Eu abro a porta para Naz e Asya entrarem no apartamento vazio e vejo as expressões surpresas ao constatarem que de fato eu estava ali, e não da minha mansão com meu marido. Elas entram em silêncio, confusas e esperando.
— Obrigada por virem. — eu falo, fechando a porta logo em seguida.
Já vivemos cenários assim, lá no começo de nossa amizade, quando me mudei para esse apartamento e sentamos no chão com salgadinhos e cervejas baratas só para comemorar minha conquista. Dessa vez tínhamos vinho e queijos, nossos gostos mudaram, e os assuntos também.
— Está tudo bem, Gio? — Naz é a primeira a perguntar. — Aconteceu alguma coisa? Quando ligou depois de dias sem responder nossas mensagens eu juro que morri de medo.
A pergunta é o que me quebra. Se antes eu pensava que não sentia nada, os braços de Asya e Naz me trouxeram para a realidade com a segurança de que eu podia sentir tudo. Minhas lágrimas escorreram em silêncio, e elas me dão o tempo que eu preciso.
Eu não sei em que momento eu paro de chorar, quando sentamos no chão e nem sequer quando eu termino de falar tudo que aconteceu no dia do casamento, toda história. Só sei que elas me olham atônitas, quase agoniadas com tudo que eu falava.
Meu apartamento vazio nunca ficou tão cheio na vida.
— Giovanna... eu não sei nem o que dizer... tudo parece tão surreal. — Asya fala, acariciando minha perna, mexendo no meu cabelo. — Vocês falaram sobre isso na viagem?
— Eu não queria estragar um dos melhores momentos da minha vida. Itália sempre foi um sonho.
— E agora?
Olho para Naz, balanço os ombros.
— Agora estou aqui, com vocês.
— Querendo estar com ele.
— Eu não sei, Naz.
— Gio, só pelo fato de ter seguido em frente com esse casamento... é claro que falou sobre vingança, mas da para ver no seu olhar que não é só isso. Seu pai, Hakam, dívidas, pouco importa isso tudo quando eu sei que você olha para dentro e ainda se encontra apaixonada por Alexandre.
— Eu não pensei que iria defendê-lo.
— Acho que Naz não está defendendo. — Asya interveio. — É claro que o que ele fez foi errado, ele deveria ter te contado, mas também não sabemos como as coisas são resolvidas nesse mundo, e talvez ele tenha ficado desesperado com a ideia de perder você. De ver você pagando pelo erro do seu pai.
— E ele fez bem. Esse Hakam estava te procurando no Ataturk. Ele foi até o casamento só para jogar a verdade, é claro que essa rinha entre ele e Nero é séria.
— Eu ficaria mais tranquila se voltasse para a casa do Alexandre, ao menos lá tem segurança 24 horas. — Asya complementa. — E honestamente? Esse homem salvou sua vida, Giovanna. Me arrepia só pensar naquele asqueroso fazendo algo com você.
— Eu disse que voltaria em dois dias.
— Para que? Volte hoje, eu não vou ficar tranquila em saber que está sozinha aqui.
As palavras ficam em minha mente, e eu de fato não tinha parado para pensar que o perigo que Hakam representava não tinha ido embora ainda. Não sabia se ele ainda nos perseguiria de alguma forma, se eu estava de fato segura. Meu pai que se lasque, eu não poderia estar com mais desgosto. Poderia deixar ele mofando naquela clínica.
