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NALA

Mia tá estranha, quase não fala nada e quando eu faço alguma coisa errada, ela nem nota, o que é um milagre porque normalmente ela já me xinga.

Patrícia já saiu do salão e a Luiza tá fazendo o cabelo de uma cliente, então aproveito pra falar com Mia.

— Tá tudo bem? — Pergunto sussurrando e ela faz "sim" com a cabeça, mas seu rosto diz outra coisa. — Quer dar uma volta? — Ela me encara e faz novamente "sim".

Saímos do salão e eu começo a segui-lá.

Chegamos em um beco que não tinha ninguém passando.

Ela encosta na parede, me olha e levanta a manga da camisa.

Meus olhos se abrem mais e minhas mãos vão pra boca.

— Mia... O que é isso? — Digo assustada vendo os hematomas que estão no braço dela.

Manchas roxas e vermelhas, como se alguém tivesse a apertado muito forte.

— Não é só isso... — Fala subindo a camisa e mostrando a barriga com um corte.

— Minha nossa senhora! Ele que tá fazendo isso contigo? — Eu a encaro e ela tenta segurar o choro.

Na mesma hora, me aproximo e a abraço pra deixá-la mais confortável. As lágrimas começam a cair.

— Termina com ele Mia, por favor... — Falo mas sem saber o que falar direito.

— Começou faz pouco tempo Nala, ele se envolveu com bebida e perde o controle...

— Você tem que sair disso, precisa procurar ajuda.

— Você não entende como são as coisas por aqui, ele nunca vai me deixar livre... E eu o amo muito. — Ela se aproxima do meu ombro e chora cada vez mais. — Mas... — Ela seca as lágrimas. — Não é tão ruim, eu sei que ele me ama, sabe?

Ao ouvir aquelas palavras, vejo o quanto me identifiquei.

Sei que meu pai me amava e amava minha mãe, mas depois, tudo o que era amor, sumiu, se transformou em ódio, e nem eu e nem ela conseguimos sair disso a tempo.

Não devemos aceitar viver assim, mas pra quem está do lado de fora, é fácil falar...

— Você é tão linda Mia. — Eu passo a mão pelo rosto dela. — Merece muito mais do que isso...

— Eu vou conversar melhor com ele de noite... Não conte a ninguém, por favor! — Ela implora e já volta a fazer uma cara mais fechada.

— Tudo bem... Não vou contar.

— Ninguém pode saber...

É uma péssima hora pra contar que todos já devem saber o que aconteceu na noite anterior?

Ela se afasta de mim e eu continuo observando a parede a minha frente.

Minha vó, Luiza e minha razão dizem pra eu não me meter nisso, pra deixar eles resolverem, mas meu coração e os olhos de Mia pedem outra coisa.

Não posso deixar ela passar por isso, não outra vez, não como aconteceu que nem minha mãe, não vou deixar Mia ficar nessa até um desastre maior acontecer.

E sem perceber... Agora sou eu quem estou chorando.

***

O turno do trabalho acabou. Mia foi antes para casa e Luiza ficou pra fechar o salão.

Já são onze da noite e tô chegando em casa.

Antes de entrar, vejo uma moto estacionada na frente do portão.

Abro a porta e a cena que vejo é pior que do poderia imaginar.

Um cara sem camisa, sentado em uma ponta da mesa e minha avó na outra ponta. Ele está mirando uma pistola pra ela e ela parece chorar.

— Nala! Saia! — Ela fala alto e o homem me olha rapidamente, mas já volta seu olhar.

— O que está acontecendo?? — Vou ao lado da minha vó e olho o homem de frente.

Agora a arma está apontada pra nós duas e meu coração começa a bater mais rápido.

— Tu não contou pra essa putinha? — O homem começa a falar e se levanta. — Tua véia tá devendo uma grana pra nois e não é de hoje... Ou cêis paga agora, ou a bala come.

— Me dê mais alguns dias! — Ela começa a chorar.

— Teve aviso pra caralho minha senhora, vai dar não!

Tô entendendo nada!

— Que grana? Quanto? Eu pago! — Digo e o homem começa a rir.

— E tu vai tirar 5k de onde? Da buceta? — Ele aponta a arma pra mim.

5 mil? Eu com certeza não tenho todo esse dinheiro!

— Não a machuque, eu é quem devo...

— Não! Você não pode a matar só porque ela tem dívidas! — No momento em que digo isso, o homem parece me desafiar...

O primeiro tiro vai na perna dela.

Eu encaro a cena e me agacho do lado dela, que está urrando de dor.

O sangue começa a aparecer rápido.

— Não atire mais! Por favor, por favor, deixa eu falar com o chefe de vocês, eu pago, eu ajudo ela a pagar! — Imploro.

— O acordo moio quando não pagou!

Nisso, um som de rádio aparece e uma voz surge do nada.

— Feito?

O cara pega o rádio, aperta um botão e responde.

— A neta tá fazendo um showzinho e fudendo o rolê mas já já a bala vai nas duas!

— Eu pago! — Falo me aproximando do rádio. — Eu pago mesmo! Pode fazer o que quiser comigo, só não mata ela!

— Ouviu chefia?

— Pode pá, manda essa vagabunda colar aqui no morro, vamo ver se tem essa marra toda na minha frente.

Mais dois dias nesse morro e eu vou de baleada rapidinho.

Mocinha do ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora