VII

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Eu dirigia em silêncio. Focava na estrada para fora de Istambul e tentava controlar a vontade que me dava de ir até Hakam e acabar com a raça do miserável. Eu sei que foi ele, não teria outra hipótese. Giovanna estava quieta do meu lado, foi uma grande resistência da parte dela me deixar levá-la, mas jamais viveria tranquilo com a ideia dela ir sozinha. Sabe-se lá o que iria encontrar, até mesmo com quem.

— Vamos chegar lá logo. — eu falei baixo para não assustá-la.

— Obrigada mais uma vez, eu poderia ir sozinha.

— Eu sei, mas não seria certo. Você não precisa passar por algo assim sozinha.

Ficamos em silêncio por um instante. O rádio estava baixo, a música suave. Eu só queria mais tempo com ela antes do inferno começar. Eu só queria conhecê-la melhor antes de qualquer coisa. Só queria que ela confiasse em mim.

— Menti para você. — ouvi ela falar.

A olhei rapidamente e ela olhava para o lado de fora da janela.

— Com o que?

— Não falo com a minha mãe. Ela morreu há 4 anos.

Processo a informação por um tempo. Não sei exatamente o que dizer, a voz dela não tinha um pesar de luto, mas uma aceitação forçada.

— Sinto muito, Giovanna. Quer... me falar por que mentiu?

— Não pensei que eu fosse te ver de novo, queria poder ser mais normal por um instante, uma vida menos trágica. Por isso não falei sobre meu pai.

Aperto o volante.

— O que houve com seu pai?

— Ele é um alcoólatra viciado em jogos, tem dívidas exorbitantes que no final sempre sou eu que pago, é um ser humano desprezível. A essa altura eu nem sei mais para quem ele deve.

Eu sinto a pontada em minha mente, o peso na consciência. O maldito sou eu, eu que controlo a vida de seu pai agora. E Hakam joga com seus peões. Estamos presos, Giovanna, e você não faz ideia disso. 

— Sinto muito, Giovanna. Eu não consigo imaginar como deve ser tudo isso para você. 

Sinto ela me olhar. Tenho vontade de parar o carro e abraçá-la como fiz no Ataturk, mas me contendo em pegar sua mão e apertar na minha, tentando passar meu apoio para ela. Giovanna tira a mão da minha, se ajeita no banco. 

— Eu agradeço por me levar até o hospital, mas não precisa ficar lá, sei que deve ter um monte de coisas para fazer e eu não quero te atrapalhar. 

— O que está dizendo? Não vou te deixar sozinha. 

— Qual é, Alexandre... não precisa se envolver em tudo isso, eu sou mais do que capaz de lidar com os problemas que meu pai tem. 

Dessa vez eu realmente jogo o carro no acostamento, ligando o pisca alerta, puxando o freio de mão. Ela me olha assustada, seus olhos escuros cheios de tempestade, o ombro tenso, pesado. Eu não sei as coisas que ela já passou com o pai, não sei sobre a morte de sua mãe, não sei de nada, mas o que sei é que a partir de agora não tem a menor chance de que eu fique longe dela.  Não consigo, não quero, não vou. A conheço há pouco tempo, mas a força dentro de mim que me puxava até ela era maior do que tudo. 

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