pra você eu não preciso mentir não. Apesar de tudo que a Irene fez, apesar dessa loucura toda dela ter sido a responsável pela morte do nosso filho, depois de tentar matar o Caio. Eu... Ainda assim. Olhou de um lado a outro. Ainda gosto dela. Confessou. Mas, se você disser isso a alguém, eu juro que eu mando arrancar a sua língua. Ameaçou.
- Non dirò niente a nessuno. Non preoccuparti. Tocou o ombro do sogro.
- Sabe italiano, fico feliz que cê tenha se acertado com a minha filha. Prefiro você como marido dela, que aquele vigarista do tal engenheiro. Sei que ela está segura.
- Grazie mille Dottor Antônio.
- Agora fala pra mim, você já descobriu onde é que a Irene está? Parece que não querem me dizer a verdade. Encarou a recepcionista, como se pudesse matá-la, apenas com o olhar.
- Me disseram que Dona Irene já obteve alta cuesto ospedale.
- Então não estão mentindo pra mim? A Irene saiu mesmo do hospital? Encarou tudo ao redor. Mas onde é que ela foi? Por que não me procurou? Porque não procurou ninguém? Italiano, eu não devia ter colocado a Irene pra fora de casa, daquela forma. Não devia não. Se arrependeu.
O homem deixou o hospital depois de algumas horas incansáveis na recepção do prédio. Foi convencido pelo genro a voltar para casa, já que estava em prisão domiciliar e não poderia ser visto andando livremente pela cidade. Ainda pensava na ex-esposa quando voltou a habitar a casa grande e vazia a qual estava condenado a viver. Os novos empregados faziam as compras e mantinham tudo em ordem, Petra e Luigi assumiram o grupo La Selva com a condição de manter todos os negócios da família com clareza. Caio decidiu abrir mão da herança e do pai para viver uma vida mais simples ao lado de Aline e a família que haviam construído. Antônio ainda mantinha suas fazendas, já que não ficou provado fraude ao adquirir nenhuma delas, a não ser a propriedade de Aline, devolvida para ela logo após o julgamento. Mas, nada disso importava mais. Nem mesmo o ódio nutrido por tanto tempo contra Samuel e Aline. Quando olhava para a casa onde tanto sonhava construir e viver, só pensava em como ela havia se tornado vazia sem a única pessoa que fazia do grande espaço, verdadeiramente um lar.

[• Nova Primavera (MS), 1993 •]
- Essa casa é enorme, Antônio. Admirou.
- Você gostou? Rodopiou pela sala, antes de ajudar a esposa, em seu último trimestre de gestação, a subir as escadas. Vem devagar. Devagar aí pra não cair. Pelo amor de Deus, olha o menino aí. Cuidou. É claro que tudo aqui ainda precisa de decoração. Precisa dos seus toques. Mas, eu tenho certeza que isso aqui vai ser um bom lugar pra criar nossas crianças. Sonhou.
- Ele também acha. Apontou. Olha aí, não para de mexer aqui dentro. Deve estar sentindo a mesma felicidade que a mãe dele está sentindo nesse momento. Encarou o homem, como se estivesse encarando um rei.
- Eta moleque arretado. Sentiu. Já vai nascer correndo por essas fazendas todas junto do irmão. Olha aí, não para de sacolejar aí dentro. Gargalhou.
- É seu filho né Antônio?! Não consegue parar quieto. Igualzinho a você. Sorriu, dando espaço aos dois furos que tinha nas bochechas, e que a deixavam ainda mais linda que o normal.
- Posso fechar negócio? Abraçou os ombros da esposa. Acha que essa casa está à altura da nossa família?
- Acho. Confirmou, enquanto continuava deslumbrada. Acho não, tenho certeza. O encarou. Certeza de que nós seremos muito felizes aqui. Alisou a barriga. Eu, você, o Daniel e Caio.
- E os outros filhos que tivermos. Afirmou, enquanto desciam de mãos dadas.
- Ahhh, você ainda quer mais filhos é? Reagiu surpresa.
- Claro que eu quero. A encarou, enquanto tirava os cabelos de seus olhos. Eu quero essa casa cheia de filhos. E você pode me ajudar nisso, não pode?
- Eu acho que sim. Creio que não faltam espaços para fazermos eles aqui, nessa casa. O beijou, completamente feliz e realizada com sua nova vida.

[• Nova Primavera (MS), 2023 •]
O homem encarava os cantos da casa como se pudesse vê-la desfilar por cada atmosfera, ostentando seus caros saltos e suas roupas sofisticadas. Podia ouvir ainda a sua voz, invadindo o ambiente. Além de sentir seu perfume, se aproximando, cada vez que pensava nela. E nesses momentos, finalmente, ele deixava de se sentir sozinho.

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