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PUMA

Ela dormiu...

Pegou minha mão, fechou os olhos e agora eu tô ouvindo sua respiração pesada aqui do lado.

Ela dormindo é tão linda...

Tá com os olhinhos inchados por ter chorado, e acho que eu tô do mesmo jeito também.

Eu me senti tão estranho, com uma dor tão forte quando eu contei pra ela.

Senti como se estivesse confessando o que eu fiz, e eu tava mesmo.

Foi totalmente minha culpa e eu tenho noção disso.

Por um erro meu, o Gui morreu, e não vai mais voltar.

Ele não sabia dos riscos, não sabia quase nem segurar uma arma, não tinha idade pra estar ali... Mas eu o coloquei naquela posição.

Se ele estiver me ouvindo agora...

Me perdoe criança... Eu devia ter deixado você brincar e se divertir enquanto podia... Eu fui o culpado e nunca vou me perdoar por você não estar mais aqui...

Vou sentir sua falta, mas principalmente Nala... Ela vai pensar em você sempre que brincar de pega pega e das outras brincadeiras que vocês gostavam...

Nós te amamos.

***

Abro os olhos e Nala ainda dorme na minha frente e ainda não soltou minha mão.

Olho pra janela e já tá claro.

Faço um carinho na mão dela e depois tiro a mão devagar e me levanto da cama.

Ainda tava doendo os pontos, mas já me sinto bem melhor.

Tento abrir a janela sem fazer muito barulho...

— Onde vai? — Pergunta se sentando na cama.

— Não queria te acordar... — Olho pro seu rostinho triste. — Tenho que ir resolver as coisas... Depois a gente se vê...

— Tá... Cuida dele por mim Puma. — Ela diz e entendo o que ela quer dizer.

Saio pela janela e caminho até chegar em casa.

— Onde tu tava?? Nois já tava preocupado que tu não atendia a porta. — Paiva diz.

— Tô bem.

— Foi no enfermeiro?

— Tipo isso. Chegou?

— O caixão? Sim... Ele já tá já... Como tu tá?

— Bem. — Minto e vou pra salinha ver o que aconteceu realmente ontem.

Paiva começa falando e IG está do lado.

Ele vai falando quantos se feriram mas que já estão bem e que uns cinco morreram.

— Algum dos nossos se machucou? — Me refiro aos mais próximos.

— Só o teu segurança com aquele machucado e você...

— Ótimo, não foi tão ruim assim então...

— Eh... Mas precisamos de armas.

— IG, cuida disso pra nois.

— Cuido chefe... Tá tudo bem mesmo? O menino mexeu contigo né?

— Tô suave...

Olho pro relógio e já são quatro da tarde.

— O sol aqui no morro vai baixar logo logo... Avisem que vamos fazer daqui a pouco.

— Ok. — Eles saem pra avisar o povo sobre o enterro.

Normalmente aqui na quebrada, só fazemos enterro à aqueles que foram muito importantes ou os amigos mais próximos do dono daqui.

Como o dono sou eu, eu acho muito importante esse enterro pra ter um encerramento...

— Pronto. — Paiva aparece do nada e eu me levanto.

Chego no lugar onde tá o corpo com o caixão pequeno.

— Que Deus te receba meu pivete. — Digo e faço sinal pros caras irem levando até o lugar que ele vai ficar.

Vejo Marcão abraçando Nala...

Isso não me afeta mais...

Vou andando devagar e o morro tá em silêncio.

Eu escuto às vezes o suspiro da Nala, mas não olho pra trás, não quero que ela se sinta mais mal hoje.

Não vou fazer isso com ela...

Quando chegamos no lugar, Nala se aproxima de mim e olha pro menino.

Ela me olha rapidinho e seca as lágrimas.

Me dá um sorriso mostrando que vai ficar tudo bem e eu me sinto melhor com aquilo.

Ficamos até o final e logo as pessoas vão voltando pra suas casas.

Nala também vai embora enquanto eu fico sozinho sentado na grama.

— Não deveriam existir caixões tão pequenos... — Thomas se aproxima e se senta ao meu lado.

— Devia ter ouvido ela Thomas, ela me alertou.

— Não se sinta culpado, isso acontece por aqui, você sabe...

— Sei... Mas não queria que eu tivesse errado tanto.

— Serviu pra você aprender a ouvir os outros.

— Alguém precisava morrer pra que isso acontecesse?

— Não sei... Mas tudo tem um propósito...

— Nunca te falei isso Thomas... Mas tu é como um pai pra mim. — O encaro e ele sorri de lado.

— Não sou tão velho assim... — Ele brinca. — Mas obrigado!

Ficamos mais um tempinho ali e logo saimos também.

Eu chego em casa e tudo parece meio sem vida, sem cor.

Talvez seja como eu estou me sentindo... Vazio.

É isso que eu sinto, como se tivesse feito algo imperdoável.

E fiz mesmo.

Pego meu celular e mando uma mensagem pra Nala.

Eu já tinha pegado o número dela com a Leidy esses dias.

— Como tu tá?

Espero um pouco e mando outra.

— É o Puma.

Enquanto espero ela responder, vou tomar um banho bem gelado.

Depois pego as drogas que tem no meu quarto e coloco tudo na mesa, separo elas e começo a cheirar.

Preciso esquecer o que aconteceu, preciso que minha mente pare e que tudo seja um sonho!

Eterno Guizin!

***

Galera, vim agradecer os comentários e dizer que a fic tá TOP 1 ROMANCE, vocês são incríveis, obrigada por me ajudarem e estarem gostando da fic.

Sinto muito se choraram com esses capítulos, o Guizin ama vocês!!!

Mocinha do ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora