Aaron 3 Mundos - Guerreiros Da Luz

Capítulo: Viver ou Morrer

Ecos de dor e desespero reverberam ao meu redor. Ainda estou em queda livre. A escuridão é total, impenetrável. Mas já posso sentir a angústia se aproximando, como uma tempestade no horizonte. Os sons terríveis aumentam em volume, tão altos que tenho vontade de tampar os ouvidos, mas eles parecem ter se infiltrado em minha mente e alma, e não há escapatória. Tudo o que desejo é que esse tormento termine logo.

Até que caio com um baque surdo no chão sólido, como uma pedra atirada no fundo de um poço. Sem abrir os olhos, permaneço deitado, reunindo coragem para me levantar. Ainda atordoado, observo o lugar, e nada poderia ter me preparado para o que vejo e ouço.

Novamente fecho meus olhos, questionando a realidade da minha presença ali, cercado por tanta dor e escuridão. Seria realmente verdade o que estou vivendo até agora, ou seria apenas um sonho absurdo em uma daquelas longas noites em que o sono não vem? Abro os olhos e constato que aquilo é, de fato, realidade.

"Aaron, bem-vindo ao inferno", murmuro para mim mesmo, enquanto dou os primeiros passos hesitante.

Lugar horrível, sentimento de morte. Dor, sombras vagando por todos os lados. Criaturas me olhando. O cheiro que ficou pior. Tudo escuro. Mas vejo as chamas em um ponto mais distante. Nem sinto vontade de me levantar, que merda que eu fui fazer em cair no papo daquele velho.

- Bem ficar aqui deitado se lamentando não irá me ajudar em nada, bora levantar e acabar logo com isso. Ou morrer de vez e aqui e já ficar.

Levanto e ando em direção as chamas, e ao me aproximar reparo que acima delas almas caem, uma após a outra, em um abismo sem fim. Ecoam gritos de dor, súplicas de perdão. Angústia e sofrimento permeiam o ar. Uma cena horrenda, a mais terrível que já presenciei. Decidi prosseguir, pois acredito estar próximo de Belzebu, o guardião dos portões do Inferno.

A cada passo que dava, o cenário se tornava mais terrível e sombrio. Eu sabia que o Inferno era ruim, mas quem fala sobre ele não sabe o que é presenciar isso, inalar esse enxofre, sentir esse frio doloroso. E o frio é insuportável. É um frio que penetra nos ossos, que congela a alma. Apesar do fogo que arde ao redor, o inferno é um lugar de frio eterno, um frio que nunca cessa, que nunca dá trégua.

A dor e o sofrimento parecem ser os únicos habitantes deste lugar. Cada respiração é uma luta, cada movimento é uma tortura. O ar é pesado e desesperador.

E assim, eu continuo, passo após passo, enfrentando o desconhecido, enfrentando o inferno. Cada passo é uma vitória, cada respiração é uma batalha ganha. Mas a guerra está longe de acabar. E eu estou apenas começando.

Avancei por um corredor sombrio, iluminado apenas por tochas de fogo azul. A escuridão era quase total, e me perguntei? Por que acender tochas que pouco iluminam? A resposta era óbvia! Para realçar a dor e o sofrimento. Mais à frente, deparei-me com um portão feito de pedra, era enorme. Nele era marcado por inscrições em uma língua desconhecida.

Vocês devem estar pensando? Ele acabou de chegar e já encontrou o que procurava?

Caminhei por horas, talvez dias, tudo parecia ser a mesma coisa. O tempo parece não passar aqui. Um ciclo infinito de insanidade e sofrimento. Sentia que aquilo estava começando a fazer parte de mim, como se minha alma estivesse se tornando prisioneira do lugar. Vi pessoas que conheci em vida, lembro-me de que costumavam ser felizes com toda a riqueza que tinham, mas ao cair aqui, percebi que tudo o que possuíam, junto com sua ganância, os arrastou para cá. E aqui estão, condenados a vagar em busca de luz.

Justamente ao pensar nisso, avistei uma figura familiar. Era um velho amigo de escola, Miguel. Apesar de seu nome ser bíblico, não foi o suficiente para salvá-lo do purgatório. É uma pena sentir que ele precisa de ajuda e eu nada posso fazer para salvar sua alma. Sinto muito, meu amigo, mas tenho que deixá-lo aqui e seguir meu destino. Em seu olhar, percebi que ele queria dizer algo. Em seu silêncio, conseguia ouvir seus gritos de desespero e dor. E em seu olhar, entendi que nada eu poderia fazer para ajudar.