Já era início de outono quando os ventos da nova estação sopravam suavemente sobre a fazenda, enquanto Antônio e Irene aguardavam ansiosamente a chegada de sua última filha, Aruna. O sol começava a se pôr quando Irene se sentou para assistir, com muita dificuldade. Sua barriga estava enorme e seus pés muito inchados. Sua cabeça doía boa parte do dia e em alguns momentos, ela sentia muita falta de ar. Já começava a sentir as contrações de treinamento, e junto delas, um medo ainda maior, a cada dia que passada.
Ela viajava em seus pensamentos, distante, quando sentiu Antônio segurar firmemente sua mão, enquanto se preparava para sentar ao seu lado. Ela não se assustou, mas se surpreendeu ao vê-lo chegando. Na verdade, resolveu passar um tempo com seus próprios pensamentos justamente enquanto viu que ele estava trabalhando no escritório. Completamente distraído de suas outras funções.- Como soube que eu estava aqui? Fechou os olhos, tentando relaxar, ao sentir o momento.
- Eu sou um homem observador, Irene. Eu sei o quanto você gosta de assistir ao fim da tarde aqui fora. A encarou, admirando sua beleza.
- É... Você me conhece bem. O encarou de volta. Que foi?
- Eu queria que você pudesse ver o que eu vejo. Resumiu.
- E o que você vê? Rebateu.Antônio On:
Uma vez ouvi uma poesia que sempre me fez muito sentido. Quando olho para a minha esposa, é exatamente o que eu penso."Ela era arte. A mais bonita que as pinturas de Van Gogh, que os olhos de Capitu e as músicas de Chico Buarque. Nenhuma arte de Pablo Picasso chegava aos pés dos seus traços. Ela era aquelas metáforas com significado profundo. Era aqueles livros que quanto mais você lia mais você queria ir mais fundo. Podiam se passar dias, ela sempre me surpreendia. Não importava onde estava e nem com quem estaria todos podiam estar olhando para mim, mas era nela que eu me via."
Ela está linda. Linda. Linda. Mais linda ainda quando sorria. E quando me olha, como agora, me faz esquecer completamente o mundo a minha volta. Ela me reinicia. Me aprisiona. Me enfeitiça. E só eu sei, o quanto gosto disso.
- Antônio?! Insistiu. Eu te fiz uma pergunta. Continuou encarando, ansiosa.
- Você tem certeza que eu preciso mesmo responder o que vejo em você?
- Por favor. Pediu.
- Eu vou sentir muita saudade de te ver assim, esperando novamente um filho meu. Refletiu. Queria ter aproveitado muito mais a espera da nossa filha. Desde o comecinho. Desde a descoberta.
- Eu também queria ter aproveitado mais. Passei boa parte do tempo, sentindo algo estranho. No começo, eu senti muito medo. Lembrou. Não quis acreditar que estava esperando um filho seu. Jamais imaginei te contar que ela viria. Pensei realmente que essa filha, você não iria conhecer. Era tanto amor ainda que, eu queria te esquecer Antônio. Queria apagar você da minha memória. E de repente...
- Você descobriu que tinha um pedaço meu dentro de você. Completou.
- No momento mais difícil da minha vida. Bem na hora que eu tinha acabado de perder tudo que eu conquistei. Tudo que eu amei. Deixou uma lágrima escorrer.
- Você achou que tivesse perdido. Se abaixou para enxugar os olhos da esposa. Ela é a prova de que você não pode perder o que é seu por direito. O milagre Aruna.
- Achei que você tivesse deixado de me amar. Confessou.
- Eu te amei todos os dias, Irene.
- Vai continuar me amando por quanto tempo quando eu partir? O encarou, emotiva.
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Antorene: The After
Fiksi PenggemarE se Irene decidisse fugir da polícia? E se fosse obrigada a deixar Antônio para trás? E se Antônio fosse condenado a pagar por todos os crimes que cometeu, preso dentro de seu próprio império? Sozinho, como sempre temeu estar, até mesmo durante as...