— Querida, pode me ajudar com esse e-mail? — escuto a voz de Kemal me chamando e deixo minhas coisas de lado.Foi no terceiro dia de viagem de Alexandre que eu percebi que ele demoraria para voltar, não entraria em contato comigo, e que Omar só se limitaria a dizer que ele estava trabalhando. Eu resolvi voltar para o Ataturk. Inventei uma desculpa qualquer para Kemal, ele aceitou de bom grado já que estava morrendo de saudade.
Queria um jantar, mas eu disse que Alexandre estava resolvendo algumas coisas em Bodrum.
Vira e mexe eu me pegava pesquisando o nome dele na internet para ver se saía alguma notícia. Tudo que via eram matérias sobre nosso casamento, fotos que a imprensa conseguiu do casal do ano.
Eles não sabiam. Não faziam ideia.
— Prontinho, tio. – eu falo depois de alguns minutos.
Ele me agradece com um abraço, se afastando de mim para pegar algumas pastas na mesa.
— Você está quietinha, está tudo bem? Tudo isso é saudade do marido?
Forço um sorriso, nego com a cabeça.
— Logo ele está de volta. — eu falo antes de me calar por um instante.
A pergunta me corrói.
— Tio, você já mentiu para Canan? — eu pergunto depois de um tempo em silêncio.
Kemal para tudo que está fazendo e me olha.
— Assim... mentiras graves, que mexeriam com a confiança entre vocês.
— Já.
A resposta dele é tão certeira que eu tenho medo de ter mexido em algo que não devia. Espero, porque de alguma forma sinto que se ele quiser, vai falar mais.
— Quando eu me casei com Canan, eu já tinha a suspeita de ser infértil. Nunca falei isso para ela até que começamos a tentar. Não sei, acho que eu esperava um milagre. — ele olha para as próprias mãos como se a história se passasse ali mesmo em cada linha. — Quando eu percebi que o problema era eu, resolvi ser o mais canalha e dizer que não a amava mais. Que ela deveria procurar outra pessoa para realizar o sonho de ser mãe.
— Tio...
— Ela ficou dilacerada, mas graças a Deus ela sempre foi a mais esperta entre nós dois. Me colocou contra a parede, e percebeu que eu só estava sendo um fraco, sacrificando nosso casamento só para vê-la feliz. Nunca passou pela minha cabeça que ela poderia ser feliz comigo do jeito que eu era.
Eu vejo Kemal limpar uma lágrima rapidamente, sorrindo para disfarçar.
— Nunca mais menti sobre nada para ela. Se eu estava triste, estava triste. Feliz? Feliz. Com raiva, com raiva.
— Obrigada por me contar sobre isso, tio. Imagino que não tenha sido fácil relembrar, se eu soubesse...
— Imagina, querida. No final tudo se resolveu, sim? Ganhamos uma filha. — ele cutuca minha testa e eu solto uma risada. — E um filho, olha só! Dois em um.
Kemal volta para as atividades dele, e eu decido não prolongar o assunto. Antes de sair do ambiente em que ele estava, me chama.
— Está tudo bem entre você e Alexandre?
Sorrio.
— Claro! Eu só... perguntei porque nunca tive a chance de conversar sobre casamento com ninguém, e bom... é o meu primeiro. A chance de alguma merda acontecer é enorme. E para mim... para mim casamento é para sempre, tio.