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NALA

Os tiros não param e quando param, voltam um segundo depois.

Minha cabeça tá girando, girando.

Sinto a visão ficar branca novamente.

— Nala?? Nala, senta um pouco, você tá branca. — Escuto Luiza dizer então me sento.

Meu coração volta a ter batidas rápidas e eu penso, meu Deus, o que tá acontecendo?

Já pensei em todo mundo aqui morrendo.

Estou sentada no chão e Luiza coloca minha cabeça pra baixo.

— Já melhora... Deve ter abaixado tua pressão. Tá tudo bem?

— Tudo... — Falo sentindo estar voltando ao normal devagar.

— Relaxa... Já tá acabando... — Ela fica fazendo carinho nas minhas costas.

Minutos depois, levanto a cabeça e estou normal.

Tem várias outras pessoas aqui no barracão com a gente.

Elas parecem apreensivas, mas não tanto quanto eu.

— Melhor? — Lu me pergunta.

— Tô sim... E o Marcão?

— Não voltou ainda, deve estar dando tiro em geral lá fora.

— E se alguém morrer?

— Morre nada, aqueles lá é bom de tiro. — Ela sorri e me ajuda a levantar.

Quando levanto, os tiros param.

— Acho que já tá tranquilo. Daqui a pouco alguém chega avisando que tá liberado, dai vamos pra casa tabom?

— Tá...

Uns dez minutos depois, um cara armado aparece e fala que podemos sair e que os políciais já foram embora.

— Quer dizer que eles conseguiram? — Pergunto.

— Isso. — Ela sorri e começamos a descer o morro até chegarmos na minha casa. — Quer que eu entre com você?

— Não precisa... Acho que vou conversar um pouco com a minha vó.

— Tabom, tá bem mesmo né?

— Tô sim, acho que só foi um susto.

— A Mia já se assustou uma vez assim que nem você... Que bom que ela não foi no baile hoje.

— Verdade...

— Qualquer coisa me manda uma mensagem.

— Mando sim, obrigada! — A abraço e entro em casa.

— Nala, é você??? — Minha vó aparece apontando uma pistola pra porta.

— VÓ! Que isso???? — Pergunto olhando a arma.

— Segurança! Nunca se sabe quem pode entrar aqui no meio desses tiroteios!

— Meu senhor amado! O povo aqui é doido mesmo! — Falo e me sento na cadeira, colocando os braços na mesa.

— Eu fiquei preocupada com você! Onde estava?? Ficou segura? Levou algum tiro??? — Diz tocando em mim e me examinando.

— Não vó, calma! — Ela se aquieta e se senta na cadeira da minha frente. — Eu fui naqueles bailes... — Confesso de uma vez.

Não tá me fazendo bem mentir pra ela, e se algo acontecesse comigo, ela ficaria muito mal por eu ter mentido.

— Achei que estava saindo com aquela menina... Luiza! Ela que te levou pra lá né? Péssima companhia! Você poderia ter morrido! Usou alguma droga????

— Não usei nada, nem bebi nada, só fui pra escutar música e ficar com as meninas...

— Escutar aquelas músicas? — Ela coloca a mão na cabeça. — Ó céus, você se tornou um deles!

— Não me tornei... Fiquei assustada vó... — Falo devagar e ela vem me abraçar.

Sinto vontade de chorar mas seguro as lágrimas.

— Ô minha filha!

— Desculpa ter mentido. — Agora sim eu choro.

— Tudo bem meu amor! Não precisa chorar...

— Sinto saudade da minha mãe vó! — Choro mais.

Sinto uma dor no meu peito que eu não sei explicar.

Algo em mim se foi quando minha mãe partiu e pensar que nunca mais vou ver ela... Parte ainda mais meu coração.

— Vamos tomar um leite quentinho com açúcar! Vai fazer você dormir rapidinho minha neta... Não coloque muitas coisas na cabeça.

— Tudo bem... — Seco as lágrimas.

— Amo ter você aqui comigo... E você é demais de especial pra mim!

— Você também é especial pra mim vó!

— Eu te amo minha filha...

— Eu te amo vó!

Conversamos mais um pouco, eu tomo o leite que ela esquentou e minha barriga fica bem quentinha.

Vou pro meu quarto e tomo um banho bem demorado.

Penso em tudo que aconteceu e em como o dia de hoje podia ter dado errado.

Depois, coloco um shorts e uma regatinha de pijama bem gostosinha e me deito na cama.

Minha cabeça dói e o barulho de tiro passa trezentas vezes pela minha mente e meus ouvidos não param de zumbir, ressoando todo aquele barulho incansavelmente.

Não consigo dormir de jeito nenhum.

Me viro e reviro na cama, mas não dá.

Me levanto e vou até a cozinha, pego um iogurte que tem na geladeira que minha vó deve ter comprado esses dias e como.

Volto pro quarto, coloco mais uma coberta na cama e me deito.

Agora estou bem mais quentinha!

Não sei se esse mundo é pra mim, não sei se vou me acostumar com esses tiros e essas invasões...

O morro talvez não seja meu lugar...

Mas agradeço muito minha vó por deixar eu viver aqui.

Pode não ser o melhor lugar, mas com certeza, estou muito mais feliz e agradecida aqui do que se estivesse morando com meu pai... Que agora, não significa nada mais pra mim.

Pensando nisso... Fecho os olhos e adormeço...

Mocinha do ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora