[• Nova Primavera (MS), 1997 •].
Irene era uma pessoa quieta e concentrada. Gostava de ler, e por isso, estava sempre sentada em algum lugar tranquilo da casa, nos momentos em que as crianças estavam na escola ou se preparavam para dormir. Cuidadosa, sempre preferiu estar de olhos atentos sobre os meninos. Não só Daniel, seu filho. Às vezes, principalmente sobre Caio, que sofria de asma e quase nunca se lembrava de usar a bombinha. O fato é que, quando Antônio chegou em casa, no fim da tarde de mais um dia exaustivo de trabalho, não pôde deixar de reparar na esposa, totalmente ansiosa, andando de um lado a outro na sala, enquanto segurava algo nas mãos.
- Irene?! Chamou, tentando não assustá-la. Tô te achando tão distante... O que foi? Aconteceu alguma coisa que eu não tô sabendo? A encarou, enquanto tentava conversar com ela, pela décima vez, sem obter qualquer resposta.
- Eu não quero te dar falsas esperanças, Antônio. O encarou, preocupada. Sei o quanto você quer que isso aconteça. Mas, eu não posso negar que eu conheço o meu corpo o suficiente pra saber que tem algo de errado. Foi por isso que eu acabei de pedir isso aqui na farmácia. Eu só não tive coragem de fazer ainda.
O homem encarou o teste de gravidez na mão da esposa e sentiu seus olhos se encherem. Ela tinha razão. Tudo o que ele mais queria era mais um filho. Talvez uma menina, já que havia crescido em uma família com muitos homens e esperançava ter essa experiência ao lado dela. Notou o nervosismo da mulher, frente ao seu entusiasmo. E sentiu que, ela se sentia na obrigação de atestar sua capacidade em lhe dar ao menos mais um filho.
- Você acha que pode estar grávida? Reagiu, contente. Tá atrasado o tal do ciclo que vocês mulheres sempre dizem? Não sei, não entendo nada disso. Vamos lá gente, vamos fazer esse teste aí.
- Calma Antônio. Fica calmo. Eu tô atrasada sim. Tô atrasada a quinze dias. Mas, pode ser que eu não esteja e tudo isso não passe de uma sensação minha. Sei lá, às vezes o nosso corpo.
- Ô Irene?! Vão parar com esse falatório? Vai logo fazer esse teste. Se você estiver grávida, eu vou explodir de felicidade uai. E se você não tiver, paciência, nós vamos tentar um filho até conseguir. Tentou deixá-la mais tranquila.
A mulher sorriu, pegando novamente o teste de suas mãos. Estava gelada e impaciente. Subiram para o quarto, e ela pediu que ele esperasse na cama. Andava de um lado a outro, como se sua vida estivesse nas mãos daquele teste. Ansiava por aquele positivo, sem nem sequer saber se queria ser mãe novamente. E quando estava perdida em seus pensamentos, ouviu os gritos de Antônio, do outro lado da porta.
- E aí Irene? Deu o que aí nesse negócio? Caramba, tá trancada nesse banheiro a muito tempo e não fala nada. Você sabe que eu sou cardíaco e fica aí fazendo mistério.
- Calma Antônio. Tem que esperar o teste dar a resposta, demora alguns minutos e...
- Olha aí. Apontou, completamente animado. Olha os dois riscos aí. Claro como o sol que ilumina os meus sojas todas as manhãs. A abraçou, rendido. Eu vou ser pai outra vez Irene. Olha aí, você tá grávida mesmo. Sorriu, enquanto a mulher deixava uma lágrima escorrer do canto dos olhos. Nós vamos ser pais de novo. Tocou seu rosto, amoroso. E eu tô sentindo que agora essa menina vem. Abraçou a barriga da esposa, sentindo-se grato, por mais um presente, que só ela seria capaz de lhe dar.[• Nova Primavera (MS), 2023 •].
Antônio não pôde deixar de encarar a foto da filha, ao fundo da sala. Era uma linda moça, como ele achou que seria. Idêntica ao pai, sempre foi muito ligada a ele. Estava magoada por descobrir que ele já não era mais herói que pensou que ele fosse, quando ainda era criança. No momento, achou que a distância era o melhor a se ter, até que decidisse como seguir a própria vida. Mas, o fato é que, o poderoso Antônio La Selva, seu pai, jamais conseguirá se esquecer do dia em que se sentiu o pai dela, pela primeira vez. E isso aconteceu, no momento em que aquele teste se acendeu, diante de seus olhos. E desde aquele dia, seu amor pela menina, continuava o mesmo.
- Irene, Irene... Tocou a foto da esposa, que estava ao lado do porta retrato de Petra. A encarou de frente, como se ela estivesse ali. Como você me fez feliz ... Me deu filhos incríveis, uma vida, um lar... Tentou sorrir, mesmo sofrendo. Pena que, eu não fui capaz de perceber isso a tempo. Lamentou. Fui tão egoísta que não pude perceber a mulher maravilhosa que tinha nos braços. Espero que você me perdoe por isso, onde quer que esteja. Desejou, enquanto segurava a aliança entre os dedos. Eu vou te encontrar, não importa quanto tempo precise procurar por você. Prometeu a si mesmo. E quando isso acontecer, as coisas vão ser diferentes. Eu juro que vão. Alisou a foto, antes de que pudesse dormir entrelaçado a ela.
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Antorene: The After
FanfictionE se Irene decidisse fugir da polícia? E se fosse obrigada a deixar Antônio para trás? E se Antônio fosse condenado a pagar por todos os crimes que cometeu, preso dentro de seu próprio império? Sozinho, como sempre temeu estar, até mesmo durante as...