A escuridão sempre esconde segredos, e os encontros com o sobrenatural nos levam a becos sombrios da alma. Permita-me contar minha história.
Minha história não é digna de aplausos, como tantas outras por aí. Fui abandonado por minha mãe pouco depois de nascer, entregue ao meu pai, que lutou para me criar. Tenho uma única lembrança do meu avô, me entregando uma Cruz quando eu era menor. Mas não é disso que quero falar; histórias assim são mais comuns do que se imagina.
O que vou relatar é o meu encontro com o sobrenatural, algo que sempre esteve presente em minha vida, mesmo negando quando Raziel me encontrou. Tudo começou quando eu era criança, no ônibus escolar, após ser atormentado por um grupo de valentões. Foi um momento doloroso e perturbador. Meu olho esquerdo ainda carrega a marca desse episódio.
Chorando, sentei perto da janela do ônibus e olhei para fora. Após algum tempo, próximo à chegada à escola, avistei uma sombra sinistra! Uma sensação terrível tomou conta de mim, como se minha alma congelasse ao ver aquela figura. O pior de tudo foi que ela também me viu!
Ao descer na escola, corri para dentro e fui ao banheiro. Joguei água no rosto três vezes, tentando convencer-me de que aquilo não era real. Quando olhei no espelho, a porta do banheiro se abriu lentamente. Virei-me, mas nada nem ninguém saiu de lá. Voltei à pia, joguei água no rosto novamente e, ao erguer a cabeça, vi a criatura medonha atrás de mim. Seus olhos escuros me fitaram, e suas garras apertaram meu ombro enquanto sussurrava.
— Sabe por que estou aqui? — perguntou a criatura.
Tremendo, respondi:
— Não. E nem sei quem é, muito menos o que quer de mim!
— Vim para levar-te ao submundo e garantir teu descanso eterno. — Riu baixinho, ecoando pelo banheiro sombrio.
Minha fuga da criatura foi um misto de desespero e intuição. Enquanto suas garras apertavam meu ombro, minha mente trabalhava em busca de uma saída. Lembrei-me vagamente de uma história que meu avô costumava contar sobre a antiga Cruz que me deu.
Com a criatura ainda atrás de mim, arranquei o cordão do meu pescoço e segurei o pingente de prata. A cruz era estilizada, com símbolos entalhados nas bordas. Fechei os olhos e murmurei uma prece que meu avô costumava recitar.
De repente, senti uma rajada de vento frio e ouvi um grito agudo vindo da criatura. Quando abri os olhos, ela havia desaparecido. A Cruz que agora viria a se tornar meu amuleto havia funcionado! Tremendo, saí do banheiro e corri como se não houvesse o amanhã.
Após aquele encontro, a escuridão se tornou minha companheira constante, e eu sabia como lidar com tudo aquilo. Cada encontro com a criatura e outros demônios infernais me empurrava mais fundo no abismo, mas eu estava determinado a enfrentá-los! Não sei como, mas daria um jeito.
Em uma noite tempestuosa, enquanto estava em meu quarto, deparei-me com uma figura sinistra. Seu nome era Azazel, o portador da ira, emergiu das sombras. Seus olhos ardiam como brasas, e suas asas negras se estendiam como garras afiadas.
Ele me desafiou:
- Por que se opõe a nós, Aaron? - Diz o demônio. - Não vê que somos os arautos do caos, os executores do destino? Não irá concluir seu propósito.
Minha resposta foi firme:
- Não sou um joguete das trevas. -Firme falei. - Você fala sobre meu propósito, mas eu não sei nada sobre isso. Não permitirei que sigam adiante com suas maquinações.
Azazel rosnou, e o vento uivou em resposta. Com aquela resposta Azazel desapareceu no ar. A Cruz de proteção brilhou em meu peito, aquilo de fato era minha proteção, acho que de alguma forma meu avô estava nela, olhando e me guiando por onde fosse.
