Pavor

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Irene On:
Eu nunca senti tanto medo. Nunca. Nem mesmo da primeira vez, quando Damião invadiu o meu escritório de publicidade e eu estava grávida de poucas semanas, isolada em uma cidade onde eu nem tinha ninguém. Nem mesmo Antônio.
Aquele dia, Damião quis me matar. E eu passei esse tempo todo pensando que fosse isso o que ele realmente queria. Por muitos motivos, talvez. Dentre eles, a vingança de Antônio. Passei todo esse tempo pensando que nada mais poderia ser feito. Que eu morreria quando chegasse o momento. Pensei até que seria torturada por ele. Mas, agora, o jeito que ele me olha... A respiração ofegante e a necessidade de estar perto... Não. Não é possível. Ele não sente ódio como da primeira vez. Ele não quer realmente me matar. Ele me quer. Ele me deseja. E meu corpo congela só de imaginar que esse homem pode encostar em mim. Meu coração acelera e eu, que nunca me deixei levar pelo medo, não consigo pensar em uma linha de escape. Pelo menos não agora.

- Você prometeu. Fugiu pelo quarto. Você disse que... Se afastou.
- Você também me disse muitas coisas. Gritou, enquanto a mulher continuava fugindo. Disse que não tinha mais nada com aquele velho desgraçado. Lembrou. Disse que teu casamento com aquele corno tinha acabado. Você acha que eu sou otário? Acha que pode me enganar? Acha que eu não sei que vocês estão juntos? Que eu sou cego pra não perceber essa aliança aí no teu dedo? Segurou firmemente os braços de Irene, antes que ela os puxasse de volta.
- Você não é homem? Enfrentou. Você deu a sua palavra. Se afastou. Eu disse que aceitaria morrer depois que ela nascesse. Lembrou. Ela não nasceu ainda, Damião. Tentou segurar o choro. O que você veio fazer aqui? Por que você tá aqui se ainda não pode me matar. Por que? Subiu na cama, enquanto o homem se aproximava novamente.
- Porque eu vi você com o Antônio. Revelou. Vi vocês se agarrando na varanda. Se aproximou novamente. Vi você agir como uma vagabunda. Cochichou em seu ouvido, enquanto puxava seus cabelos. E sabe que, eu senti inveja dele... Arranhou seu rosto com um dos dedos. Senti inveja dele como eu já senti antes. Senti inveja porque mais uma vez ele tem o que eu nunca tive. Você. Revelou. Uma vagabunda, só pra mim.
- Me solta. Ordenou. Me solta Damião. Gritou. Me solta, por favor. Pediu, enquanto corria pelo longo corredor dos quartos, antes de entrar no quarto de Daniel e trancar a porta.
- Não adianta fugir. Gritou, do lado de fora. Não adianta correr. Ou você sai, e me deixa dizer o que eu vim fazer aqui, ou eu vou lá e mato teu maridinho. Ameaçou. Você acha que eu não sei onde ele está? Acha que eu não sei que aquele inútil tá lá na capital com o borra botas do advogado dele, participando de um desses cursinhos de reabilitação de bandido? Fez Irene paralisar. Uma ligação. Uma única ligação minha e você nunca mais vai ver nem a fumaça dele. Ameaçou. Sabe que... Seria bom que eu fizesse isso. Seria bom porque foi exatamente o que ele tentou fazer comigo. Discou alguns números, enquanto Irene ouvia o barulho, do outro lado da porta. Já que você não gosta mais dele, não vai se importar se eu passar fogo naquele idiota né. De qualquer forma, eu posso parar, se você me pedir. Chantageou. Mas, só se você me pedir. Cochichou. A vida do velho tá nas suas mãos. Lembrou. Pede com carinho e eu desisto de apressar a morte do Antônio. Pede.

Irene On:
Não. Ele não pode matar Antônio. Não pode. E eu sei que ele agora tem poderes pra isso. Eu sei que sim. Acontece que, sentir alguém ameaçar a vida do homem que eu amo é pior do que sentir que alguém pode ameaçar a minha. Eu jamais suportaria a ideia de perder Antônio. Jamais aceitaria que alguém o fizesse mal, se a decisão estivesse em minhas mãos. Como agora. Eu preciso do Antônio pra viver. Preciso dele aqui, do meu lado, a salvo. E a ideia de receber uma notícia ruim, me paralisa. Me fragiliza tanto que eu nem sei como reagir a isso. Na verdade sei. É a mim que ele quer. Então eu assumo as consequências de me doar por inteira, pra salvar o homem que eu amo.

- Irene... Irene... Seu tempinho tá acabando. Arranhou a porta com uma faca. Você sabe que, eu não tenho muita paciência. Ameaçou novamente, recebendo um completo silêncio, como resposta. Não vai responder? Insistiu. Então, quem cala não sente. Pegou novamente o celular. Alô?! Sim, você pode...
- Quem cala, consente. Gritou, ao destrancar a porta, antes de tentar acalmar a filha, agitada na barriga. O ditado é: Quem cala, consente. Corrigiu. O que você quer de mim? Abriu a porta, decidida. Fala logo o que eu preciso fazer pra você deixar o Antônio em paz. Se entregou, cheia de pavor.

Antorene: The After Onde histórias criam vida. Descubra agora