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𝓜iami, Flórida.
Tyler Connor.

[ . . . ]

— 𝓒rianças, o jantar está pronto! — anunciou Charlotte ao sair da cozinha e dirigir-se à sala.

A casa não sofreu grandes alterações após a morte de Aurora. A decoração mantinha-se rústica, valorizando o visual e a textura dos materiais naturais. A sala era ampla, composta por um sofá cinza, uma lareira e um tapete que cobria a maior parte do chão. Havia muitas plantas próximas à Televisão, algo que minha mãe adorava.

Levantamo-nos e digirimo-nos para a cozinha, um ambiente acolhedor, assim como a sala, que também não havia mudado muito. Uma bancada de pedra dividia a cozinha da sala. O piso de madeira envelhecido e os tons terrosos, tudo remetiam á memória de Aurora.

— Então, como está a faculdade? — perguntou meu pai, sentando-se de frente para mim.

— Está indo muito bem! Estou extremamente focada — respondeu Jane com entusiasmo, sentada ao meu lado, e assim começou a tagarelar.

Meu celular vibrou no bolso da calça Ao puxá-lo, vi o nome de Cassie na tela. Meu coração acelerou, por um momento pensei estar delirando. Esfreguei os olhos, mas a notificação ainda brilhava na tela.

mocreia
um passarinho me contou que um tal de connor me carregou no colo ate em casa quando eu estava bêbada

Sorri de forma contida com seu comentário. Então ela não se lembra da nossa conversa tão madura?

E o nome do contato? Como bônus, dei esse nome a ela quando eu tinha 17 anos, após seu desaparecimento.

— Filho? — chamou Adam.

Levantei o olhar, notando sua expressão de raiva.

— Hm? — bloqueei o celular, retomando uma expressão séria.

— Sem celular à mesa! — sua voz soou rígida.

Revirei os olhos e guardei o aparelho no bolso da calça.

— Não precisa fingir que está feliz em me ver — disse ele, pegando seu prato e começando a se servir.

Todos seguiram o exemplo.

— E eu nem estou fingindo. Algum problema? — ironizei.

Ele fechou a cara e todos começaram a comer em silêncio.

— Soube que a Cassie voltou para Miami. Estou certo? — Adam me encarou, esperando alguma reação minha. — Espero que ela não ponha os pés nesta casa.

— Não fale assim dela! — vociferou Jane, defendendo a amiga dela.

— Falo como eu quiser. E não levante o tom de voz comigo, Jane Connor! — retrucou ele, ríspido.

A pele da mesma empalicedeu, demonstrando medo.

— Ela fez muito mal para o seu irmão. Nunca gostei daquela... Daquela... — ele pareceu procurar uma palavra — Vadia.

Quando essa palavra saiu da boca dele, meu sangue ferveu. Cerro o punho.

— Você sempre tem que reclamar de alguma coisa, não? — larguei os talheres, contendo-me para não arremassá-los em Adam.

— É difícil não reclamar quando você não faz nada certo.

— Talvez se você parasse de tentar controlar minha vida, as coisas seriam diferentes — respondi no mesmo tom.

— Tentar controlar? Eu só quero que você tome jeito e faça algo de útil.

— Como se você fosse o exemplo perfeito de utilidade. Tudo que você faz é criticar e descontar sua frustração nos outros — minha voz sai com um tom de ironia.

— Frustração? — ele riu, como se fosse uma piada. — Acho que a frustração aqui é ter um filho que não respeita ninguém.

— Respeito? — bato na mesa. — Você quer respeito? Respeito se ganha, não se impõe com gritos e críticas.

— Eu só quero o melhor para você, mas você insiste em jogar tudo fora — quando ele terminou de falar, sua voz mostrou-se alterada, o tom alto ecoava pela pequena cozinha.

Todos da mesa estavam nos observaram, sem esboçar reação. Medo? Vergonha? Raiva? Não sei.

— O melhor para mim? Tudo que você quer é que eu seja uma cópia sua.

— Acalme-se Adam! — pela primeira vez naquela noite, a nova noiva do papai se pronunciou.

— Cale-se Charlotte! — Adam aponta o dedo no rosto dela, assustando-a.

Minha mente entra em um flashback: a mesma coisa que aconteceu com mamãe, estava prestes a acontecer com ela.

— Se ele ao menos tivesse metade do meu senso de responsabilidade...

— Responsabilidade? — interrompi. — A única coisa que você sabe fazer é trabalhar e reclamar. E quer que eu seja igual?

— Se você tivesse um pingo de esforço e dedicação. Se não vivesse apostando corrida tolas, quebrando o carro a cada oportunidade, e se entupindo de drogas, talvez não estivéssemos tendo essa conversa. — ele me olha com desagrado.

— Eu tenho, mas não para ser o que você quer. Não desejo ser o seu fantoche — levanto, pronto para sair dali.

— Sua maneira só leva a problemas e fracassos. Veja seu carro, sua vida... — ele pausa. — Sua mãe.

Caralho.
Minha visão começa a ficar turva.

— Não fale da mamãe! — exaltei-me, avançando em direção a ele.

— Vamos, Tyler, não vale a pena! — Jane me segurou. O sorriso cresceu no rosto doentio do Adam.

Minha mente desejava esmagar o rosto dele. Mas o olhar de Jane. Minha Jane. Fez-me virar as costas e sair daquela casa.

— Vá viver sua vida do jeito que quiser. Só não espere que eu te ajude a levantar quando cair — ele disse assim que pisei no enorme quintal.

— Não se preocupe. Prefiro cair sozinho a ter que ouvir mais uma palavra sua — por fim, virei-me e fui embora com Jane, torcendo para que o meu pai fosse muito feliz com sua estúpida vida de merda.

kiss, tori

ℳeu ℰclipse    ,   dark boyOnde histórias criam vida. Descubra agora