Eu era apenas uma criança, indefesa e confusa, mas carregava comigo um legado ancestral: a Cruz, um amuleto que meu avô havia me deixado. As aparições sombrias tornaram-se cada vez mais frequentes, sussurrando sobre meu propósito, embora eu não compreendesse completamente o que isso significava. Tudo o que eu queria era entender por que esses demônios me perseguiam e como, com o poder do meu amuleto, eu poderia me livrar deles.
A cruz de prata pendia em meu pescoço, seus braços entrelaçados formando um símbolo de proteção. Eu a tocava em momentos de medo e incerteza, buscando coragem e respostas. À medida que crescia, aprendi a história da Cruz: um emblema usado pelos Cavaleiros Templários, guerreiros destemidos que enfrentavam o mal em nome da fé.
Um dia mexendo em minhas coisas achei um pedaço de papel meio amarelado e rasgado. Li o que havia, me surpreendendo ainda mais.
"Você não sabe o que está por vir, garoto," escreveu meu avô, "Essa Cruz não é apenas um adorno. É um pacto antigo, um elo entre mundos."
Nada mais tinha escrito, boa parte havia sido rasgada, restando apenas essas poucas palavras. Mas de grande significado, que na época não entendia.
Com o tempo, as criaturas sombrias foram desaparecendo, como se temessem a prata que eu carregava. Mas eu ainda não entendia meu propósito. Eu era um guardião entre os mundos, um vidente destinado a manter o equilíbrio? Quem sabe o que de fato era meu papel?
A Cruz passou a ser apenas um acessório que usava no meu dia a dia.
Um dia andando na cidade, mal saindo da adolescência, a escuridão envolvia-me como um manto, e a Cruz, esquecida, agora parecia pulsar em meu peito. O velho, com olhos tão profundos quanto o abismo, segurou-me pelos braços, suas rugas contando histórias de séculos passados.
— Você é o escolhido — disse ele, a voz sussurrando em minha mente. — O Guerreiro da Luz.
Minhas pernas tremiam, e o mundo parecia girar. O que ele queria de mim? Por que eu?
— O que isso significa? — perguntei, minha voz mal passando de um sussurro.
O velho sorriu, os dentes amarelados contrastando com a escuridão de sua barba.
— Você escolhido por Deus pai— disse ele.
Eu olhei para o céu escuro, meus braços entrelaçados como se protegessem algo sagrado. O velho continuou:
— Os demônios estão à espreita, jovem guerreiro. Eles sentem sua presença, e você deve escolher: aceitar seu destino ou negá-lo. Mas lembre-se, cada escolha tem consequências.
Eu não sabia o que fazer. A cidade parecia mais escura, as sombras ganhando vida. O velho desapareceu na névoa, deixando-me uma sensação de urgência.
E assim, com o peso do mundo sobre meus ombros, tornei-me o Guerreiro da Luz. A Cruz de Malta não era apenas um acessório; era minha conexão com algo maior. E enquanto eu a carregasse, enfrentaria os demônios e protegeria os mundos, mesmo que isso significasse sacrificar minha própria alma.
Continuei Meu caminho, agora ciente do propósito que aqueles demônios tanto temiam. Meu amuleto era uma recordação, uma alma adormecida, e minha conexão com algo maior. Apenas vivi minha vida normalmente após todos esses eventos quando mais jovem, até o momento que aceitei meu propósito como o escolhido por Deus a trilhar os caminhos da guerra contra as trevas.
A cidade à minha volta parecia mais densa, as sombras dançando em antecipação. Os demônios espreitavam nas vielas escuras, olhos famintos fixos em mim. E eu parei de enxergar aquilo por anos, mas sabia que lá estavam.
Fim Do Capitulo 32
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Aaron 3 Mundos - Guerreiros Da Luz
General FictionEste livro narra a saga de um jovem, Aaron, escolhido pelo próprio Deus para prosseguir com as batalhas celestiais. Ele é encarregado de combater as forças das trevas, onde o Demônio busca romper as correntes que unem três mundos: o Céu, o Inferno e...