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NALA

— Querida! — Minha vó chega me abraçando e me dando um beijo na bochecha, com ym sorriso grande. — Quanto tempo não nos vemos! Está muito magra, peça logo algo para comer!

— Ah, não precisa... Obrigada vó. — Eu sorrio meio sem graça. — Mas faz tempo que não nos vemos mesmo.

— Trouxe malas? Veio ficar um tempo com sua velha? — Ela pergunta reparando na mochila que estava no chão. — E sua mãe como está?

— Vó... — Não tem um jeito mais fácil de falar isso, ela precisa saber. — Ela morreu vó... — Digo e dona Maria me encara, e quando percebe que não estou brincando, a ficha dela cai.

— Quando? Como? — Seus olhos focam nos meus e minha vontade é de chorar.

— Faz duas semanas. Demorei pra achar a senhora, eu não tinha seu número e não sabia onde morava. Foi quando lembrei que eu tinha vindo nesse restaurante e foi uma sorte os donos te conhecerem.

— Como isso aconteceu Nala? — Ela me pergunta e vejo seus olhos lacrimejarem, e eu começo.

*2 semanas atrás...*

É uma hora da manhã. Acabo de arrumar um emprego novo, estou muito feliz que deu tudo certo!

Uma quadra antes de chegar em casa, escuto gritos altos.

Vou andando e percebo que vem de lá o barulho.

Por favor, de novo não... Peço pra Deus.

Me aproximo da porta e antes de abrir, meu corpo trava e meu coração começa a bater mais rápido.

Minha mão treme, mas crio coragem e abro a porta.

Escuto mais alto os gritos de minha mãe. Vejo ela caída no chão, cheia de sangue no rosto, nas roupas...

O olhar dela acaba comigo.

Ela e meu pai sempre discutiam, a bebida o mudava, fazia ele se tornar alguém cruel, capaz de fazer tudo o que quisesse.

Em uma fração de segundos, uma garrafa atinge a cabeça dela, a fazendo fechar os olhos e não se mexer mais.

Eu grito e corro me jogando no chão, ao seu lado. Verifico seu pulso, mas não tem batimento algum.

Começo a chorar, as lágrimas correm do meu rosto e eu não sei mais o que fazer. Ela se foi, não está mais comigo...

— Pai! — Eu volto a chorar muito, ainda deitada sobre o corpo dela. — O que o senhor fez pai? Meu Deus!

Ele se aproxima de mim, estava bêbado, consigo sentir o cheiro de longe.

Ele agarra meu cabelo e me puxa, fazendo eu levantar e olhar para ele.

— Você é uma imprestável, igual ela! — Ele se vira.

Minha cabeça está girando, eu não, eu não sei mais o que pensar, meu coração parece que vai explodir e minha vontade é correr, correr dali.

— Você a matou. — Sussuro.

— FALE MAIS ALTO.

— A MATOU, VOCÊ A MATOU. — Eu grito mais alto e a primeira coisa que recebo é um tapa bem no meu rosto, que faz eu cair no chão.

— É bom ficar quieta, se não é você quem vai pro mesmo lugar que ela.

Dando mais um gole em sua bebida, ele se senta no sofá e liga a TV, deixando o corpo de minha mãe jogado na sala, como se não fosse nada.

Eu me aproximo de seu corpo pequeno, e pego em sua mão, deixando as lágrimas correrem em silêncio.

— Eu te amo minha rainha, te amo muito mesmo. — Digo e vou devagar para o meu quarto.

Não é certo deixar minha mãe alí, mas eu tinha que fugir, tinha que ir embora e só não tinha ido ainda por ela!

Ao fechar a porta do meu quarto eu corro, corro pra pegar minhas roupas, pego tudo que seja essencial e coloco dentro da mochila.

Abro a porta e minha casa está escura, só escuto o barulho da TV e meu pai, que virou um monstro, estar dormindo.

Me aproximo devagar de sua carteira, jogada na mesa, tiro o único dinheiro que tem ali, dou mais uma olhada em minha mãe e vou embora.

Vou direto para a rodoviária, e quando chego lá, sei exatamente para onde devo ir...

Que a alma de minha mãe descanse em paz, e que eu nunca passe pelo o que ela passei.

*Agora...*

Minha vó está em choque com o que aconteceu. Parece que ela não quer aceitar, que isso não aconteceu, mas ela devia saber que meu pai era uma pessoa terrível.

— Eu falei que essa união acabaria com ela, mas ela não me ouviu... Não pude salvar minha filha.

— Não pude salvar minha mãe. — Digo também.

— Querida... Você está comigo agora! Temos uma a outra e você fez muito bem em me procurar! — Ela se levanta. — Vamos para minha casa, você irá morar comigo!

Ouvir isso deixa meu coração em paz. Depois de dias sem dormir bem e sem estar tranquila realmente em um lugar, agora eu tenho uma casa e minha vó, que vai cuidar de mim!

Mocinha do ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora