[• Nova Primavera (MS), 1993 •]
Nosso filho Daniel tinha apenas 3 meses de vida quando eu finalmente tive coragem de me aproximar um pouco mais da Irene, e comecei a enxerga-la completamente, de fato, como a minha mulher. E ela fazia tal papel com maestria. Era dedicada, incansável, amável e terrivelmente uma boa mãe. Cantava para o nosso filho todas as noites e fazia questão de se levantar milhões de vezes para ver se ele estava bem. Eu nunca a segui. Também nunca fui o responsável pela função de ir até lá na madrugada. Na verdade, eu nunca pensei que ajudar nessa parte, fosse o papel do pai. Mas, eu não pude deixar de me render ao que já sentia por Irene, assim que a segui até o quarto de Daniel, naquela noite.🎶SE ESTA RUA, SE ESTA RUA FOSSE MINHA, EU MANDAVA, EU MANDAVA LADRILHAR. COM PEDRINHAS, COM PEDRINHAS DE BRILHANTES, PARA O MEU, PARA O MEU AMOR PASSAR. 🎶
Ela balançava o filho nos braços, enquanto beijava o topo de sua cabeça frágil. Cantarolava uma música infantil que eu desconhecia, até que Daniel crescesse e ela se tornasse sua música favorita. Provavelmente, pela segurança de se lembrar da voz da mãe o acalmando de madrugada.
🎶SE EU ROUBEI, SE EU ROUBEI TEU CORAÇÃO, É PORQUE, É PORQUE TE QUERO BEM. SE EU ROUBEI, SE EU ROUBEI TEU CORAÇÃO, É PORQUE, TU ROUBASTE O MEU TAMBEM.🎶
E naquele momento, senti os meus olhos se encharcarem de gratidão. Sabia que já não era só isso que eu sentia por ela. Mas, ainda não era capaz de nomear esse novo sentimento que eu sentia invadir o meu corpo, sempre que a via em situações assim. Uma voz que acalmava o meu filho, libertando-o de todas as dores e desconfortos e um braço forte pra mim. Sempre.
[• Nova Primavera (MS), 2023 •]
- Amor?! Chamou, enquanto acariciava sua barriga grande. Eu estou te chamando a alguns bons minutos. Revelou. No que você está pensando? Indagou, curiosa.
- Em nada. Se aproximou da esposa, agraciado. É só que... Ver você assim, ajeitando as coisas da nossa filha com tanto carinho... Me traz boas recordações. Sussurrou, enquanto beijava seu rosto.
- Que recordações? Sorriu, enquanto colocava mais um dos pequenos vestidos na filha em um cabide decorado com laços delicados.
- Lembranças de uma época em que eu ainda nem sabia o que sentia por você. Revelou.
- Época em que você ainda amava a Ágatha. Lamentou.[• Nova Primavera (MS), 1998 •]
- Então fala Antônio. Diz logo de uma vez que tudo o que eu fiz por você até hoje não foi inútil. Pediu. Diz que você está mudando de ideia em relação a Ágatha. Chorou. Diz o que você não tem coragem de admitir. Diz. Gritou.
- O que é que eu não tenho coragem de admitir? Encarou. Do que você tá falando? Se afastou, numa tentativa desesperada de recuar.
- Eu tô falando que você está com medo. Se aproximou, rapidamente.
- Medo? Reagiu, ainda acuado. Que conversa é essa? Que medo? Eu não tenho medo de nada, Irene. Virou-se de costas.
- Tem. O virou de volta. Tem sim. Você está com medo de mim. Medo do que eu te faço sentir. Colou seus corpos, decidida. Você tem medo de se apaixonar por mim. Encarou o fundo de seus olhos, estremecendo a valentia do homem. Antônio, você tem medo que eu te faça esquecer a Ágatha, pra sempre.
- Não fala bobagem. Tentou fugir mais uma vez, sendo puxado pela esposa.
- Se é que eu já não fiz. Reagiu, convencida, enquanto o fazia realmente ter dúvidas.[• Nova Primavera (MS), 2023 •]
- Eu não sei se eu ainda a amava. Revelou, enquanto voltava a abraçá-la por trás, beijando sua cabeça. Acho que, não era mais amor o que eu sentia. Negou.
- E o que era então? Virou, para encarar o homem.
- O que eu comecei a sentir por você bagunçou tudo. Revelou, pela primeira vez em anos. Eu não sei, a convivência, o companheirismo, a conexão... Eu fiquei assustado.
- E você não tinha isso com ela? Indagou.
- Não. Confirmou. Eu nunca tive. Revelou. Acho que no fim das contas, nem era amor. Deu de ombros. Era loucura, obsessão, sentimento de posse, de poder. Lembrou. Acho que fazia mais mal do que bem.
- Achei que seu amor por ela fosse grandioso. Achei que nunca te convenceria do contrário. Pensei que vocês tivessem tido uma vida juntos, em pouco tempo. Achei que ela era o seu primeiro amor verdadeiro.
- Eu também achei. E talvez ela fosse. Aquele amor que te machuca tanto, que te faz acreditar que nunca mais vai encontrar alguém que te faça sentir algo tão forte outra vez. Desabafou. Quando ela foi embora da minha vida, eu me senti oco. Foi como se eu fosse só uma capa, tentando seguir em frente.
- E eu? Indagou. Comigo era o quê? O fez tocar seu rosto. O que você sentia por mim?
- Com você eu senti aquele amor que cura. Revelou. Aquele amor que é tão bom e te ajuda tanto, que você tem dúvida de que realmente é amor. Deixou uma lágrima escorrer. O amor que você não dá nada por ele. Balançou a cabeça. E que chega pra ficar. A beijou. Pra sempre.
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Antorene: The After
FanficE se Irene decidisse fugir da polícia? E se fosse obrigada a deixar Antônio para trás? E se Antônio fosse condenado a pagar por todos os crimes que cometeu, preso dentro de seu próprio império? Sozinho, como sempre temeu estar, até mesmo durante as...