IV

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Você me salva desta cidade
Sen beni bu şehirden kurtar

Vamos encontrar um lugar longe do mundo
Bir yer bulalım dünyadan uzak


Algo dentro de mim trava, me sinto sem palavras, e eu costumava ser mais comunicativa do que isso. Volto a balançar meu corpo, pois a batida da música é viciante. Penso em Naz e Asya, e como elas subiriam pelas paredes ao ver que Alexandre Nero dançava junto comigo. Um dos homens mais ricos da Turquia, bem aqui, dançando comigo. Ele se aproxima de mim, não me toca, mas de alguma forma me guia, e volto a fechar meus olhos.

É o álcool, é a frustração, pode ser raiva da vida também, mas me permito ser apenas uma mulher normal bem aqui. Sem responsabilidades, que os julgadores me permitam essa dádiva.

Posso sentir o cheiro de álcool vindo dele também, bem melhor que de cigarro, lógico, mas que me diz que talvez ele também tenha se permitido ser mais normal essa noite.

Quando abro meus olhos, o olhar dele está fixo em mim, como se analisasse cada movimento com atenção, como se eu fosse uma de suas ações em risco de queda. Um arrepio percorre por meu corpo.

— Eu estou ficando com fome, quer sair daqui e comer alguma coisa? — ele perguntou alto, tentando ultrapassar a música.

Concordo sem dizer nada.

Para mim, hoje, ele não é ninguém além de um cara qualquer.


Eu não sei da onde saiu a minha vontade de dançar com ela. Acho que desde o momento em que a vi chegando, sendo puxada por sua amiga até o grupo, ou será que foi quando a vi sorrindo. Era tudo que eu precisava ver e não sabia, acho que desde o dia da formatura eu tinha essa necessidade oculta que foi finalmente suprida.

Até a vontade de fumar que me consumia finalmente foi embora. Só precisava vê-la sorrir.

Não me justifiquei para meus amigos, sumi. Caminhei até ela, dançava como uma deusa, como se despejasse o peso do mundo no chão. Eu não dançava, mas dancei com ela. Não me importava tanto assim com os outros, mas me importei com ela de cara.

Quando ela concordou em sair para comer alguma coisa, fiquei feliz. Era minha chance de ver esse sorriso de novo, dessa vez só para mim.

Da onde vinha isso, Nero? Da onde vinha?

Ela guiou a saída. A segui. A via mexendo no celular, provavelmente avisando o pessoal que estava com ela que a noite tinha acabado.

O lado de fora estava mais fresco, mas eu fui obrigado a abrir os primeiros botões da camisa. Giovanna logo prendeu os cabelos em um coque, e me olhou.

— E agora? — tão incisiva.

Fiz logo um sinal para o taxista e sorri para ela.

— O que gosta de comer?

— Qualquer coisa, só sei que estou faminta.

Abro a porta do táxi para ela, fechando logo e dando o endereço para o motorista. É nesse momento que percebo que não nos conhecemos o suficiente para manter uma conversa casual. Olho para ela, e ela olhava para fora. Depois de um tempo, resolve falar.

— Se quiser pode me deixar em casa mesmo.

Me assusto.

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