Doce de Jaracatiá

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- Droga Antônio?! Chorou, enquanto entrava no quarto, fechando a porta atrás de si. Droga. Droga. Eu não vou conseguir te esquecer se nós nos beijarmos assim de novo. Não vou. Se sentou sobre a cama, enquanto se encolhia nela, tentando esquecer completamente o que havia acabado de acontecer.

Irene On:
Eu não sei dizer ao certo, em que momento eu dormi. Muito menos, por quanto tempo eu chorei antes que isso acontecesse. Também não sei falar sobre Antônio e quantas coisas ele quebrou lá embaixo, depois que eu subi. Na verdade, ele respeitou a minha vontade e não veio até aqui. O fato é que, eu só abri os olhos agora, no meio da madrugada, morrendo de fome. Fome não. Desejo.

- Aí meu Deus. Segurou firmemente a barriga. Que vontade de comer um doce de jaracatiá... Humm... Fechou os olhos, enquanto enxugava os lábios. Tá dando água na boca. E agora? Sussurrou. Onde é que eu vou arrumar isso se era aquela imprestável da Angelina que fazia ...

Irene On:
Tentei dormir e esquecer o tal desejo. Mas, não dá. Eu não consigo. Também não quis acordar Antônio, que sempre achou uma bobagem essa coisa de ter vontade incontrolável. Além disso, depois daquele beijo no meio da sala, eu não queria correr o risco de me jogar novamente nos braços dele.
Desci as escadas devagar, ainda de camisola. A casa estava em total penumbra e eu mapeei cada passo para não correr o risco de cair. Encarei toda a sala e me lembrei da discussão de ontem a noite. Sorri ao lembrar de Antônio, enquanto me prometia proteção. Segui até a cozinha e abri a geladeira na esperança de encontrar o que eu tanto queria, mesmo sabendo que não tinha.

- Droga. Bateu a porta. Onde é que eu vou arrumar esse doce agora? Cruzou os braços, como se fosse uma criança birrenta. Eu vou morrer se não comer. Quase chorou, desesperada.

Antônio On:
Eu me acostumei a ouvir os passos de Irene no corredor. Desde que Daniel morreu, ela nunca conseguiu adormecer por uma única noite completa. Sabia que ela ainda precisava ficar sozinha. E por alguns momentos, me fechei frente a vontade de segui-la. Pensei que ela poderia precisar de alguma coisa. Ou estar passando mal. Sabia que jamais me chamaria, depois do que aconteceu ontem. Sei que estamos nos evitando. Mas, meu desejo de encontrá-la pela casa. Nem que fosse por acaso. Me venceu.

- Irene?! Acendeu as luzes da cozinha, enquanto abria a boca de sono. Aconteceu alguma coisa? A encarou, tentando desviar o olhar de sua camisola preta. Tá sentindo alguma coisa?
- . Economizou. Mas, você não vai acreditar se eu disser. Deu de ombros. Sempre achou bobagem essas coisas de vontade. Abriu novamente a geladeira, enquanto tentava sentir vontade de comer outra coisa.
- Claro que não. Se aproximou. Fala aí. Fala logo o que você quer. Eu não vou achar bobo não. Tô falando pra você. Tá com fome? Abriu novamente a boca.
- Eu quero doce de jaracatiá. Economizou, enquanto o encarava de frente. Uma vontade incontrolável Antônio. Fechou os olhos. Só de pensar no doce, amarelo escuro, quase laranja, dentro de uma travessa de vidro, sobre a mesa, eu sinto a água na boca.
- Calma Irene. Tem essa tal jaracatiá aqui no nosso quintal. Lembrou. Segura aí que eu vou lá pegar. Você sabe fazer esse doce? A encarou.
- Não. Voltou a espernear. Mas eu posso pesquisar na internet. Alcançou o celular, esperançosa. Não deve ser tão difícil.

Antônio On:
Parece piada Antônio La Selva. Parece piada você aqui, no meio do quintal, com um cabo de madeira, derrubando jaracatiá às três da manhã. Meu Deus do céu. O que eu não sou capaz de fazer pra agradar essa mulher. Melhor mesmo é se ela sentisse vontade de mim. Vontade de me beijar. De me amar. E ela sentiu essa vontade, quando estava grávida da Petra. Me propiciando uma das noites de amor, mais lindas que já tivemos. Mas, enquanto isso não acontece, eu fico aqui. Derrubando alguns jaracatiás verdes na minha cabeça, até encontrar um que esteja maduro o bastante para que ela mate a vontade do tal doce.

- Acha que esses dois servem? Entregou, animado, enquanto tentava limpar o próprio pijama. O pé é alto. Achei que não fosse conseguir pegar. Justificou, enquanto cortava as frutas com a faca, para que a mulher não machucasse as mãos.
- Acho que dá. Aqui diz que são dois mesmo. Picou as frutas, as colocando em uma panela com um pouco de água. Pode pegar açúcar mascavo, por favor? Encarou o celular, enquanto tentava reproduzir a receita.
- Açúcar mas... Açúcar o quê? Que isso? Reagiu, confuso.
- Mascavo. Revirou os olhos. Aquele açúcar mais escuro. Mexe aqui. Entregou a colher. Mexe aqui, que eu pego. Mexe direito pra não queimar.
- Acho que eu nunca fiz isso. Gargalhou, enquanto mexia a panela. Acho que nós... Nunca fizemos isso. Toda vez que a gente vinha pra cozinha era pra comer alguma coisa pronta. Lembrou.
- Ou pão com mortadela. Gargalhou, junto. Humm.. Sorriu ao fechar os olhos. Que cheiro maravilhoso.
- Acha que isso vai dar certo? A encarou, enquanto tentava se aproximar, para beijá-la mais uma vez.
- Acho que vai. O encarou, seriamente, sem fugir, enquanto ambos mexiam o doce. Que foi? O que você tá olhando? Reagiu sem graça.
- Eu acho que você fica ainda mais linda assim, mexendo um doce na panela. Cheirou seu pescoço, enlouquecido, enquanto a abraçava por trás. Opaaa?! Se afastou rapidamente, enquanto voltava a se aproximar, tocando sua barriga de frente. Essa menina mexeu foi? A encarou, apaixonado.

Antorene: The After Onde histórias criam vida. Descubra agora