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𝓜iami, Flórida.
Cassie Miller.

𝓒erto. Haviam algumas coisas que eu precisava filtrar — em especial os pensamentos impuros que cutucavam a minha mente sempre que Tyler se mexia em cima da cama — especialmente quando estou me preparando psicologicamente para encarar esse homem sem pensar no pau dele.

Nunca tinha visitado o quarto de nenhum garoto antes e a experiência estava sendo bem diferente.

A começar pela coleção de carrinhos Hot Wheels que se espalhavam pelas prateleiras. Depois, haviam livros por toda parte, mas parte de mim — a parte ácida — se perguntava se Connor sequer sabia ler. Não imaginava que tinha um cérebro ao redor de seu crânio.

— O cenário que a Mary Shelley usa no livro é a parte da cidade de Genebra no século XIX, mais especificamente a Suíça. Você sabe o que acontecia na Suíça no século XIX? — perguntei, enquanto ele deitava na cama ao meu lado.

— Napoleão unificou a Suíça com limites fronteiriços levemente diferentes — respondeu, jogando uma bolinha pequena para o alto e pegando-a de volta com a outra mão.

— Você não vai pegar um caderno ou algo do tipo? — pergunto curiosa.

Tyler torceu os lábios e negou com a cabeça

— Não preciso disso — balbuciou.

— Não joga a culpa para cima de mim se tirar uma nota baixa — rebati.

— Não irei.

— Certo — suspirei, ainda desconfiada e retomei — O começo é um prefácio, quatro cartas do Capitão Robert Walton a sua irmã, divididos em três partes. A primeira o protagonista Victor Frankenstein decide construir um homem. Mas nessa tentativa, ele acaba criando um monstro. Porém o protagonista, abandonou a criatura, partindo numa viagem pelo...

— Você acabou de falar "criatura"? — interrompeu.

Reviro os olhos. Um retiro espiritual de uns oito anos seria ideal nesse momento.

Me perguntei qual som faria caso eu levasse o meu punho fechado até a sua barriga — extremamente — definida.

Ok. Agora eu estava pensando no seu abdômen. Não só pensando. Eu estava olhando para a pequena faixa de pele que ficou exposta quando ele ergueu os braços para lançar a bolinha de silicone para cima mais uma vez.

Como alguém conseguia ter músculos ali?

A calça estava baixa — baixa até demais —, e eu me perguntei se Tyler não usava cueca.

Merda. Quando comecei a pensar sobre as roupas íntimas dos outros caras?

— Gostou da vista? — ele perguntou, se apoiando nos cotovelos.

Achei que fosse derreter bem ali, na cama dele. Minhas bochechas esquentaram e eu voltei os olhos para o seu rosto imediatamente.

— Eu não estava...

— Ah, estava sim — um sorriso convencido preencheu seus lábios.

— Pode parar, por favor?

Meu sangue fervia quando a sua risada esquisita e fofa restringiu o quarto.

— Voltando... — tentei ignorar o momento extremamente constrangedor e levei meus pensamentos de volta ao universo de Frank. — Sentindo-se infeliz, o monstro desejava ser amado. A vida solitária e o sentimento de rejeição fez a criatura — enfatizo — Desenvolver um rancor do seu criador. O monstro mata o irmão mais novo de Frankenstein, e ainda, pede ao seu criador para lhe fazer uma companheira, caso contrário, não o...

— Você casaria com alguém que não gosta se recebesse tipo... 30 mil dólares por mês para gastar com qualquer coisa?

Você está desalinhando meus chakras filha da puta, pensei comigo mesma.

— Eu preferia virar traficante de drogas —bufei. — Amor não é uma coisa negociável. Agora, podemos focar no livro, por favor?

— Você só lê livros de romance? — questionou. — Porque isso explicaria o jeito que você pensa.

Fiquei, genuinamente, ofendida.

— Como é?

— Colocando o amor acima de tudo — explicou. — Existem coisas mais importantes do que o amor.

— Tipo dinheiro?

— Não, dinheiro não. Família, talvez. — refletiu.

— E o que você sente pela sua família não é amor? — comentei.

Um sorriso inesperado surgiu nos seus lábios e o silêncio pairou sobre nós por alguns segundos.

— Continua, Cooks.

Expandi o peito com um ar de triunfo e, pela terceira vez, retomei.

— Apesar das reações de medo das pessoas, o Monstro chegou até a salvar uma menina do perigo. Você deve estar se perguntando o por quê Monstro, não é? — pergunto olhando para Connor.

Ele nega com a cabeça.

— Monstro, ou criatura, era como a Mary Shelley chamava ele — ignorei seu ato de negação. — Depois de anos que começaram a denominar o mesmo como Frankenstein.

Continuei falando, falando e falando, até perceber que Tyler piscava pesadamente a cada palavra. Normalmente me sentiria ofendida, mas eu o entendia. Parei abruptamente e deixei o silêncio preencher o vazio entre nós por um ou dois minutos.

Ele não moveu um músculo.

— Quase fiz você dormir, né? — digo, e o boboca abre os olhos assustados.

— Tá mais para coma — reclamou.

Prendi uma risada.

— Certo — estendi a mão para pegar a minha mochila. — Isso não está funcionando.

— O que vamos fazer? — coçou os olhos.

Vasculhei os cadernos dentro da minha bolsa até encontrar o pequeno exemplar de Frankenstein. Era velho e surrado, mas teria que servir.

Apoiei um travesseiro na minha coxa e me recostei na cama, tomando uma posição mais confortável.

— Vamos ler o livro — disse. — Juntos.

— Eu só tenho uma semana até a prova, Cassie — resmungou. — Não vai dar.

— A gente termina isso em 3 dias, Connor. Confia em mim — insisti e, com um suspiro, ele se acomodou ao meu lado.

Folheei o livro e comecei.

— Carta um — faço uma pausa. — São Petersburgo, 17 de dezembro de 17. Você há de ficar contente em saber que nenhum desastre acompanhou o início desta minha aventura, que vem encarando com muitos maus presságios.

Dessa vez, Tyler não dormiu ou fez comentários estúpidos. Na verdade, ele parecia prestar atenção em cada palavrinha.

kiss, tori

ℳeu ℰclipse    ,   dark boyOnde histórias criam vida. Descubra agora