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NALA

Vejo que Guizin tava olhando bastante pras crianças brincando no campo.

Eu não tô nem ai, me aproximo dele e de Puma e falo o que acho.

— Deixa ele brincar com a gente! — Chego encarando Puma, que já me olha bravo.

— Que brincar o que porra? Tá metendo o louco caralho?

— Ele tá toda hora olhando as crianças, deixa ele brincar um pouco! — Bato o pé naquilo mas Puma não parece reagir.

— O pivete tá em trampo porra! — Diz mais alto.

— Tá tudo bem tia... Eu fico aqui... — Gui diz pra mim o que faz eu não querer ainda mais aceitar aquilo.

— Não! Ele vai brincar! Não tem nada acontecendo no morro...

— Não tem nada acontecendo? Que bom! Então vou liberar todo mundo e deixar geral livre! Se os cop aparecer mete bala em geral sem nois nem saber né? — Fala irônico e depois muda a expressão pra bravo. — Tu tá me tirando pra otário! Só pode!

— Ele é criança, é domingo, não tem porque tu segurar ele aqui.

— Se eu quiser, eu seguro ele aqui até amanhã porra! Tu não manda nada!

Eu respiro fundo.

Vou ter que usar outra tática...

Olho bem nos olhos dele.

— Por favor Puma...

— Não! — Fala relutante.

— Por favorzinho! Deixa ele brincar de pega pega com as crianças... — Faço uma carinha triste.

Puma me olha menos bravo e eu acho que tenho chances.

Ele fica em silêncio.

PUMA

Porra agora fudeu.

Ela tá me olhando com cara de cachorro abandonado.

É pra acabar!

Ela acha que eu não sei, mas sei muito bem o que ela tá tentando fazer pra me convencer... E tá funcionando, droga!

— Vaza então porra! Vai muleque! — Falo bravo cortando aquele contato visual que ela criou.

Quando olho de novo pra ela, ela tá sorrindo muito feliz.

Saco!

O Guizin tira a arma dele, coloca em um canto e corre em direção as crianças.

Esse pivete do caralho também, não tem nem um pingo de cuidado com a arma!

Me viro e ela ainda tá ali.

Eu fico de braços cruzados enquanto olho ela sorrindo.

Que sorriso lindo, sério!

— Tu é uma boa pessoa Puma... Não tem que pagar de bravo sempre... — Diz andando em direção ao campo e eu fico replexivo depois disso.

Não quero ser uma pessoa boa, eu sei que não sou.

Já matei muita gente e já fui um puta de um filho da puta pra geral aqui.

Tenho que ter um pulso firme com a galera pra essa quebrada não ser detonada pelos cop, mas é foda.

Não sei como me perdi nesse mundo, não me conheço muito bem agora quando eu tô com ela.

Alguma coisa na mocinha faz eu pirar e ficar calmo.

Sempre fico calmo quando nois tamo bem e fico puto da vida, com uma raiva que nunca vi antes, quando nois tá mal.

Sei lá que porra é essa.

Desço o morro indo em direção ao campinho e os cara já tão lá.

— Nois tava esperando tu aparecer.

— Tô aqui já, bora começar essa porra. — Falo e todo mundo se posiciona.

Nem preciso gritar pras crianças saírem do campo, porque quando elas veem nois entrando, já metem o pé.

Nala sai com os pivete, mas eu não a olho.

Não quero nada com essa mina e eu sinto que com ela, eu saio dos eixos.

Fico perdido, como se tivesse em outro mundo, é uma sensação boa, mas também, uma sensação que eu não conheço.

Não quero e nem sonho em virar um Thomas da vida, nunca pensei em ter família e muito menos filhos.

Mas com ela, parece que tudo muda e eu talvez tenha medo disso...

O jogo começa e eu já corro pra sair com a bola na frente.

Umas minas gritam meu nome, mas eu finjo não escutar.

Dou uma olhada se Nala tá sentada na arquibancada, e ela tá bem no cantinho, mas parece estar olhando.

Eu dou o melhor de mim pra fazer uns gol aqui.

Não chego nem perto do Marcão, antes que role outra briga.

Agora... Se ele vir pra cima, eu não vou ter dó de meter mais soco na cara dele.

— BORA CARALHO! — Grito. — PRA MIM PAIVA! — Falo e Paiva passa a bola pra mim bem rápido.

Eu corro arrastando a bola até o gol e chuto no ângulo.

— GOL PORRA!! — Os mano sobem em cima de mim mas eu já afasto eles.

Voltamos a jogar e Bernardo tá me marcando aqui.

— BORA PUMA! TU É O DONO DAQUI MAS DE BOLA NÃO JOGA NADA NÉ?

Na mesma hora, eu largo a bola.

Me viro de frente pra ele já querendo ir pra cima.

— VEM BERNARDO PRA TU VER SE EU NÃO TE DESÇO O CACETE! — Digo indo com meu corpo pra frente dele e ele dá uma recuada.

Geral fica de olho mas eu dou meia volta e volto pro jogo.

Até o final, nois ganhou de 8 à 3 e Bernardo ficou calado na dele até o fim.

Quando saimos da quadra, umas mina vem falar comigo e me abraçar.

— Chega caralho! — Digo e vejo Nala saindo com a amiga dela.

O jogo ela viu então...

Mocinha do ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora