NALA
Ele me encara, vejo seus olhos furiosos e minhas mãos começam a tremer.
— Que merda vc tá fazendo garota? Tá maluca porra? — Puma diz, sua voz é grossa, bem mais do que pensei.
— Não pode bater nele. — Falo baixo e tento não desviar o olhar dele.
Agora que eu bati de frente tenho que sustentar.
— Chegando agora e já pagando de heroína, tá achando que é quem fia. Tá querendo levar um soco por esse pivete?
— Levaria. É só uma criança! — Puma ri irônico, dá uma olhada nos lados e volta a me encarar, dando um passo a frente.
— E se ele não aprender a sobreviver nessa quebrada, será o primeiro a morrer.
— É uma criança! — Digo alto, o que claramente foi um erro.
Em um segundo, Puma tira a pistola dele do bolso da calça e aponta pro meu pescoço.
O menino atrás de mim começa a chorar e eu fico em choque quando ele aponta a arma para o Puma.
Eu levanto o braço e abaixo a arma que o menino segurava, assim, ele solta a arma no chão e se posiciona na minha frente, como se fosse me proteger.
Diante daquilo, escuto um tiro.
Puma atira na parede que estava atrás de nós.
Ele se aproxima de mim e fala no meu ouvido.
— Na próxima, vai vc e o moleque pra vala. Não brinca comigo vadia. — Diz ríspido e sai andando.
Patrícia vai atrás dele, acho que ela não me viu.
As pessoas param de nos encarar e eu olho pro menino baixinho ao meu lado.
Seus olhos estão lacrimejando então eu o abraço.
Ele chora mais.
— Não quero matar as pessoas. — Ele diz em lágrimas.
— Não precisa... — Lágrimas escorrem do meu rosto também.
— Preciso sim... Ele vai me matar se eu não lutar pelo morro.
— Eu te protejo.
— Não pode me proteger pra sempre. — Ele tira os braços da minha barriga e dá um passo pra trás. — Mas valeu. — Diz secando as lágrimas e voltando a fechar a cara.
O menino pega a arma e sai andando.
Eu encosto na parede e fico pensando sobre o que ele deve estar passando.
— Entendi a tua novata. — Luiza se aproxima e encosta na parede também. — Tu quer ajudar todo mundo né.
— Se eu pudesse, com certeza. Queria que ele tivesse um futuro bom.
— O futuro dele é aqui, essa é a realidade do morro, você e nem ninguém vai conseguir mudar isso... Mas te admiro. — Ela sorri e me abraça.
— Acho que já vou pra casa.
— Te levo... Antes que você se perca e que o Clebin te ache, aquele lá ta sempre na hora e no lugar certo.
Rimos e vamos pra casa.
Antes de me deixar em casa, Luiza diz pra eu tomar cuidado com Puma e nos despedimos.
Entro pela janela pra não fazer barulho, tiro minha roupa, tomo um banho bem rápido, decido lavar o cabelo só amanhã.
Coloco um pijama e na hora que me deito, eu durmo.
***
— Querida! Já é dez da manhã... — Minha vó me chama.
Acordo tranquila porque Luiza me avisou que hoje iriamos trabalhar apenas no meio dia.
Levanto e vou pra cozinha.
— Dormiu bem? Acordou tarde minha neta...
— Hm... Dormi mais ou menos. — Eu odiava mentir pra minha avó, mas se ela soubesse que fui escondida pro baile, ela me mataria!
— Muito barulho né? Acho que foi acabar aquele negócio só umas cinco da manhã!
— Deve ter sido mesmo... — Concordo e ela vai preparar o almoço. — Precisa de ajuda?
— Não... — Tem algo de errado em sua voz...
— Tá tudo bem vó? — Pergunto e ela deixa uma panela cair no chão.
— Tudo sim minha neta, não se preocupe comigo...
— Acho que a senhora está muito cansada, tem trabalho hoje? — Me levanto ajudando ela a pegar a panela.
— Hoje não... Tenho que resolver algumas coisas hoje. — Ela sorri e eu desconfio.
— Tabom, mas qualquer coisa me avise.
— Tudo bem! — Minha velinha sorri.
Depois de um tempo, nós almoçamos e conversamos sobre a Leidy, uma mulher que trabalha junto com minha avó.
— Tenho que ir trabalhar agora... Até depois.
Dou um beijo dela, troco de roupa e vou em direção ao salão.
Chego meia hora antes, no salão só tinha a Patrícia e a Luiza, que chegou quase na mesma hora que eu.
— Finalmente chegaram!
— Chegamos! E como foi ontem? — Luiza pisca pra mim, parece que ela não gosta da Patrícia.
— Perfeito! Tenho certeza que Puma vai me assumir sem demorar muito. Ele disse que adorou minha roupa de ontem...
— Que ótimo pra você.
— Ele só tretou com uma mulher idiota, ela estressou ele, e ele quase matou ela com um tiro. Mas não consegui ver quem era. — Eu e Luiza trocamos olhares meio suspeitos. — Sabem quem é a mulher?
— Não! — Respondemos juntas e Patrícia parece acreditar.
— Também fiquei sabendo sobre a Mia.
— Verdade, não vimos ela ontem, onde ela tava? — Pergunto e a Lu levanta os ombros.
— Natan bateu nela ontem. — Patrícia lança essa na roda e nos encaramos.
— Ele o que? — Falo abismada.
— Aham, se ela aparecer hoje aqui é corajosa.
— Minha menina é corajosa. — Luiza diz e Mia entra no salão.
Dou uma inspecionada nela e ela parece bem, mas está com uma blusa de manga longa...
— Tudo bem Mia? — Patrícia pergunta.
— Tudo sim. — Fala meio triste e entra no salão.
O que rolou com a Mia será?
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Mocinha do Chefe
RomancePuma comanda a quebrada tem um tempo, e desde muito novo teve que aprender a se virar. Frio e sem família, sua vida gira em torno de dinheiro, mulher e droga. Ninguém ousa bater de frente com o chefe. Nala é uma garota simpática que faz de tudo para...