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𝓜iami, Flórida.
Cassie Miller.

logo a seguir, cenas de abuso
parental, infantil e traumas, se não
se sentir confortável lendo,
pula para o próximo cap. 

𝓜eu pai era um homem pontual e pragmático em todas as áreas da sua vida. Meus pensamentos estavam bagunçados desde que eu o vi, descendo daquela limousine enorme e cruzando a porta do meu apartamento.

Respirei fundo ao me preparar para uma enxurrada de julgamentos disfarçados de conselhos, porque esse era ele. O cara que não tinha papas na lingua e falava exatamente o que queria quando queria, de uma forma tão sutil e educada quanto um tapa de luva.

O Memorial Day é o feriado nacional nos Estados Unidos. Homenageia os militares americanos que morreram em combate. O meu pai, já foi um desses militares.

Sequer recebi um abraço. Oliver manteve os olhos no celular por uns 10 minutos depois de chegar. Minhas mãos estavam geladas e úmidas porque não tinha me preparado para esse momento. Nos últimos 2 meses, tudo em que me concentrei foi em mantê-lo longe — Atlantis era o meu passaporte para a liberdade, afinal de contas — mas, com ele ali, eu me sentia mais como uma ave em cativeiro do que a sua própria filha. Isso era assustador.

— Pai... Você... Você quer água? — gaguejei, torcendo os dedos atrás do balcão da cozinha.

Ele amaciou o terno com a palma da mão. Os fios de cabelos grisalhos e grossos brilharam quando Oliver ergueu os olhos na minha direção.

— Desaprendeu a falar também? — jogou com sarcasmo, endurecendo a mandíbula ao finalmente deixar o celular de lado e passar os olhos pelo meu dormitório.

Engoli em seco, virando de costas para ir até a geladeira.

— Ainda não acredito que você trocou Suffolk por isso — resmungou, encarando a pequena mancha de mofo no teto. — Eu ofereci um apartamento inteiro, comida e estudo de qualidade para você fazer uma escolha burra — soltou o ar. — Mas eu não me surpreendo, você puxou para sua mãe mesmo.

Precisei engolir uma resposta mal criada quando as suas palavras me atingiram com a força de um trem de carga. A única escolha burra que minha mãe tomou foi de ter aceitado Oliver Gutierrez como parte da sua vida. Meu estômago se apertou, como se tivesse sido atingido por um punho forte, e meu peito doeu. Senti falta dela, da forma mais crua e dolorosa possível.

Ele enrijeceu as costas, ficando de pé. Meu pai era um homem de um metro e oitenta de altura, com o corpo robusto e rugas fundas por trás do olhar mortal que oferecia a qualquer coisa que fosse capaz de se mexer. Ele era forte o suficiente para me erguer do chão com uma mão, se quisesse. Por isso recuei.

— Eu... Eu gosto daqui — digo insegura, olhando para á bancada a minha frente.

— Não culpo você por ter pego todos os genes fracos.

Que porra ele estava falando?

— Você pode, por favor, parar de me xingar?

— Xingar você? — riu com escárnio, do jeito mais cruel que podia imaginar. — Estou sendo realista, Cassie. Você veio para uma faculdade caindo aos pedaços porque é burra.

— Sinto muito, pai — descolei a língua do céu da boca. — Se é isso o que está tentando fazer aqui, não vou voltar para Califórnia com você.

— Você é uma ingrata — sibilou, entre dentes.

— Eu não sou, eu só... — desisto de falar.

Quando se tratava de ouvir minha mãe me ensinou o silêncio. Se você atropela a voz dos outros com a sua, ela dizia, não vai conseguir ouvi-los.

ℳeu ℰclipse    ,   dark boyOnde histórias criam vida. Descubra agora