XLVI

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Chegar em Istambul antes de Giovanna me dava tempo de ajeitar as coisas antes de sua chegada. Seria uma grande surpresa para minha mãe a existência de um neto. Omar se esperava no aeroporto com os braços abertos. Abraço meu amigo com força, com  a alegria de um pai na maternidade sabendo da saúde de seu herdeiro. Olho para ele, toco seu rosto, dou uma risada. Percebo que é a primeira vez que compartilho as boas novas dentro da minha vida. Antes eu estava na dela, e agora estava na minha, e mesmo que essa separação ainda me incomodasse, a verdade era só uma: nossas vidas iam se unir de novo.

— Que alegria, Alexandre, tudo isso é felicidade  em me ver?

— Irmão, irmão... Você é tio! Eu sou pai, Omar.  Tenho um filho com Giovanna! Sim? Você é tio!

Omar  me olha confuso como  se eu tivesse  ficado louco. Talvez um pouco.

Agora não era só Giovanna, não era só seu cheiro, sua voz e sua risada. Agora Inha a extensão dela para povoar meus sonhos mais infantis.  Um menino perfeito, uma mistura minha e dele.

— O nome dele é Emir Can. — eu falo, mostrando as fotos assim que Omar começa a dirigir.

— Que loucura é essa, meu amigo. Como  assim grávida, ela não falou absolutamente nada sobre isso  naquela época...  Minha nossa!

— Isso não importa, Omar. Esqueça, aquela época morreu, esqueça. Olha meu filho, é a minha cara, não é?

Omar ri com meu entusiasmo.

— É a sua cara, meu amigo. Eu quero ver a cara de sua mãe, isso eu quero.

— Giovanna vem para Istambul com o menino, vai deixar ele comigo enquanto resolve as coisas no Ataturk.

— E como foi revê-la?

— Foi ter a certeza de que eu nunca deixei de amar essa mulher.

Quando Omar embica o carro no portão tão conhecido, sinto minhas mãos suarem como se eu fosse um adolescente que engravidou a namorada. A verdade era que a relação com minha mãe nunca mais foi a mesma depois que eu despachei Giovanna sem motivo nenhum. Provavelmente a lembrou do falecido ex marido, atitudes abomináveis iguais, coisa que ela não esperava do menino que criou com tanto carinho.

A casa que antes foi meu refúgio, que antes eu imaginei anos e anos com Giovanna, hoje parecia fria perto do seu pequeno apartamento em Florença, perto do calor da Umbria.

E parecia extremamente americanizado desde que George passou a morar aqui também, mas isso era mais uma crítica pessoal mesmo.

— Fiquei feliz com a sua ligação, meu bem. Você estava tão estranho no telefone, fora essa viagem repentina para Itália e eu...

— Mãe, eu reencontrei a Giovanna.

Um silêncio tomou conta do ambiente, nós dois sentados em lados opostos na sala, tudo isso trazia um ar desconhecido, um terreno perigoso. Quando digo que minha mãe ficou possuída de raiva quando soube de minha atitude, era quase eufemismo. Depois, porém, quando Omar falava sobre meu estado deprimido, a decisão demorar de novo na Turquia estava tomada. Por mais que ela tivesse raiva de mim, não queria perder o único filho.

— O que disse?

— Fui para Itália para ver uma exposição de Giovanna, mãe.

— Você foi perturbar como um fantasma, Alexandre?

— Não! Mãe, esse não é o ponto... Giovanna teve um filho. Meu filho.

Consigo deixar a mulher mais em choque.

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