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𝓜iami, Flórida.
Tyler Connor.

𝓞 silêncio nunca tinha sido tão preocupante.

Cassie não disse uma só palavra durante todo o caminho em direção a sua casa. Não sabia do certo se era porque estava alcoolizada ou porque estava apavorada, mas eu odiei cada segundo.

Quando chegamos, não hesitei em ficar.
Não era esperto deixar uma pessoa bebada sozinha, especialmente Cassie — porquê ela tinha boas intenções mas fazia péssimas escolhas. Em momentos de euforia, era o tipo de garota que saltaria do segundo andar de um prédio apenas para se certificar de que não tinha genes felinos.
Talvez por isso, alguns anos atrás, tenha acabado na minha cama após bebericar algumas taças de vinho que Jane roubou da adega de Adam — depois que a mamãe morreu, ele precisou de uma maior.

Nunca cruzamos nenhum limite, no entanto. Cassie nunca tinha sido tocada por alguém antes e, por mais sedento que eu pudesse ser, eu não era um babaca. Jamais tocaria uma garota sob efeito de álcool.
Especialmente quando, no dia seguinte, Miller desaparecesse como fumaça e enviasse uma mensagem de texto com quatro miseras palavras:

"me desculpa por ontem"

Eu pensava: Onde estava com a cabeça quando deixei essa garota entrar na minha vida?

Porque sabia que ela era confusa — tão confusa quanto eu. E sabia, mais ainda, que seríamos uma catástrofe da qual um de nós não sobreviveria.

E eu estava certo. Eu me sentia morto desde que Cassie Miller desapareceu da cidade, sem deixar rastros. Cheguei a visitar a sua mãe inúmeras vezes, mas ela se recusava a dizer qualquer coisa que não fosse "eu sinto muito" — ou, quando estava de mau humor, simplesmente fechava a porta na minha cara.

E, agora, que estava de volta eu sentia medo de voltar à vida.

— Eu sei andar sozinha — ela resmungou quando saímos do carro.

Cassie tropeçou no instante que soltei o seu braço e, pela segunda vez naquela noite, ela caiu de bunda no chão.

— Por que você tem que ser tão teimosa? — perguntei, pousando a mão debaixo dos seus braços antes de colocá-la de pé novamente.

— Eu não sou teimosa — rebateu, claramente irritada.

Ela enroscou o braço dos meus ombros, mas era tão baixa que precisava ficar na ponta dos pés para se equilibrar. Estava na cara que não daria certo e nós ainda nem tínhamos chegado à sua porta. Passando o braço pela sua cintura, puxei o corpo de Cassie e o joguei por cima do ombro enquanto segurava seus saltos com a mão livre.

Sem protestar, se agarrou à minha camisa com medo que caísse. Subi dois lances de escadas antes de colocá-la no sofá, já dentro de casa. Não tinha muito o que observar. Tirando a pilha de livros em um dos cantos da sala, era um apartamento de uma garota comum — com direito a um sofá cinza, móveis brancos e de madeira e um tapete enorme de veludo no meio da sala.

Andei pela cozinha, peguei uma garrafa de água na geladeira e um copo no armário, e voltei para a sala. O silêncio caótico do ambiente foi preenchido por um ruído esganiçado e, quando meus olhos pousaram em Cassie, vi seus ombros se mexerem e ela segurar os joelhos contra o peito com força.

Puta merda.

Ela estava chorando — e não do tipo lágrimas silenciosas e discretas. Cassie estava soluçando como se tivesse acabado de levar um soco no estômago.

— Cacete — murmurei, largando tudo em cima da mesa antes de me agachar à sua frente. — Cassie, olha para mim — toquei o seu joelho gentilmente.

Senti meu peito doer como se estivesse sendo espremido por uma tonelada de concreto toda vez que ela soluçava.

Ela não se moveu. Apenas continuou chorando e chorando e eu fiquei apavorado.

Porra, eu odiava vê-la chorar — mesmo que ela me fez passar noites chorando — minha mente listava centenas de motivos plausíveis quando um em específico me fez cerrar os punhos, irritado.

— Espera — disse. — Aquele filho da puta machucou você? Eu juro por Deus que vou voltar naquela...

Você me machucou — Cassie berrou, aos prantos, e eu paralisei.

Seus olhos oceânicos, agora marejados, me encaravam. Dei passos para trás até encostar na parede. Confusão.

Eu machuquei ela?

kiss, tori

ℳeu ℰclipse    ,   dark boyOnde histórias criam vida. Descubra agora