Capítulo: O Sopro da Vida Contra as Sombras

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Estávamos imersos em desalento, eu e meus companheiros, sem forças para escapar daquele abismo. Lentamente, a cada suspiro, afundávamos na areia negra que nos envolvia. A certeza da morte pesava sobre nós, uma verdade cruel e inescapável. Em vão, nossos olhos buscavam algo a que nos agarrar, uma esperança para nos arrancar daquele destino. Mas, mesmo em nossa calma resignada, a areia negra nos arrastava, inexorável, para o fim.

Dizem que um filme da vida se desenrola diante de nós no limiar da morte. Para mim, que mal comecei a viver verdadeiramente, o ecrã permanece em branco. A única imagem que surge é a do meu gato excêntrico, o único companheiro constante em minha jornada de vida. Nutro a esperança de que ele se adapte à minha ausência; ainda que, no fundo, saiba que ele não depende de mim para nada.

É desolador encarar as expressões abatidas de todos, um espelho da perda iminente que nos envolve. Imagino Lúcifer, em algum lugar distante, esboçando um sorriso zombeteiro ao testemunhar nossa derrocada. Ele deve estar se deleitando com a ironia do nosso destino, saboreando cada momento que me aproxima do fim.

Voltei meu olhar para Hela e, com uma voz suave, mas carregada de emoção, confessei o amor profundo que nutria por ela. Lamentei as circunstâncias que nos cercavam e expressei o desejo ardente de ter a oportunidade de revelar a magnitude do meu amor. Declarei que não conseguia imaginar um futuro sem a luz da sua presença para iluminar meus dias.

Ao ouvir as minhas palavras, Hela sentiu uma onda de emoções transbordar em seu coração. Seus olhos brilharam com um misto de surpresa e alegria, e um sorriso tímido floresceu em seus lábios. Por um momento, ela ficou sem palavras, tocada pela profundidade da confissão.

Então, com uma voz trêmula, mas doce, ela respondeu que também sentia um amor imenso por mim e que sua revelação era o eco dos sentimentos que guardava em silêncio.

Raziel observou a cena com um olhar sábio e um leve aceno de aprovação, reconhecendo minha coragem. Petra arregalou seus olhos dançando com faíscas de excitação pela revelação. Meridith sorriu com doçura, seus olhos marejados refletindo a emoção do momento. Máximos ergueu uma sobrancelha, surpreso, mas um sorriso orgulhoso se formou em seu rosto. Bel, sempre o menos expressivo, deixou escapar uma exclamação de encanto, celebrando o amor que florescia diante de todos.

Havia uma beleza trágica naquele momento, um misto de emoção e melancolia que permeava o ar. Trocar declarações de amor enquanto sentíamos o frio penetrante da morte iminente era um paradoxo doloroso. Em nossos corações, o calor dos sentimentos contrastava com a gelidez da realidade que nos cercava. Era necessário aceitar, com pesar e resignação, que aqueles seriam nossos últimos instantes de vida, que nosso último suspiro seria compartilhado ali, naquele lugar onde o amor floresceu em meio ao desespero.

- Parece que chegamos ao final da linha, meus amigos. - Eu disse, olhando para o grupo com um misto de tristeza e aceitação.

- Lutamos contra demônios e triunfamos, para agora encontrarmos nosso fim neste deserto implacável. - Máximo, com apenas o rosto emergindo da areia, falou com uma voz abafada.

- E pensar que vencemos tantas batalhas, apenas para sucumbir aqui. - Pietra, com um suspiro de pesar, acrescentou.

- E eu que sonhava amar e ser amada, consegui isso, pensava em voltar aos meus jardins, cuidar das flores e de quem tanto amo. - Hela, com lágrimas brilhando em seus olhos, murmurou.

- A morte não é o fim, mas uma passagem. A verdadeira vida se revela quando deixamos este plano. - Raziel, com um brilho de esperança em sua voz, interveio.

- Peço perdão a todos vocês. - Eu digo, a melancolia tingindo minhas palavras.

Bel queria dizer algo, mas suas mãos embaixo da areia negra, nada podia dizer.

Aaron 3 Mundos - Guerreiros Da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora